O
Sporting estreou-se esta terça-feira, com um brilhante triunfo na Liga dos
Campeões - 2024/25, ao vencer em casa os franceses do Lille por 2-0, em
encontro da primeira jornada, com golos do sueco Viktor Gyökeres, aos 38
minutos, e o belga Debast, aos 65.
Os gauleses terminaram jogo, com menos um jogador, por
expulsão de Angel Gomes, aos 40. Em todo o caso, a vitória sportinguista, foi
plenamente justificada.
O próximo jogo, dos
oitavos, da equipa liderada por Rúben
Amorim, vai disputar-se em 01 de outubro, no reduto do PSV Eindhven
Américo Barros é o novo presidente do MLSTP/PSD. Venceu o congresso eletivo do partido este sábado com 312 votos contra 214 de Gabdulo Quaresma. António Quintas ficou em terceiro lugar com 127 votos enquanto que Agostinho Rita conseguiu apenas 22 votos.
Economista e ex-governador do Banco Central, Américo Barros promete unir os social-democratas rumo à vitória nas legislativas de 2026.
«O nosso foco tem de ser a unidade. Temos de trabalhar juntos para o bem do nosso glorioso partido. É o momento de deixarmos as diferenças e querelas para trás e nos confluirmos em prol de um futuro melhor para todos os santomenses. Tudo faremos para devolver a dignidade e o bem-estar ao povo de S.Tomé e Príncipe. E aos jovens, tudo faremos para devolver-lhes a esperança e o direito de sonhar»
-
Manuel Pinto da Costa, diz que é preciso redefinir a cooperação com os parceiros internacionais e adotar a cultura de prestação de contas no país. - Palavras proferidas no recente congresso do MLSTP- PSD
Manuel Pinto da Costa reuniu o novo líder do MLSTP e os candidatos vencidos no último congresso para pedir união como única forma de dar outro rumo ao partido para melhor servir São Tomé e Príncipe. - E deixou as suas reomendações
S. Tomé e Príncipe, tem quadros no interior do país! E há muitos quadros que estão a sair do país, porque não têm condições de fazerem ver, que, estão lá para trabalhar e desenvolver o país…. E têm que emigrar.
O facto de se pertencer ou não pertencer ao mesmo partido, não conta… Mas a gente que tem qualidades para isso…Os ministros e os diretores, devem ser figuras que têm qualidade suficientes para ocuparem esse lugar. – disse”
Nascido na Guiné-Bissau e filho de pai
cabo-verdiano e de mãe guineense, Amílcar Cabral é líder e o herói incontestado
da luta pela independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau.
O autor de
" A verdadeira morte de Amílcar Cabral" , afirmou-nos numa breve
entrevista, há uns anos, na Casa Internacional de Tomé e Príncipe, que “Há
muita lenda acerca da morte de Amílcar Cabra, do l líder do PAIGC:
Amílcar não
foi morto por ser bandido ou por ser traficante de droga: Amílcar Cabral foi
morto por ser um homem político por certas etnias que lutavam contra Amílcar
Cabral
Foi morto a tiro, em Conacri, na noite de 20 de janeiro de 1973, por
dois membros do partido político que ajudou a fundar, em 1959, o Partido
Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, PAIGC, a poucos meses antes da proclamação unilateral
da independência da Guiné-Bissau
MAIS LENDAS DE QUE CERTEZAS – MAS, PARA TOMAZ MEDEIROS, O ASSASSINO TEM UM NOME Tomás Medeiros, o poeta santomense, antigo médico e general do MPLA, no período da guerrilha, acusa Nino Vieira por ter sido o mandante do assassínio da morte de Amílcar Cabral
Culpou-se o exército português e a PIDE, não é que vontade não falasse ao regime colonial, e, pelos vistos, até chegou a desencadear operações nesse sentido, mas, afinal, os maiores inimigos do fundador do PAIGC, estavam no interior das suas próprias fileiras.
