JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA
Este ano, por via do Covid-19, Arraiais e desfiles estão proibidos”, determinou a a câmara municipal de Lisboa, sustentando que “a elevada concentração de pessoas que marca os arraiais populares, vincando a força da sua tradição, é incompatível com a sua realização mesmo num cenário de achatamento da curva de contágio e da diminuição do número de infestation”
Porém, em Lisboa já se realizavam
marchas desde o século XVIII. Dessa época há registos de pequenos grupos
que se deslocavam com archotes, cantando em competição – as marchas ao filambó,
uma adaptação das francesas marches au flambeau https://expresso.pt/coronavirus/2020-06-12-Covid-19.-Santo-Antonio-sem-marchas-casamentos-nem-procissoes.-Camara-de-Lisboa-pede-respeito-escrupuloso-das-regras
DIÁLOGO SURREALISTA DE MÁRIO CESARINY - NA NOITE DE
SANTO ANTÓNIO, Em 12 de Junho de 1991, em que o poeta fez o papel do repórter
com a empregada cabo-verdiana, da poetiza Natália Correia, Apontamento
espontâneo de reportagens para Rádio Comercial- RDP, quando questionava algumas
das pessoas que assistiam ao desfile, eis que surge o diálogo mais inesperado e
insólito da noite sobre
ratos e ratazanas nas barracas, que
comem mãozinha de criancinhas e outras surpreendentes revelações – E dos
grandes banquetes com deputados no famoso Botequim, no largo da Graça.
RECORDANDO O POETA E PINTOR - MÁRIO CESARINY - E TAMBÉM UM BOM AMIGO - Jorge Trabulo Marques
Jorge Trabulo Marques - Mário Cesariny
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Tive oportunidade de ser amigo de Mário Cesariny de Vasconcelos, de ter partilhado com ele variadíssimos e inesquecíveis momentos de agradável convívio
"Passados dez anos, sobre a sua morte - "é uma voz que ainda ecoa" e o seu surrealismo uma revolta que ainda não perdeu o sentido” - Entre os amigos mais chegados, a sua presença continua tão forte quanto antes. Como naqueles tempos passados em redor de uma mesa de café a falar de literatura, de política, de arte, de tudo. Sempre certeiro, Cesariny chegava e com uma palavra era capaz de mudar a temperatura de uma sala, sobretudo de pensar fora da caixa porque ele nunca soube o que era estar dentro dela.
Isso — essa ânsia de liberdade noutro Portugal — trouxe-lhe muitos problemas, mas também fez com que se tornasse autor de uma das obras mais importantes do modernismo português. E não só literário, mas também pictórico. Porque a poesia e a pintura andaram sempre de mãos dadas com Cesariny — faziam parte dele. E assim diz quem o conheceu” - .Diz num interessante artigo, Rita Cipriano, publicado no Observador – Do qual extraímos este breve exerto.
CESARINY ADMIRAVA O ESPÍRITO AVENTUREIRO DAS MINHAS ARRISCADAS TRAVESSIAS EM FRÁGEIS PIROGAS E EU ADMIRAVA-O POR SER UM POETA DE CORPO E ESPÍRITO INTEIRO - http://www.odisseiasnosmares.com/2012/10/28-dia-grandes-vagas-alterosas-entravam.html
E também apreciava os meus apontamentos insólitos de reportagens e entrevistas na extinta Rádio Comercial RDP - Um dia haveria de ser ele a substituir o repórter com a empregada de Natália Correia, deslindando segredos, de almoços e jantares, no lendário Botequim e em sua casa e outras revelações - Quem haveria de imaginar tão inesperado acaso!


Mário Cesariny, conhecendo bem as minhas andanças, sabendo que, no saco do repórter, havia sempre um gravador pronto a premir a tecla para acionar o movimento da cassete de gravação, por vezes, era ele mesmo, que quando nos cruzávamos, se o apanhasse em pleno desvario poético, me perguntava: “Olá Jorge!... Trazes aí contigo a maquineta?”... – Claro que, mal descobria o seu perfil, à distância, era o gesto de que imediatamente me preparava para tomar: – E, sem mais delongas, ali estava o poema, acabado de criar, vertido como se naquele momento lhe estivesse a jorrar da mais cristalina fonte e da encosta do mais sublime ou auspicioso monte.
Ele concedia-me esse privilégio, não porque estivesse a pensar na forma de promover os seus versos, visto essa questão há muito estar ultrapassada, pois, a bem dizer, Cesariny, quando nasceu, já devia vir com o rótulo dos predestinados, além de que também não precisava de correr atrás da imprensa, nem o desejava nem era esse o seu gosto. Fazia-o, por um lado, porque me considerava seu amigo, e, por outro, porque, sendo também uma pessoa afável, simpática e dialogante - que gostava de dizer os seus poemas, como se cada verso lhe saísse do mais fundo das suas emoções ou cogitações, e não mercê de meras construções imaginativas de quem é muito letrado e até sabe fazer umas versalhadazecas umas rimas ou coisas parecidas, engraçadas ou intelectuais, que, mais das vezes ninguém entende – mas sobretudo, porque esse gesto também era surrealista, uma insólita forma de expressão artística.
Nesse aspeto, ele não fazia concessões – Sim, o gosto de surpreender e ser-se surpreendido, um ato poético, artístico e espontâneo, por aquilo que fazia e criava – Cesariny era avesso às entrevistas combinadas mas adepto e apaixonado do diálogo informal e espontâneo. E até sucedia, por vezes, que, ao cruzar-me com ele na rua, ao perguntar-lhe se me podia dizer alguns versos para o meu gravador, me respondia: “desculpa, Jorge; mas neste momento não ando com versos na cabeça, não posso perder tempo contigo:
Conheci-o, casualmente, pela primeira vez, nos finais dos anos 70, numa discoteca Gay, no Príncipe Real, denominada Rokambole, próximo da Faculdade de Ciências– Tinha ali ido fazer uma reportagem para a Rádio Comercial sobre a estreia de um espetáculo de travesti, e, enquanto assistia às hilariantes pantominas dos atores, quis um feliz caso que estivesse sentado no mesmo sofá ao seu lado: às tantas, e, como nestes ambientes informais e descontraídos, quando as pessoas estão sentadas lado a lado, o diálogo geralmente acontece, sou eu que, lhe lanço esta pergunta:

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