Jorge Trabulo Marques - Jornalista
DOM MANUEL DOS SANTOS - O PASTOR E O POETA
OS MENINOS DA MINHA RUA - POR DOM MANUEL DOS SANTOS - Lido do seu livro "Aqui onde estou todos os Sonhos São Verdes"
DOM MANUEL DOS SANTOS - O PASTOR E O POETA
“Encontrei umas folhas, com uns poemas seus, mas isso tem de ser publicado” Disse, um dia, Alda Graça Espírito Santo, a Dom Manuel dos Santos. A grande matriarca da poesia santomense, que faleceu a 10 de Março de 2010, já não pôde assistir à publicação de nenhum dos livros do Bispo de São Tomé e Príncipe, mas foi ela que o estimulou a editá-los, que saíssem do anonimato dos seus cadernos – E também do seu computador para onde vai como que debitando os seus momentos de inspiração, numa espécie de diário poético: não apenas de cariz eminentemente bíblico e espiritual mas também sobre os mais diversos temas do quotidiano e recordações, nomeadamente das terras que o viram nascer.
DOM MANUEL DOS SANTOS - Setembro 2018
AVISO SÉRIO - "A pobreza vê-se em todo o lado em S. Tomé”Preocupação expressa, em entrevista à VATICAN NEWS pelo Bispo de S. Tomé e Príncipe, que, uma vez mais expressa a sua angústia e preocupação, por, segundo declarou . “Continuo a ver o meu povo sofrer com a pobreza”, sublinha ao portal da Santa Sé D. Manuel António dos Santos, Bispo de S. Tomé e Príncipe.
Declarações à margem da assinatura, em Lisboa, do protocolo entre a sua diocese e o Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização tendo em vista o desenvolvimento social e cultural do país.
A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes.... Disse Oscar Wilde. Mas as crianças de São Tomé já são boas e amáveis por natureza – O que é preciso é não as deixar passar fome -
Os brinquedos sabem como improvisá-los o que não conseguem improvisar é quando lhes falta quase tudo em casa e, para se alimentarem, só indo à floresta à procura de banana, da jaca ou de fruta-pão. Mesmo assim, suportando as maiores carências, abrem-se em rasgados sorrisos ao visitante, com a mesma simplicidade com que vivem o dia a dia. Nunca regateiam um sorriso de alegria e de calorosa inocência mesmo que não sejam correspondidas
Já com, Dom Abílio Ribas, criaram o instituto Diocesano de Formação, com currículo Português, desde o principio apoiado pela cooperação portuguesa- Mas é uma escola, que neste momento tem algumas dificuldades de sustentabilidade e, por isso mesmo, fizemos um protocolo com o Ministério de Educação de Portugal, para que a Escola fosse assumida como escola portuguesa,
Se me pergunta: então que grande sonho é que teria com a Educação em São Tomé?
Bem. Se eu tivesse dinheiro – mas é preciso, de facto, muito dinheiro - gostaria de ver neste pais um grande parque escolar, com escola, desde o pré-escolar, escola primária, escola secundária, um ensino técnico profissional - Eventualmente, até, algum Instituto superior ou assim. E também, sobretudo, uma escola de formação de professores, que era muito importante que aqui se fizesse. Estão a dar-se passos nesse sentido – Para mim, de facto, é algo fundamental. Já que, se um país quer acreditar no futuro, quer construir o futuro, tem de começar pela educação
São Tomé – D. Manuel António Mendes – O Bispo das Beiras que abraçou o coração das Ilhas Verdes
DOM MANUEL DOS SANTOS – ORIUNDO DE UMA HUMILDE FAMÍLIA BEIRÂ, O 5º DE 9 FILHOS – “TODOS VIVOS! - GRAÇAS A DEUS”
Colégio Univ. Pio XXII - Onde D. Manuel estudou |
Manuel António Mendes dos Santos nasceu a 20 de Março de 1960, em São Joaninho, concelho de Castro Daire, diocese de Lamego. Foi ordenado sacerdote em 13 de Julho de 1985. Entre 1993 e 1995 teve a ser cargo as paróquias de Guadalupe e de Neves, e, durante algum tempo, também a de Santo Amaro, em São Tomé e Príncipe. Estudou em Roma, nos anos seguintes; e entre 1997 e 2001 foi pároco em Setúbal. Desde Setembro de 2001, era superior provincial dos Claretianos
"Aos 11 anos fui para o seminário de Resende, do seminário de Lamego. Saí de lá aos 18 anos para entrar na Congregação dos Missionários Claretianos; ordenado padre, em 1985, na minha terra, por Dom António Xavier Monteiro, que era então o Bispo de Lamego
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- Jorge Marques – E os perfumes!...
