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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

RECORDANDO O EMBAIXADOR DO BRASIL EM STP, JOSÉ CARLOS DE ARAÚJO, UMA DAS FIGURAS MAIS PRESTIGIADAS DA DIPLOMACIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NAS ILHAS VERDES DO EQUADOR E A ENTREGA DA "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA STP AO POVO BRASILEIRO"40 ANOS DEPOIS

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Informação e análise 
 





 JOSE CARLOS LEITÃO, A IMAGEM E O PERFIL DE UM EMBAIXADOR DO BRASIL EM STP. QUE DEIXOU NESTAS MARAVILHOSAS ILHAS, AS MELHORES RECORDAÇÕES – Figura de alto nível na diplomacia brasileira, que, em  Outubro de 2016, transitava para Cabo Verde,  bom demais para se queimar inutilmente com um governo conflituoso, arrogante e ditatorial  - Pormenores mais à frente 


FINALMENTE O PORTADOR DA "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE AO POVO BRASILEIRO" -  QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO  - LEVAR A MENSAGEM A GARCIA - MISSÃO ESPINHOSA, ARRISCADA E  DURA - MAS O SONHO COMANDA A VIDA - E ALGUM DIA HAVERIA DE CHEGAR AO DESTINO, FOSSE QUAL FOSSE A ROTA  ESCOLHIDA - CONQUANTO O PORTADOR FOSSE TEMERÁRIO, DIGNO  E SÉRIO:  - Quando descobri, José Carlos de Araújo Letão, imediatamente me apercebi que .ele fazia parte de um destino por cumprir - E passou a ser o portador dos sentimentos expressos há  quatro décadas por um distinto relator satomense. 

Os brasileiros são por natureza calorosos, extrovertidos, alegres  e comunicativos: e fazem-no com naturalidade – Porém, num bom diplomata, há estas qualidades intrínsecas e outras a saber dosear, que a sua missão lhe impõe e sem exageros: o justo uso do sabedoria, da oratória e da inteligência, com sobriedade, simpatia e calor humano – Foram estas as qualidades que me chamaram atenção, desde o primeiro momento que cumprimentei e fotografei, o Embaixador  do Brasil em São Tomé e Príncipe, José Carlos de Araújo Leitão 

Foi no final da celebração do 12 de Julho, na Praça da Independência, em 2015, quando descia da Tribuna de Honra, ao lado da Embaixadora de Portugal, Paula Silva, que horas depois voltaria a reencontrar no almoço comemorativo, que teve lugar nos jardins da Roça Agostinho Neto, antiga Roça Rio do Ouro, da Sociedade Agrícola Vale Flor


Depois disso, deu-me a honra o prazer  de participar na inauguração da minha exposição, Sobreviver no Mar dos Tornados", que apresentei no Centro Cultural Português, com a presença do Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio,  entre outras personalidades.- 

27 de Julho 2015
Ministro da Cultura, Olito Daio 
Mas também voltaria a fotografá-lo  noutras cerimónias publicas, em Fevereiro e Março do corrente ano, nomeadamente por ocasião dos cumprimentos  dos embaixadores ao então Presidente da Republica Manuel Pinto da Costa  – E, em todos os momentos, quer a sua natural forma de exprimir, o seu à-vontade,  a forma de sorrir e de  comunicar, fosse qual fosse a cerimónia ou o evento ou com quem quer se relacionasse, ali estava um digno respeitante do seu país, um diplomata que não desilustrava a proverbial e calorosa simpatia e comunicabilidade  do povo brasileiro. - 

Ciente de que tinha ali um interlocutor, lembrei-me de finalmente poder concretizar um desejo, há muito adiado: a de que pudesse ser ele o portador certo da mensagem que pessoalmente, desde há 41 anos,  quis transportar de Canoa de S. Tomé ao Brasil 

 JOSÉ CARLOS LEITÃO,  EMOCIONADO NA HORA DA PARTIDA

José Carlos de Araújo Leitão, Embaixador do Brasil em STP, emocionado na hora da despedida: “Vivi aqui uma quadra muito importante da minha maturidade” Transita para Cabo Verde, com missão acrescida: - ajudar a eleger um nome brasileiro na liderança das altas instâncias na ONU