E, de facto, se dúvidas existiam acerca da origem do assassinato de Amílcar Cabral, na altura em que o atentado se deu, agora, volvidos 50 anos, bastaria atentar na série de mortes fratricidas ocorridas no seio da classe política guineense – Tal como já alguém referiu, por altura dos 40 anos sobre a morte de Amílcar Cabral, “O pai da Guiné-Bissau não assistiria ao seu nascimento como Nação e desde então os seus ideais têm sido muitas vezes traídos, numa multiplicidade de mortes póstumas
“ A segunda morte de Amílcar Cabral ocorreu com o golpe de Estado em que Nino Vieira depôs o então presidente Luís Cabral (meio-irmão de Amílcar) e pôs fim ao grande projecto de fazer da Guiné-Bissau e de Cabo Verde um único país capaz de resistir às pressões dos vizinhos Senegal e Guiné-Conacri. Seria a primeira de muitas mortes póstumas.
CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE AMILCAR CABRAL - ASSINALADO COM VÁRIAS INICIATIVA EM PORTUGAL
Em Lisboa, a Casa da Cultura da
Guiné Bissau promove com outras associações iniciativas ao longo do mês. lugar na Torre do Tombo o 1º Encontro de Artistas e Escritores
Guineenses.
No mesmo local, no dia 27, realiza-se um Colóquio sobre
o Legado Cultural de Amílcar Cabral. Nos dias 25, 28 e 29 de
setembro a Casa do Comum acolhe o ciclo de cinema "Caminho de N'tchanha”.
E também na Torre do Tombo, já é possível visitar de segunda a sexta até
11 de outubro a Mostra Documental “Luta e Liberdade: 100 anos do nascimento de
Amílcar Cabral”, e observar documentos do seu processo individual da PIDE,
das suas atividades de luta pela independência dos estados africanos, da sua
participação em vários fóruns internacionais e alguns objetos de propaganda do
PAIGC, além de alguns telexes censurados e imagens da cobertura noticiosa na
imprensa portuguesa na altura da sua morte.
Amílcar Lopes Cabral, nasceu em Bafatá, Guiné Portuguesa, atual Guiné-Bissau, em 12 de setembro de 1924 — Faleceu em Conacri, 20 de janeiro de 1973 - Filho de Juvenal Lopes Cabral (cabo-verdiano e de Iva Pinhel Évora (guineense de ascendência cabo-verdiana, onde o seu pai foi colocado à época, como professor.
Engenheiro agrónomo e escritor, considerado o ideólogo da independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, então colónias portuguesas. Durante a sua carreira, destaca-se no cargo de secretário-geral do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) em 1956 e como fundador da Assembleia Nacional do Povo da Guiné em 1972, grande passo para a independência.
QUEM COM FERROS MATA, COM FERROS MORRE - TOMAZ MEDEIROS ACUSA NINO VIERA DE TER SIDO O MANDANTE DO ASSINIO DE AMILCAR CABRAL
Nino Vieira
Amilcar Cabral
Diz um velho ditado popular que quem com ferros mata, com ferros morre. Pelos vistos, assim teria acontecido à trágica morte de Nino Vieira - Assassinado, no inicio de Março de 2009, por militares depois de um atentado à bomba ter provocado a morte ao chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié.
