Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Informação e análise
FINALMENTE O PORTADOR DA "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE AO POVO BRASILEIRO" - QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO - LEVAR A MENSAGEM A GARCIA - MISSÃO ESPINHOSA, ARRISCADA E DURA - MAS O SONHO COMANDA A VIDA - E ALGUM DIA HAVERIA DE CHEGAR AO DESTINO, FOSSE QUAL FOSSE A ROTA ESCOLHIDA - CONQUANTO O PORTADOR FOSSE TEMERÁRIO, DIGNO E SÉRIO: - Quando descobri, José Carlos de Araújo Letão, imediatamente me apercebi que .ele fazia parte de um destino por cumprir - E passou a ser o portador dos sentimentos expressos há quatro décadas por um distinto relator satomense.
Os
brasileiros são por natureza calorosos, extrovertidos, alegres e
comunicativos: e fazem-no com naturalidade – Porém, num bom diplomata, há estas
qualidades intrínsecas e outras a saber dosear, que a sua missão lhe impõe e
sem exageros: o justo uso do sabedoria, da oratória e da inteligência, com
sobriedade, simpatia e calor humano – Foram estas as qualidades que me chamaram
atenção, desde o primeiro momento que cumprimentei e fotografei, o Embaixador
do Brasil em São Tomé e Príncipe, José
Carlos de Araújo Leitão.
Foi no final da celebração do 12 de Julho, na Praça da
Independência, em 2015, quando descia da Tribuna de Honra, ao lado da
Embaixadora de Portugal, Paula Silva, que horas depois voltaria a reencontrar
no almoço comemorativo, que teve lugar nos jardins da Roça Agostinho Neto,
antiga Roça Rio do Ouro, da Sociedade Agrícola Vale Flor
Depois disso, deu-me a honra o prazer de participar na inauguração da minha exposição, Sobreviver no Mar dos Tornados", que apresentei no Centro Cultural Português, com a presença do Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, entre outras personalidades.-
27 de Julho 2015 |
Ministro da Cultura, Olito Daio |
Ciente de que tinha ali um interlocutor,
lembrei-me de finalmente poder concretizar um desejo, há muito adiado: a de que
pudesse ser ele o portador certo da mensagem que pessoalmente, desde há 41
anos, quis transportar de Canoa de S. Tomé ao Brasil
JOSÉ CARLOS LEITÃO, EMOCIONADO NA HORA DA PARTIDA
A saída do
Embaixador do Brasil, uma dos mais prestigiadas figuras da diplomacia
brasileira para Cabo Verde, certamente que, conquanto se tratasse de um procedimento, habitual na rodagem das
comissões diplomáticas, poderia, igualmente ter sido originado por o Governo Brasileiro ter entendido que a
sua presença seria mais importante no arquipélago cabo-verdiano, onde, tal como
então foi referido pela imprensa brasileira, a inabilidade de José Graziano da
Silva e Roberto Azevedo, respetivamente, "não lograram o
indispensável apoio africano". para eleger nome de brasileiro algum
para dirigir uma das Organizações das Nações Unidas para a Agricultura
(FAO) e a Organização Mundial do Comércio (OMC
Mas foi, de facto, devido à notável missão
diplomática, exercida pelo embaixador José Carlos Leitão, tal como então foi sublinhado pelo jornal Téla
Nõn, que “A promoção da cultura brasileira e são-tomense, ganhou maior
ímpeto durante a missão do embaixador cessante. Grupos culturais
brasileiros trouxeram aos são-tomenses, as cores da identidade brasileira e
descobriram as marcas da santomensidade. De um lado e do outro, os dois povos
foram se conhecendo mais, as semelhanças e as diferenças impostas pela
história.
Sim, de recordar que ao aproximar a hora
da partida, José Carlos Leitão convidou são-tomenses e a comunidade brasileira
no país, para partilhar com eles os 4 anos e meio de convivência no
arquipélago. «Após 4 anos e meio de trabalho um saldo muito positivo da minha
experiência profissional em São Tomé. Vivi aqui uma quadra muito importante da
minha maturidade. Não foi somente a questão profissional que prevaleceu. É
preciso dizer que o aspecto humano da vida teve um peso muito relevante no
conjunto de situações vividas na qualidade de embaixador. Minha primeira
experiência plena como chefe de missão diplomática», declarou, o
embaixador.