A saída do  Embaixador do Brasil,  uma dos mais prestigiadas figuras da diplomacia brasileira para Cabo Verde, certamente que, conquanto se tratasse  de um procedimento, habitual na rodagem das comissões diplomáticas, poderia, igualmente  ter sido originado  por o Governo Brasileiro ter entendido que a sua presença seria mais importante no arquipélago cabo-verdiano, onde, tal como então foi referido pela imprensa brasileira, a inabilidade de José Graziano da Silva e Roberto Azevedo, respetivamente, "não lograram  o indispensável apoio africano". para eleger nome de brasileiro algum  para dirigir uma das Organizações das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial do Comércio (OMC

Mas foi, de facto, devido à notável missão diplomática, exercida pelo embaixador José Carlos Leitão,  tal como então foi sublinhado pelo jornal Téla Nõn, que “A promoção da cultura brasileira e são-tomense, ganhou maior ímpeto durante a missão do embaixador cessante. Grupos culturais brasileiros trouxeram aos são-tomenses, as cores da identidade brasileira e descobriram as marcas da santomensidade. De um lado e do outro, os dois povos foram se conhecendo mais, as semelhanças e as diferenças impostas pela história.
Sim, de recordar que ao aproximar a hora da partida, José Carlos Leitão convidou são-tomenses e a comunidade brasileira no país, para partilhar com eles os 4 anos e meio de convivência no arquipélago. «Após 4 anos e meio de trabalho um saldo muito positivo da minha experiência profissional em São Tomé. Vivi aqui uma quadra muito importante da minha maturidade. Não foi somente a questão profissional que prevaleceu. É preciso dizer que o aspecto humano da vida teve um peso muito relevante no conjunto de situações vividas na qualidade de embaixador. Minha primeira experiência plena como chefe de missão diplomática», declarou, o embaixador.

Março 2016


MOMENTOS E IMAGENS NA VIDA DE UM GRANDE EMBAIXADOR QUE DEIXOU, EM STP, AS MELHORES RECORDAÇÕES - 
tenso como a distância do oceano que separa os dois países irmãos.

Desde  de julho 2016, ou seja, desde há cinco meses, que se sabia que, o Embaixador do Brasil em S. Tomé e Príncipe, José Carlos de Araújo Leitão, ia deixar as Ilhas Verdes do Equador, para desempenhar idênticas funções na República de Cabo Verde.

NA HORA DA DESPEDIDA, O EMBAIXADOR BRASILEIRO GARANTIU QUE, O TRABALHO DESENVOLVIDO PELA DIPLOMACIA  DO BRASIL, EM STP, CONTINUARÁ E QUE NÃO IA SER AFETADO

A embaixada do Brasil, em São Tomé e Príncipe, foi a primeira de 19 embaixadas instaladas em África nos últimos anos, mas o  profícuo e intenso trabalho de  Cooperação entre Brasil e STP, desenvolvido durante os quatro anos e meio, pelo Embaixador  José Carlos Leitão, ainda veio reforçar mais os laços de cooperação com STP 
Transformado, a sua embaixada,  numa referência cultural na cidade de São Tomé.” – No balanço  apresentado,  antes da sua partida para Cabo Verde, o embaixador organizou uma conferência, que contou a presença  de várias personalidade da vida politica, económica, social e politica santomense, tendo, então, sido sublinhado,  que  a promoção da cultura brasileira e são-tomense, ganhou maior ímpeto durante a missão do embaixador cessante. Grupos culturais brasileiros trouxeram aos são-tomenses, as cores da identidade brasileira e descobriram as marcas da santomensidade. De um lado e do outro, os dois povos foram se conhecendo mais, as semelhanças e as diferenças impostas pela história.

Cooperação da marinha brasileira –  Em ações de importante  apoio importante


Primeiro Pelotão de fuzileiros  de STP  na cerimónia de abertura

De recordar que,  em 21 de julho de 2014, teve lugar a a cerimonia de abertura do curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais da Guarda Costeira de São Tomé e Príncipe (STP), que será ministrado pela Marinha do Brasil, como parte da cooperação, no âmbito da Defesa, entre os dois países.
O Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de STP, Brigadeiro Justino Lima, ressaltou que: "O Brasil tem sido um grande parceiro de São Tomé e Príncipe no quadro das reformas das Forças Armadas. Ajuda-nos a confrontar o problema da pirataria marítima e também capacita os nossos militares, que poderão ser chamados um dia para responder a uma solicitação no quadro do apoio internacional".Marinha do Brasil inicia formação de fuzileiros navais de São Tomé e ...