– Dom Manuel dos Santos - Bem, os perfumes... Eu, como nasci no meio da montanha, no meio do tojo, das urzes, não me impressionaram, porque, lá também há perfumes muito intensos! Eu fui criado, no meio do campo! Sempre trabalhei no meio do campo, mas, sobretudo, o verde desta terra, de facto, impressionou-me muito.
Cinco dias depois, acabei por ir para Roma, onde regressei a Portugal, tendo sido escolhido Vigário Provincial, às comunidades claretianas:
Nessa qualidade, continuei a visitar constantemente São Tomé, e, em 2007, vim então para aqui, como Bispo de São Tomé e Príncipe.
RELIGIÃO EM S. TOMÉ E PRÍNCIPE – 1972 - "A forma de aculturação de S. Tomé e Príncipe levou a que dos 76 000 habitantes, aproximadamente, com que conta no presente. 94% pratiquem o catolicismo e 4% o protestantismo.
Existem 12 paróquias e 33 capelanias, trabalhando na diocese sacerdotes e irmãos do Congregações do Coração de Maria, Franciscanas Hospitaleiras de Nossa Senhora e das Canossianas. O número total de sacerdotes irmãos e religiosos eleva-se a 35
Há também, missões protestantes, com 5 missionário e 28 auxiliares".
- Jorge Marques – No meu tempo, não havia aqui tantas igrejas: como é que Igreja Católica, neste momento, consegue superar esta concorrência?
Então, muitas vezes, a religião, é a procura de algo que me satisfaça pessoalmente, em que eu muitas vezes me assuma como sacerdote dessa religião. Claro que depois cada um acaba por escolher a religião que mais lhe parecer adequada à sua verdade. Daí, o surgimento, dessa cultura fragmentária, dessas religiões e de todas essas ceitas.
A Igreja Católica, no entanto, continua a afirmar as suas convicções: é uma igreja nascida de Cristo, feita por santos e pecadores! Continua ao serviço deste Povo! Continua a ser a Instituição de Solidariedade Social, ainda maior deste país! Continuamos, portanto, a acreditar no futuro! A trabalhar com esperança! Para que este Povo continue a ter metas de vida, a ter futuro, num amanha de esperança!
Jorge Marques: “ E acha que há motivos para isso?
Agora, também vivo esta minha esperança, na realidade de todos os dias! No confronto das situações em que este país vive, com a cultura, hoje, muito paganizada, em que estamos inseridos. Portanto, sabendo que não é fácil num ambiente destes, nós conseguirmos fazer passar a nossa mensagem cristã de vida, de serviço, de atenção ao outro e não aos interesses pessoais: não é uma tarefa fácil
Mais: a maior dificuldade, ainda é, nós mesmos, os cristãos, encontrarmos as pessoas, que são capazes de acreditar, de lutar, de liderar, elas mesmas: - não apenas os sacerdotes mas também os leigos; em se empenharem na vivência séria de uma fé! De acreditarem que é possível fazer alguma coisa diferente.
Jorge Marques - S. Tomé, é uma ilha prodigiosa, onde os frutos surgem ao longo do ano, onde não há falta de alimentos, pelo menos de frutos naturais. Em todo o caso, costuma dizer-se que não só de pão vive o homem, tem notado essas carências? Aqui não notamos os rostos que existem, por exemplo, em Angola, aquelas barrigas de balão, etc. O que é que diz sobre isso?