Tomás Medeiros, o poeta santomense, antigo médico e general do MPLA, no período da guerrilha, acusa Nino Vieira pelo assassínio da morte de Amílcar Cabral
Tomás Medeiros, autor de várias obras contra o colonialismo, de poesia e prosa em prospetos, autor do romance “O Pseudo-socialismo em Angola e uma novela, dedicada ao mesmo tema a S. Tomé e Príncipe. A sua última obra, foi publicada em 1012, com o título A Verdadeira Morte de Amílcar Cabral
De seu nome, António Alves Tomás Ribeiro, filho de José Tomaz Alves de Medeiros e de Polónia Tomaz de Almeida, nasceu em S. Tomé no dia 5 de Novembro, de 1931. Terminada a instrução primária, aos 13 anos, e, tal como a generalidade dos santomenses, como os seus pais, não tinham possibilidades económicas, começou a trabalhar numa barbearia, como vendedor de jornais e vendedor de carvão, depois numa loja comercial. Porém, nada disso lhe interessava, a sua vocação era outra: destinos ousados o aguardavam. Então os seus pais mandaram-no para Nova Lisboa, Huambo, onde fez o primeiro ciclo liceal, após o que, três anos mais tarde, parte para a capital do Império para concluir os dois anos que lhe faltavam e inscreve-se na Faculdade de Medicina - De nada lhe valeu: como estava ligado à atividade politica, foi denunciado pela PIDE e por uma organização da extrema direita, como sendo um dos estudantes comunistas mais perigosos em Portugal, o que lhe valeu um mandato de captura – Para não ser preso, fugiu para Moscovo, onde cursa medicina, trabalha como locutor na Rádio de Moscovo, é Secretário-geral dos Estudantes Africanos na Europa, Secretário-Geral dos Estudantes Africanos na União Soviética, colaborador da Academia das Ciências e investigador numa biblioteca.
Três anos depois parte para Crimeia onde conclui o curso de medicina . Não sendo obrigatório o exercício da profissão para os estrangeiros, paralelamente faz a cadeira de latim e vários cursos de formação política: o Curso de Academia política, o de História do Partido, de Marxismo Leninismo e o Curso de Medicina Militar - Volta ao continente africano, a Brazzaville, onde o MPLA tinha a sua sede. Dali parte para Cabinda onde é médico militar e dos refugiados, professor de instrução revolucionária, tendo chegado à patente de General – Oportunidade de alto combatente que lhe deu a possibilidade de privar com todos os líderes históricos dos movimentos de libertação: desde Agostinho Neto, Amilcar Cabral, Ângelo Cabral, Francisco Tenreiro, Fernando de Sousa, Marcelino dos Santos, Eduardo Mondlane - Reconhece que a sua relação, com S. Tomé e Príncipe, era muito estreita, porque, naquela altura, os elementos envolvidos na guerrilha, não tinham possibilidade de viajar, tendo ido lá apenas duas vezes mas em viagens muito curtas
.
Posterimente recebi de Nuno Rebocho – jornalista, escritor, poeta, organizador de vários eventos de poesia, atualmente a viver em Cabo verde, que me transmitiu a seguinte opinião: Meu caro, esta tese corresponde ao que eu, em grande parte, penso. É preciso ver como a destrinça de classes no seio do PAIGC determinou tudo isso (os cabo-verdianos, mais cultos, iam para a liderança ou para as universidades do Leste, enquanto os guineenses iam puxar o gatilho; o crioulo - de origem cabo-verdiana - era uma espécie de "esperanto", ou "minderico", para as muitas etnias se entenderem sem o portuga perceber, etc). Há toda uma série de factos que apontam nesse sentido. Essa história de Amilcar ter sido morto pela PIDE é um mito que não resiste às análises e não acreditei nela desde o início. Lembro-me que, então, preso em Peniche discuti largamente o assunto com o Francisco Martins Rodrigues...
Escura é a noite, escuros os caminhos dos mares e dos céus que se me abrem em todas as direções....E também escuros serão certamente os caminhos que me conduzirão a Deus... “O tormento no meu coração me dá alegria; que a esperança enganosa fique longe de mim”
Si dolce è’l tormento Ch’in seno mi sta, Ch’io vivo contento Per cruda beltà. Nel ciel di bellezza S’accreschi fierezza Et manchi pietà: Che sempre qual scoglio All’onda d’orgoglio Mia fede sarà.
"Tão doce é o tormento que dentro de mim está. que eu vivo contente por cruel beleza; No Céu de beleza cresce a frieza e falta piedade"
Escura é a noite, escuros os caminhos dos mares e dos céus
que se me abrem em todas as direcções....E também escuros
serão certamente os caminhos que me conduzirão a Deus...
Vou indo à deriva, sereno e grave, sem precisar de ninguém
Pois, mesmo que precisasse, ninguém me estenderia a mão!
Atento e indiferente - Vestido com as vestes da nocturna solidão.