A LÍNGUA PORTUGUESA TEM UM PASSADO EM STP QUE O OPORTUNISMO ORIENTAL DIFICILMENTE PODERÁ SER  CAPAZ DE ECLIPSAR POR MAIS MANOBRAS E GOLES DE OPORTUNISMO 






TRANSIÇÃO PARA  CABO VERDE NÃO VAI AFETAR COOPERAÇÃO DO BRASIL COM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE


23 de Maio de 2014 - O Centro de Formação Profissional Brasil-São Tomé e Príncipe, construído na zona da Quinta de Santo António, pela cooperação brasileira, foi inaugurado na noite de quinta – feira, para dar futuro a juventude do arquipélago.
 Vários cursos estão a ser ministrados, nomeadamente construção civil, electrotecnia, hidráulica, manutenção industrial e mecânica auto, informática, betão armado, panificação, mecânica auto, electricidade etc Centro de Formação Profissional Brasil-São Tomé dá futuro a




Nas suas declarações à comunicação social, o diplomata brasileiro, voltou a sublinhar que a cooperação entre Brasil e STP não será afetada com o fim da sua missão em STP. 
“Com vários projetos em andamento e alguns concluídos, outros ainda em curso e sempre numa perspetiva de cooperação muito presente”
Destacou as áreas de cooperação impulsionadas nos últimos anos; a cooperação  naval, que considerou de muito importante, ; nomeadamente. os cursos ministrados aos oficias santomenses: 
Eu creio que o Centro Profissional do Brasil de S. Tomé e Príncipe. no Bairro de Stº António, também segue na sua plenitude, com centenas de alunos, já formados, os vários cursos profissionalizantes, com grande sucesso. O projeto artesanato, o projeto capoeira, seguem todos, não vai nada sofrer  solução de continuidade porque  esteja saindo, de maneira nenhuma: eles estão consolidados e estão em curso


EMBAIXADOR JOSÉ CARLOS LEITÃO, FINALMENTE O PORTADOR DA "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE AO POVO BRASILEIRO" -  QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO





Com muita pena minha, não pude atravessar o oceano e a  mensagem que me acompanhava, tomou também comigo outro rumo. No entanto, já me dei por feliz  ao poder fazê-lo 40 anos mais tarde: não em terra brasileira mas num espaço que é como se fosse o de uma casa brasileira, sim, fazendo  a honrosa entrega da mesma mensagem, a uma mui distinta figura,  digno portador, na sua qualidade do mais alto  representante da  Nação Brasileira em S. Tomé e Príncipe -  Pude entregá-la ao Sr. Embaixador . José Carlos de Araújo Leitão, que me recebeu no salão nobre da embaixada do Brasil em S. Tomé 

Em meados de Outubro,  pouco tempo   depois da Independência e após a escalada do Pico Cão Grande, deixaria São Tomé a bordo do pesqueiro Hornet para ser largado numa piroga na Ilha de Ano Bom, 180 Km a sul da linha do Equador, a fim de tentar a travessia atlântica - com uma mensagem  redigida  por José Fret Lau Chong que então desempenhava as funções de ministro da Informação, Justiça e Trabalho – cargo que ocupou entre 1975 e 1976 – a qual dizia, entre outras palavras, o seguinte: 

"Salientamos o espírito aventureiro que preside à iniciativa do Camarada  Jorge Marques, que, depois de uma viagem experimental , e bem sucedida de S. Tomé à Nigéria, também de canoa, propõem-se avançar, desta feita, mais significativamente, programando o percurso S. Tomé- Brasil."
"A recente independência  nacional de S. Tomé e Príncipe, e a consequente libertação do nosso povo do domínio colonial português, reforça a afinidade dum passado histórico comum com o Povo Brasileiro, e daí, a razão de ser de uma irmandade que importa  reviver, sempre que possível, para se reforçar. 


