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terça-feira, 1 de outubro de 2024

São Tomé e Príncipe e meus dias de escravo nas roças, em finais de 1963 – Vídeo de 2014 - A nacionalização das roças ocorreu a 30 de setembro 1975 – Data histórica, assinalada com feriado nacional alusivo ao dia em que, os feudos coloniais- onde fui empregado de mato - passaram a pertencer ao novo país independente após o 12 de Julho

                                                               Jorge Trabulo Marques 

Praia do Uba-Budo - 2014
















Uba-Budo 1963

O último Ministro do Ultramar foi Baltazar Rebelo de Sousa, pai do atual Presidente, que, nas visitas, em 1974-01-22,  à Guiné-Bissau e a Cabo Verde, ainda veio tecer maiores elogios ao repressivo regime colonial e a desejar perpetuá-lo, em vez de pugnar pelo exemplo das restantes potências coloniais.







Esta uma das leis do meu tempo” o patrão que der uma bofetada num indígena pode ser punido pelo artº 346º ( do Código Trabalho dos Indígenas) mas tanto este castigo como as palmatoadas, que não causem doença e nem provoquem  impossibilidade de trabalho, dadas com sentimento paternal, por motivos atendíveis, são vistos com reserva pela autoridade”

Mesmo que o patrão mereça censuras e sanções o trabalhador queixoso deve o muito vagamente aperceber-se  dessas sanções, pois caso contrário,  temos mais um frequentador assíduo da  Curadoria, e o patrão em ser desprestigiado


2014 

EM S. TOMÉ E PRÍNCIPE – O REGIME COLONIAL FAVORECIA UNICAMENTE OS ROCEIROS E SEUS ADMINISTRADORES – Além dos funcionários públicos.  

A guerra colonial podia ter sido evitada se o regime salazarista e marcelista, tivesse criado uma elite africana e seguido os ventos da descolonização que já se haviam levantado noutras potências coloniais.

Portugal, recusou negociar com os movimentos de libertação que se desenvolveram, nos anos cinquenta, em Angola, Moçambique e Guiné/Cabo Verde, atirando o país para uma guerra que viria provocar milhares de vítimas de parte a parte.

Roça Rio do Oiro 1977 
2014

A revolução do 25 de Abril e as nacionalizações   - Foram feitas nas propriedades alentejanas e em várias empresas – Face ao abandono das roças, com a descolonização, e, como “as roças pertenciam a empresas que com o 25 de abril tinham sido todas nacionalizadas em Portugal.

Manuel Pinto da Costa, líder do MLSTP,  que tinha assumido a Presidência da jovem nação a 12 de julho de 1975, dois meses antes da nacionalização das roças, diz que o país não tinha outra escolha.


As roças pertenciam a empresas que com o 25 de abril tinham sido todas nacionalizadas em Portugal. Depois da independência não tínhamos outra alternativa” Recordou  Pinto da Costa.

De facto, as administrações das grandes propriedades agrícolas nunca valorizaram a mão-de-obra dos forros, dos filhos da terra. É verdade que nunca foram além de meros capatazes, excetuando alguns mulatos, filhos dos brancos administradores ou feitores gerais. 


 Fala-se muito, mas desconhece-se o essencial: que eram campos de escravatura. Trabalhei nesses feudos: na Roça Uba-Budo, na Roça Ribeira Peixe e na Roça Rio do Oiro 

Conheci bem a dureza da vida, nessas grandes propriedades, quer para os chamados serviçais, quer para os nativos que ali iam fazer os mesmos trabalhos, mas também para os empregados de mato, que eram igualmente escravizados, mal pagos e que apenas tinham direito à chamada graciosa, de quatro em quatro anos

Não fui à procura de fortuna mas para concluir um estágio de Agente Técnico Agrícola, da Escola Agrícola Conde S. Bento, em Santo Tirso – Não me tendo enquadrado nos métodos repressivos e prepotentes do então sistema colonial, só mais tarde o pude concluir no serviço militar, quando ali fui encarregado da agropecuária do CTISTP. 

 Estive lá alguns meses até ser transferido de castigo, a contar caqueiros velhos, na zona de cobra preta, ao sul de São Tomé, na Roça Ribeira Peixe, por me ter recusado a tratar os serviçais por tu ao velho estilo colonial – Vive 12 anos em S. Tomé mas nunca lá voltei àquela roça, tão más eram as memórias – Senão 39 anos depois  de ter deixado esta Ilha há 39 anos, em Nov de 2014.



Pena é que esse património não tenha sido devidamente aproveitado. Todos os anos se anunciam novas iniciativas, mas sem grandes resultados práticos. No entanto, na Ilha do Príncipe, já se produz mais pimenta de que no tempo colonial

Cooperativa Nacional de Exportação de Pimenta e Baunilha, fundada em 2008 e localizada na zona sul do Príncipe e  que conta com cerca de 100 associados, garante que  este ano já foram armazenadas 4 toneladas de pimenta, de um total de 8 toneladas previstas para este ano.

Na capital do arquipélago, o  feriado Nacional, alusivo ao  Dia das Nacionalizações das Roças ou Dia da Reforma Agrária, foi assinalado com mais uma animada feira  agrícola  que teve lugar  na Rua Barrão de Água Izé, junto ao Água Grande, com a participação do conjunto do Povo e Bulawê Arranca Mandioca, além de  outras atividades recreativas e Culturais

 


Por sua vez, o ministro de agricultura, desenvolvimento rural e pescas, anunciou maior investimento na construção de estradas rurais para melhor o acesso às roças, referindo que “algumas pessoas que têm terras na sua posse e que não estão a trabalhá-las estamos a retirar e entregar quem realmente quer as trabalhar» -

 NÃO ESQUEÇO AQUELES DIAS DE EMPREGADO DE MATO NAS ROÇAS 

Desembarquei, em S. Tomé, a bordo do navio Uíge, em Novembro de 1963 para fazer o meu estágio de Agente Técnico Agrícola, da Escola Agrícola Conde S. Bento, em Santo Tirso - Não tendo condições, devido à forma desprezível como ali eram encarados os técnicos, por indivíduos que ascendiam apenas à custa dos anos de serviço  e de uma certa brutalidade; acabei por concluí-lo na tropa, quando ali fui encarregado do sector da  Messe dos Oficiais e da  Agropecuária do quartel .  


Na verdade,  não guardo da roça, as melhores recordações senão o facto de ter apenas 18 anos, ser um jovem  e da surpreendente beleza daquela paisagem, que todos os dias se me revelava, pese a humilhação a que era submetido desde a alvorada  até ao escurecer -  Pois não posso esquecer-me de como era difícil e dura a  vida na roça, tanto para os empregados de mato como para os trabalhadores - E foi esta a categoria que me foi dada, pelo Administrador da Roça Uba-Budo, quando fui para ali estagiar 

Pelo facto de me ter recusado a tratar os trabalhadores, a que chamavam de serviçais, por tu e ao velho estilo colonial da chibata, fui mandado de castigo para o sul da ilha para a Roça Ribeira Peixe, da mesma Compª Agrícola Ultramarina,  a contatar cacaueiros, numa área abandonada, infestada de serpentes venenosas, a chamada cobra-preta, com um trabalhador cabo-verdiano: um dia ele pisou uma cobra e morreu ali aos meus olhos perturbados. Não tive outra alternativa, senão a de,  nesse mesmo  dia à noite,  abandonar aquela propriedade e pôr os pés a caminho em direção a S. João dos Angolares. No dia seguinte, depois ter passado a noite no mato, apanhei uma boleia para a cidade, em busca de novos rumos. Que foram também bem difíceis. .

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