Absorto com a crua verdade transfigurada do assombro!
As trevas adensam-se na atmosfera e, por tão habituais,
quase já não me impressionam, não me comovem.
Fazem o seu percurso. Eu vou no seu seio mas não sei bem qual é o meu...
Sim, as sombras estão por todo o lado e também invadem o meu coração!
- Vagueio sem destino com a coragem e o medo que ainda não sei vencer.
Não recuo a nada....Porque, enquanto tiver algum medo é sinal de que vivo....
Vou indo com o soooar do mar! Com o mar que soa! Com o mar que brâaame!..
Vou indo, derivando com o mar que voa!... Com o mar a bramaar!
Sou o cavaleiro andante sonhando acordado!... Sonhando cavalgando
este vasto largo, neste imenso mar!... Sonhando e cavalgando o mar..
porque, ao sonho, não há limites nem barreiras
e a noite acompanha-me nos meus sonhos,
os astros estão ocultos, longínquos e escondidos,
o silêncio foi submerso pelo rugido do vento e do mar,
só a roupagens da noite, as tenho por únicas companheiras!..
Mas, ó piedade impiedosa dos céus!..
Nenhum sinal de vida! Ninguém...Vivalma!
Só as vagas.... e atrás das vagas, outras vagas ainda!
O vento soluça e geme. Perpassa-me pelos ouvidos
como um fino acorde - Estou envolto nele.
Sonâmbulo abandono o meu, estranha vida!...
Onde irei numa noite de breu assim?!.. A que distância
haverá um porto de abrigo?!... As nuvens correm
sobre a minha cabeça, galopam enroladas e escuras!..
Quase me esmagam e sufocam!.. Em que ponto
do mar ou do céu poderei pousar o meu olhar?!..
Bravio deserto! espectral cenário! - Estranha e cruel beleza!
Quem se compadece de mim?!... Tão prolongado já vai
o sofrimento, a angústia que me aplaca e não se esvai,
que, de tanto penar neste deserto varrido e sombrio
e, dos céus cerrados, vir somente a indiferença e a frieza,
sim, tamanha já é a minha dor, a amargura intensa que não se me apaga,
que, esta contínua incerteza, este permanente amargo sofrer,
este resignado sentimento que me fustiga e perturba,
se transforma, simultaneamente, não só em persistente dor
mas também num misto de sereno e doce contentamento!
Como se eu fosse - mesmo diluído e errante como as sombras-
O Deus de mim próprio e das escuras névoas, o meu próprio Criador!
É o vento, são as vagas!
Há um marulho que tumultua, se levanta e uiva.
Soergo-me ajoelhado, tímido levanto o húmido oleado
com que cubro a piroga, envergando ainda a capa com que durmo, debruço-me sobre a frágil borda,
espreito por uma nesga o que vai lá fora,
olho a noite de olhar turvo e arregalado
para descortinar o que vai ao largo....
É o fuzilar de relâmpagos e mais relâmpagos
a rasgar negridão. Fico preocupado…
Além dos sinistros raios a incendiar o mar, além de mim,
nada mais ouço que o uivar do vento e, nos confins, agora o trovão!
Nada mais enxergo que manchas difusas!
Vultos disformes! …Vultos montanhosos!
E, atrás desses vultos, alterosos e escuros, outros maiores se enrolam!
Ameaças fugidias sobre a imensa e negra vastidão!....
Em vão perscruto o denso horizonte,
a ondulante massa que meus olhos cega e turva...
Em vão, neste longo tormento, nem a lua
nem as estrelas, dão sinais da sua existência.
Só farrapos de penumbra!... Espessas névoas
que pairam à superfície lívida e líquida!
Novelos fantasmagóricos, baixos e fugidios
que se movem como se fossem navios fantasmas!..
Nenhum raio de luz vem do alto!.. E, no entanto,
as águas enrolam-se e refletem um brilho baço!
Não há uma aberta, um assomo de claridade!..
Por isso, sinto-me agora mais triste, sozinho e abandonado!