Assim, aproveitando a travessia  atlântica do camarada Jorge Trabulo Marques, que servindo-se de uma simples canoa, vai percorrer  o mar, de S. Tomé ao Brasil, evocando a rota por que, na era retrógrada, os escravos eram conduzidos  para as plantações  da cana do açúcar, o povo de S. Tomé e Príncipe, representado pela sua vanguarda revolucionária,  o MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE (MLSTP), saúda fraternal e calorosamente, o povo irmão do Brasil" - Excerto


Em Novembro de 2014 - Junto à residência   de José Fret Lau Chong para lhe oferecer a cópia da mensagem que, de algum modo, me salvou de ser enforcado na famigerada cadeia black Beack, a mando do então ditador Francisco Macías Nguema por suspeita de espionagem

Nas ondas caprichosas e precipitadas do oceano, aos olhos vagabundos de solitários navegantes em noites errantes, impetuosas, trágicas e sombrias ou sob o pálido  e longínquo brilho das estrelas, na densa ou desmaiada treva,  em redor de quem voga, tudo assume a imagem tumultuosa e deformada do indecifrável, a intrínseca afetação  do desconhecido e do imprevisível!... E, foram 38 as  longas e eternas noites e mais o período  do dia em que a luz ora se abria em esplendor ora se ofuscava sob um teto tumultuoso de cinza ou de chumbo: - Sim, os meus olhos erráticos e vagabundos, assistiram `aos mais inconcebíveis e imprevistos momentos de  assombração ou deslumbramento.

E não eram apenas os meus olhos o testemunho dessa  constante e horrível errância  mas o que perpassava de dentro para fora ou de fora para dentro do meu coração..
Não vou aqui descrever o que vivi em duas linhas, senão recordar que, imponderáveis e vicissitudes,  de ordem vária, me fizeram rumar a Norte e não navegar a   Oeste, ao longo da grande corrente equatorial: este era realmente o rumo que pretendia tomar, ou seja, ligar continente a continente,  mas tive que me fazer a Norte: largando da ilha meridional, à que fica quase coladinha à margem setentrional do Golfo da Guiné

Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!..

A canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados de Outubro,  de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro envolvido por enorme agitação noturna, varrido de  proa à popa,  pelas já habituais  tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para desistir  do meu propósito e coloca-me num dilema:  ou fico a trabalhar a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também  o aviso e a  vontade expressa da  tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.

Face à impossibilidade de tomar a rota para oeste, tento o regresso a S. Tomé - Depois de um dia de navegação rumo a Norte, perfeitamente normal, à noite um violento tornado faz-me perder a maior parte dos apetrechos, incluindo o remo e os  mantimentos. 

 DEPOIS DE 38 DIAS DE  NAUFRÁGIO, NOS CORREDORES DA MORTE

 
Ao cabo de 38 penosos dias, ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado, acabo por acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.

  Felizmente, é a mensagem, autenticada pelo MLSTP, que havia sido escrita para saudar o Povo Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia até ao Brasil - que    me vai salvar a vida. Mesmo assim, dada a  persistente desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de  enviar o seu barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos,   quem  acaba por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida

TRÊS DIAS DE EXPOSIÇÃO MUITO INTENSOS

(Com o Embaixador do Brasil, em S. Tomé. José Carlos de Araújo Leitão )

  
O mais importante numa exposição, não é propriamente o tempo em que a mesma é exposta mas o seu impacto, simbolismo  e  adesão – E creio que  foi tudo  muito expressivo; pois foram três dias muito concorridos e intensos  - Além da divulgação que mereceu através dos órgãos de comunicação social -  televisões, rádios, imprensa escrita e Internet, a quem também muito fico agradecer a compreensão.

Não foi possível prolongar, por mais tempo a exposição, pois havia outros eventos, há muito agendados – Sim, porque, numa instituição com as responsabilidades e a envergadura do Centro Cultural Português, a sua programação é atempada e criteriosamente organizada pela sua diretora, Margarida Mendes. Nada é  deixado ao sabor dos acasos. Mesmo assim, com tão expressivo gesto de boa vontade, foi possível concretizar um velho sonho, que há muitos anos, vinha prosseguindo: o  de apresentar na capital destas maravilhosas ilhas,  a exposição fotográfica e documental, que esteve patente no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, de 10 de Março a 10 de Abril de 1999, inserida no espírito da Expo98, “Os Oceanos”, subordinada ao título: SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS – 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA.