(…) - Dom Manuel dos Santos - A igreja serve refeições quentes a crianças e a idosos, em vários lugares. Para nós a população dos idosos e das crianças, são muito vulneráveis. Por exemplo, fundei o Banco de Leite, tentando, em Portugal, angariar leite, papas lácteas, etc. para distribuir por São Tomé e Príncipe, de modo a melhorar a sua qualidade alimentícia. Não se pode chegar a todos, infelizmente, mas temos tido capacidade de oferecer leite às nossas crianças, na Casa dos Pequeninos, e , até, fazendo-o chegar às crianças, no Príncipe - Mesmo através de outras instituições.
- Jorge Marques - Se alguém quiser enviar donativos para as crianças idosos, como é que os deve enviar?
- Dom Manuel dos Santos - Em Portugal nós temos dois centros de recolha para enviar para o Banco do Leite: temos nos Carvalhos, nos Missionários Claretianos, nossos colaboradores e, em Lisboa, no secretário Pio XII Igreja - Colégio Universitário Pio XII
UM DIA INESQUECÍVEL NA VIDA DE UM SACERDOTE
“O Santo Padre Bento XVI acaba de me nomear Bispo de São Tomé e Príncipe. Nessa qualidade quero dirigir-vos uma saudação fraterna e cordial.
Recordo bem o dia em que, pela vez primeira, pisei o solo deste país: 6 de Janeiro de 1994. Ao sair do avião, senti o ar quente e húmido característico destas terras, deparei com o verde exuberante da paisagem, e saboreei o sorriso caloroso das pessoas... Recordo ainda que me foi esperar ao aeroporto o saudoso P. Agostinho Rebelo, com quem iria partilhar, nos meses seguintes, ideais, inquietações apostólicas e uma forte e sincera amizade.
Depois, várias vezes, nos anos seguintes, tive ocasião de visitar esta diocese, no meu trabalho de animação dos Missionários Claretianos. A última foi há cerca de dois meses, no princípio de Outubro de 2006. Sempre me senti muito bem acolhido.
Agora pedem-me que vá viver convosco, e faço-o com alegria, disposto a agir de tal modo que possa dizer como Santo Agostinho: “Para vós sou bispo, convosco sou cristão”. Fiel ao ideal que sempre me norteou de servir a Igreja da melhor maneira possível, aceitei cumprir essa missão. Confio na poderosa intercessão da Virgem Maria, Madre de Deus e Nossa Senhora da Graça, e do nosso titular e padroeiro, São Tomé. – Excerto http://www.mcm.pt/Paginas/bispo.htm
"Quando a Igreja substitui o Estado"
Punhal - dos nossos achados no mar, com história |
Curiosamente, um mês depois, no seguimento da honrosa visita, que, o mais alto dignatário da igreja, nestas maravilhosas ilhas, fizera na véspera à minha exposição, intitulada “Sobreviver no Mar dos tornados – 38 dias à deriva, inaugurada no Centro Cultural Português, pude também encontrar-me, na sua residência episcopal, num diálogo informal, muito cortês, honroso e afável, muito interessante quer na qualidade como na diversidade dos temas abordados, alguns dos quais registados em vídeo, desde questões do passado histórico das Ilhas Verdes, a assuntos da atualidade, da vida religiosa e social, oportunidade esta coroada com a leitura de alguns momentos poéticos: pois, Dom Manuel dos Santos, além do Pastor, fortemente empenhado com a sua igreja e com a dura realidade que afeta milhares de famílias santomenses, é também uma figura multifacetada, um homem de cultura, estudioso apaixonado pela história, um brilhante poeta, tal como pude constatar, tanto durante aqueles dois honrosos encontros (na visita à minha exposição e durante o almoço no dia seguinte, em sua casa), como, quando lhe fui mostrar uns achados arqueológicos, que encontrei submersos, junto a Anambô, entregues ao Ministério de Educação, Cultura e Ciência, para salvaguarda e estudo.
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