Imerso numa paz podre e angustiante, tendo por cenário,
um quadro que tem tanto de sombrio, como de horrível e belo!
Traz nas pastosas vagas que se revolvem e quebram ao meu lado,
ameaça iminente de mais umas longas e atribuladas horas de vigília!
De sono perdido, enfrentando as sucessivas investidas!
Que nunca se sabe donde vêm e donde partem!
O que eu sei é que o ambiente do mar
e da noite se altera, as vagas encrespam-se!
Quando é de dia, vê-se donde vêm as ameaças!
Porém, quando à escura noite, sobrevém o tornado
ou a tempestade, tudo é medonho!...- Não há palavras!..
Vento e vagas! negros estão os mares e os céus!
Dentro de mim, onde vogo, em redor ao largo e ao alto
reina a solidão e o peso da noite mais funda! - Estou só!
Angustiado, face ao abandono do mundo e de Deus.
Estômago a dar horas, encolhido e vazio como um fole!
Em vão aperto o cinto, martirizado por fome atroz!
Sequioso de água potável - Corroído e atormentado
pela sede - No equador o sol é a pino! Agora que eu faço?!..
Água potável, só a das chuvas ou recurso à do salgado mar!
Oh, sim!..Dorido das chagas, as feridas da muita humidade,
das pústulas que me cobrem as partes! Vogando enfim
por caminhos ínvios que eu não sei - Silente e prostrado,
taciturno no fundo de mísero esquife que flutua- Deste caixão
vergastado vogando na solidão de escuras águas de espuma!
Solitário e silencioso, nem um murmúrio balbucio mas sofro.
E choro por vezes as lágrimas sofridas da minha cruel sorte.
Errando na confusa superfície, derivando à toa e sem norte!
Qual vida sem rumo ou névoa que se esbate, esvai desfaz ou apaga.
Qual moribundo! Qual Cristo que espia descido da cruz do calvário!
Não desesperado, não rendido mas já mais inseguro e menos calmo,
sem que alguém me responda, inquieto, pergunto ao meu coração:
- Serei apenas a onda fugidia que se ergue franjada e se desfaz?!..
O espectro diluído e esfumado, a alma errante de outro mundo?!..
Afinal, o que serei eu à flor deste mar negro fugidio e encapelado?!...
Serei o homem só no vasto oceano revolto vogando perdido
à espera de cair no tumultuoso negrume da mais horrível tumba,
envolvido pelos dedos crespos do mais insondável poço ou abismo?!..
Ó negros e opacos céus, ó negros e corridos mares!...
- Longe já vão essas noites nas densas trevas envolto
pelo bafo permanente da aragem viscosa da morte,
as vergastadas ou os salpicos violentos da salgada espuma!
Todavia, quão perto os tenho ainda na minha memória!
Quão posso agradecer a Deus e aos Céus, a minha sorte!
Jorge Trabulo Marques
(...) Devem ser oito horas... É noite do 30º dia. Choveu, como previra, no fim de tarde. Por acaso apenas foram os reflexos de uma trovoada que deve ter ocorrido, lá para longe, lá para o sul... Mas as vagas estão demasiado fortes!... O que veio realmente dar um certo desequilíbrio à canoa.
Há formações de nuvens negras a norte, noroeste...Vejo que algumas estão realmente a deitar chuva.Noutras bandas....vê-se a escuridão. E, para o sul, não sei se ainda terão chuva....Espero...Só peço a Deus que a noite não seja chuvosa.....Porque é muito chato...
Não comi nada...Quer dizer, limitei-me a comer as barbatanas do tubarão que tenho aí. Tentei pescar mas não consegui absolutamente nada!... Hoje, digamos, é um jejum limitado a água.... Não pude arranjar mais nada, visto ter estado ocupado quase todo o dia com o remo improvisado para dar a direcção à canoa..."Excertos do meu diário de bordo - registado para um pequeno gravador que preservei no interior de um antigo caixote do lixo - O meu baú - imagem ao lado
A terminar ocorre lembrar-me de uns poemas de Henri Michaux - Sim, houve noites e dias, em que cheguei a desejar o fim do meu calvário:
"Náusea ou é a Morte que se Aproxima"
Rende-te, coração.