Tal como já tornei público, terminada a referida exposição, é meu desejo que o espólio em causa seja doado ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe – E, se possível, muito gostaria que a próxima inauguração, nesse histórico local, pudesse coincidir com  a véspera do 3 de Fevereiro de 2016, uma data com particular significado para a memória do Povo de S, Tomé e Príncipe,  pelo que, desde já, aqui expresso esse meu pedido.

Jornal Novo – 25.9.76 “Ele correu perigos que assustariam o mais corajoso, incorreu em temeridades que não visavam o lucro mas uma meta mais longínqua. Um insatisfeito desejo de se afirmar e de demonstrar que moram no homem, e com ele vivem , recursos insuspeitados e adormecidos.Não se pense que se referimos a um aventureiro gratuito, que apenas pretende chamar sobre si as atenções, sem objectivos louváveis. Nada disso.(...) "

"As gravações a que procedeu no mar são empolgantes e transmitem o estado de espírito do homem que se encontra só e não conta senão com ele e com Deus. A resistência do homem á fome, à sede e ao desespero, constituem uma constante do seu relato. É comovente a transcrição do feito de Jorge Marques, o qual justificava a publicação de um livro, contendo, em pormenor, o que a escassez do espaço de um jornal não comporta."

A descrição que passou á deriva numa piroga no Golfo da Guiné, se levada ao cinema, daria um filme memorável, principalmente se o realizador extrair da odisseia a espantosa variedade de facetas que ela oferece.” Excertos do Jornal Novo

NÃO CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO, TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS

MESMO ASSIM:







Comprovei que as canoas vão ao cabo do mundo: naveguei e fui arrastado por centenas de milhas: - Liguei as ilhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente


Sozinho e ao longo de sucessivos dias é extremamente arriscado e muito difícil navegar a bordo dessas frágeis embarcações  - E, se eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso - mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes. 
Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se inculcou o fantasma de que só gente de feitiço é que o tornado leva a canoa ou que o "gandú" não engole "perna de gente" , poderão estar descansados:

 


Se a tempestade alguma vez os surpreender e os arrastar para fora do alcance ou do horizonte da sua querida Ilha, não se importem; deixem-se levar pelo seu ímpeto
Mas não cruzem os braços e se deem por vencidos: remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum ponto da costa, hão de ir parar

Basta que não percam a calma e se alimentem com a pesca: a carne do peixe mata a fome e o sangue, que não é salgado, a sede - E a água das chuvas, com um pouco de água do mar, é ainda melhor 

A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO CHEIA DE PESCADO OU NÃO FOR DE ACÁCIA OU DE ÓCÁ - O  MAR BRINCA COM O SEU CASCO E O SEU CASCO DESLIZA E BRINCA COM O MAR.

A vida só tem sentido em prol da ciência, do sagrado e da arte ou da comunidade - vivida, sobretudo, sob o signo da espiritualidade. Se não for pautada por um ideal é um completo vazio. Vale sempre a pena correrem-se os riscos. Mesmo que a morte seja o maior preço a pagar."Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena."

Por minha parte, dei o meu contributo. Não procurei remar contra a história mas ir ao sabor dos ventos que a formaram, ao encontro da sua verdadeira raiz: e, pelos vistos, o que parecia estar esquecido nos bolorentos arquivos históricos, veio dar-me razão - através da demonstração das várias viagens que empreendi em pirogas primitivas.

Claro que me deparei com imensas dificuldades: - duas das três canoas que usei (embora não tendo mais de 60cm de altura por um metro de largura) eram compridas e  precisavam de mais dois braços.  E, os antigos povoadores, dificilmente  teriam partido sozinhos ao seu encontro. Muitas das pirogas que ainda hoje se constroem nos países que bordejam o Golfo, são enormes e podem ser remadas por muitos braços  de mulheres e homens

Obrigado por ter viajado comigo ao  fundo das minhas mais gratas e intensas memórias, e, eventualmente, também, pela reconfortante sensação  de – através do exemplo destas minhas aventuras marítimas, em frágeis pirogas,  o ter ajudado a viajar aos mais recuados  tempos  históricos destas maravilhosas ilhas do Golfo da Guiné -  Que eu julgo, há muito abordadas e habitadas por povos da costa africana – Até porque, é  a própria história colonial a dar-nos algumas pistas e, ao desvendarem-se os escaninhos de alguns dos mais prestigiados arquivos genoveses, a poder  ir-se ao encontro de cartas antigas, muito esclarecedoras. 

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