Lutámos tempo de mais,
Que se acabe a minha vida,
Não fomos cobardes,
Fizemos o que pudemos.
Oh! Alma minha,
Ou ficas ou vais,
Tens de te decidir,
Não me apalpes assim os órgãos,
Ora com atenção, ora com desvario,
Ou vais ou ficas,
Tens que te decidir.
Eu, por mim, não posso mais.
Senhores da Morte
Nem vos aplaudi, nem blasfemei contra vós.
Tende piedade de mim, viajante de tantas viagens sem
bagagem,
Sem amo, sem riqueza, sem glória,
Sois de certeza poderosos e ainda por cima engraçados,
Tende piedade deste homem transtornado que antes de
ATRIZ GRAÇA LOBO - Partiu para o limbo dos justos - A Caminha da Eternidade ! Uma grande Atriz - Frontal, desinibida, generosa e frontal! - À família enlutada o meu proundo e sentido pesar. - Deu-me o grato prazer de me receber em sua casa e de com ela iniciar uma série de entrevistas para o jornal Tal & Qual, em 1981, sobre temas amorosos - Graça Lobo morreu na madrugada de segunda-feira, 9 de setembro do corrente ano 2024
O repórter ao lado do poeta Mário Cesariny - Com o qual estabeleceu laços de muita estima, amizade e admiração
ATRIZ GRAÇA LOBO 02 -04-1939 – 09-09-2024- Deu-me o grato prazer de me receber em sua casa e de com ela iniciar uma série de entrevistas para o jornal Tal & Qual, em 1981, sobre temas amorosos - Graça Lobo morreu na madrugada desta segunda-feira, 9 de setembro.
Graça Lobo estreou-se na Casa da Comédia no espetáculo “Noites Brancas” quando ainda era aluna do Conservatório. Passou pela companhia do Teatro Estúdio de Lisboa e do Teatro Experimental de Cascais e fundou, em 1979, a Companhia
Foi com atriz, Graça Lobo, que , em 1981, o Tal & Qual, iniciou, com a minha colaboração, uma série de entrevistas sobre temas amorosos – entre os quais a primeira relação sexual, com figuras conhecidas do público português: Desde Raúl Solnado, até Vitorino de Almeida, passando por Ivone Silva, Amália Rodrigues, Carlos Botelho, professor Oliveira Marques, Ary dos Santos e muitos outras. Pela Primeira vez, eles revelaram publicamente as circunstâncias em que ocorreu a sua “primeira vez
Graça Lobo, começou por me confessar” “Lembro-me vagamente do meu primeiro namorado: era louro, alto, olhos azuis, espadaúdo. O ideal!... Não foi agradável. A primeira experiência sexual nunca é agradável, penso eu. Dá-me mesmo sexual chega a ser. Agora, as raparias começam a namorar aos doze. Eu comece lá para os 15 ou 16. Foi nessa altura a primeira vez.
GL Em que circunstâncias?
Lembro-me perfeitamente, até porque consumo assumir as coisas que faço. Nessa altura ainda era pouco normal uma rapariga de certo nível, digamos, não aparecer virgem no casamento. Eu aos vinte anos, não casei virgem, mas assumi o facto com naturalidade e acho que isso hoje acontece com toda a juventude. Quando aconteceu a primeira vez assumir livremente a responsabilidade do que estava a fazer.
JTM- Durou muito tempo o seu primeiro namorado?
GL – Não, não durou. Essas coisas, de resto nunca duram muito tempo. Talvez seis meses ou coisa assim. Seguiram-se outros namoricos, evidentemente. Namoricos da juventude. O meu primeiro casamento também não durou muito tempo
Estas algumas palavras do início do diálogo que tive o prazer de ter em sua casa, da extensa entrevista que ocupou duas páginas do Tal& Qual.
Graça Lobo destacou-se como atriz e encenadora. Ao longo de uma carreira de quase 50 anos, representou sobretudo textos que definiram o teatro contemporâneo, de dramaturgos como Luigi Pirandello, Samuel Beckett, Jean Genet ou Harold Pinter
GRAÇA LOBO – Grande artista, mulher sincera e desinibida.
_ Nascida em 12 de abril de 1939, Graça Lobo destacou-se como atriz e encenadora. Ao longo de uma carreira de quase 50 anos, representou sobretudo textos que definiram o teatro contemporâneo, de dramaturgos como Luigi Pirandello, Samuel Beckett, Jean Genet ou Harold Pinter. O seu desempenho de "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen, foi um dos seus maiores sucessos.
Estreou-se na Casa da Comédia, em fevereiro de 1967, nas "Noites Brancas", de Dostoievsky, com encenação de Norberto Barroca, quando ainda era aluna do Conservatório Nacional
Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu a 9 de agosto de 1923, em Lisboa. Faleceu no dia 26 de Nov de 2006 -Foi poeta, pintor, tradutor e considerado um dos grandes Mestres do Surrealismo Português.
OS POETAS NÃO MORREM... MÁRIO CESARINY - É UM DELES! - Oh Meu Cesariny! Como o tempo corre? Como a vida foge! - E, todavia, até parece que foi ontem!
Já lá vão uns anos – mais de vinte ! –
Oh Meu Cesariny! Como o tempo corre?
Como a vida foge! - E, todavia,
até parece que foi ontem! - Um repórter de rádio,
pequeno gravador na mão, atrás do imprevisto,
do inesperado, vagueando na solidão da noite húmida e fria,
quase despovoada de vida e de luz, na mira de algo
que valesse uma noite perdida! - E, um poeta, ateado pelo fogo
e a rebeldia dos seus mais cruéis demónios, fidelíssimos amantes
de inspiração altíssima nas horas mais solitárias e incandescentes,
tocado pelos deuses de Olimpo: Hermes, Apolo e Dionísios
- de quem era ao mesmo tempo enteado e dilecto mensageiro,
atraído pelas tentações e volúpias de uns e outros,
qual viajante solitário em busca de “ palavras
e nocturnas palavras gemidos,
palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever”..
Oh, sim, o inseparável apaixonado “dos braços dos amantes”
que “escrevem muito alto”
Muito além do azul onde oxidados morrem”
O insólito sonâmbulo que vai peregrinando, sem âncora
e sem bússola, de olhos fechados, mas com um grande à-vontade
de quem já trata por tu as avenidas, ruas e os mais discretos becos,
esventrando, por instinto nato, os seus mais recônditos recantos,
fazendo deles o centro do mundo,
e que, tão depressa neles é visto e aparece
aureolado com o brilho de uma estátua em jardim iluminado,
como, imediatamente, se transfigura e funde
ou, mesmo, como súbita névoa que ao pousar
se dilui na atmosfera e no ar desaparece!
Vale a pena, pois, rever os passos de tão singular figura!
Passeando-se, com a subtileza de um mago,
ou com a altiva nobreza de um Príncipe encantado,
por lugares proibidos – devassando
os escombros das “sombras
que têm exaustiva vida própria”.
Indiferente às aparências, ao escárnio severo,
alheio aos múltiplos perigos e maledicências
que, nas horas mortas, no pico das horas
mais furtivas e silenciosas,
poderão reaparecer ou ressurgir
quando menos se espera: no dobrar de cada esquina
ou num passo mais em falso ou descuidado! Desafiando
convenções sociais, a censura alheia,
não se importando “de ser visto
na companhia de gente
altamente suspeita!”
Meu Caro Cesariny:
Como sabe, na vida há um tempo para tudo:
Há-o para o amor, a sensualidade, a poesia - para tudo
há o tempo que o homem quiser fazer enquanto for vivo.
E, também, após a morte! – há um tempo para o repouso absoluto!
- Este agora é o seu tempo! O do indomável guerreiro
ter também o justo descanso! – O do luminoso poeta ,
ao descer, lentamente, à Terra, que o criou,
subir, em espírito e, talvez também, em corpo inteiro,