Março 2016 |
MOMENTOS E IMAGENS NA VIDA DE UM GRANDE
EMBAIXADOR QUE DEIXOU, EM STP, AS MELHORES RECORDAÇÕES -
tenso como a distância do oceano que separa os dois países irmãos.
tenso como a distância do oceano que separa os dois países irmãos.
Desde
de julho 2016, ou seja, desde há cinco meses, que se sabia que, o
Embaixador do Brasil em S. Tomé e Príncipe, José Carlos de Araújo Leitão, ia
deixar as Ilhas Verdes do Equador, para desempenhar idênticas funções na
República de Cabo Verde.
NA HORA DA
DESPEDIDA, O EMBAIXADOR BRASILEIRO GARANTIU QUE, O TRABALHO DESENVOLVIDO PELA
DIPLOMACIA DO BRASIL, EM STP, CONTINUARÁ
E QUE NÃO IA SER AFETADO
A embaixada do
Brasil, em São Tomé e Príncipe, foi a primeira de 19 embaixadas instaladas em
África nos últimos anos, mas o profícuo e intenso trabalho de Cooperação entre Brasil e STP,
desenvolvido durante os quatro anos e meio, pelo Embaixador José Carlos
Leitão, ainda veio reforçar mais os laços de cooperação com STP
Transformado, a sua embaixada, numa referência cultural na cidade de São
Tomé.” – No balanço apresentado,
antes da sua partida para Cabo Verde, o embaixador organizou uma
conferência, que contou a presença de várias personalidade da vida
politica, económica, social e politica santomense, tendo, então, sido
sublinhado, que “a promoção da cultura brasileira e são-tomense, ganhou maior
ímpeto durante a missão do embaixador cessante. Grupos culturais brasileiros trouxeram
aos são-tomenses, as cores da identidade brasileira e descobriram as marcas da
santomensidade. De um lado e do outro, os dois povos foram se conhecendo mais,
as semelhanças e as diferenças impostas pela história.
Cooperação da
marinha brasileira – Em ações de importante
apoio importante
Primeiro Pelotão de fuzileiros de STP na cerimónia de abertura |
De recordar que, em 21 de julho
de 2014, teve lugar a a cerimonia de abertura do curso de Formação de Soldados
Fuzileiros Navais da Guarda Costeira de São Tomé e Príncipe (STP), que será
ministrado pela Marinha do Brasil, como parte da cooperação, no âmbito da
Defesa, entre os dois países.
O Chefe do Estado-Maior das Forças
Armadas de STP, Brigadeiro Justino Lima, ressaltou que: "O Brasil tem sido
um grande parceiro de São Tomé e Príncipe no quadro das reformas das Forças
Armadas. Ajuda-nos a confrontar o problema da pirataria marítima e também
capacita os nossos militares, que poderão ser chamados um dia para responder a
uma solicitação no quadro do apoio internacional".Marinha do Brasil inicia formação de
fuzileiros navais de São Tomé e ...
A LÍNGUA PORTUGUESA TEM UM PASSADO EM STP QUE
O OPORTUNISMO ORIENTAL DIFICILMENTE PODERÁ SER CAPAZ DE ECLIPSAR POR MAIS MANOBRAS E GOLES DE
OPORTUNISMO
23 de Maio de 2014 - O Centro de Formação Profissional
Brasil-São Tomé e Príncipe, construído na zona da Quinta de Santo António, pela
cooperação brasileira, foi inaugurado na noite de quinta – feira, para dar
futuro a juventude do arquipélago.
Vários cursos estão a ser ministrados,
nomeadamente construção civil, electrotecnia, hidráulica, manutenção industrial
e mecânica auto, informática, betão armado, panificação, mecânica auto,
electricidade etc Centro de Formação Profissional Brasil-São Tomé dá
futuro a
Nas suas declarações à comunicação social, o diplomata
brasileiro, voltou a sublinhar que a cooperação entre Brasil e STP não será
afetada com o fim da sua missão em STP.
“Com
vários projetos em andamento e alguns concluídos, outros ainda em curso e
sempre numa perspetiva de cooperação muito presente”
Destacou
as áreas de cooperação impulsionadas nos últimos anos; a cooperação
naval, que considerou de muito importante, ; nomeadamente. os cursos
ministrados aos oficias santomenses:
“Eu
creio que o Centro Profissional do Brasil de S. Tomé e Príncipe. no Bairro de
Stº António, também segue na sua plenitude, com centenas de alunos, já
formados, os vários cursos profissionalizantes, com grande sucesso. O projeto
artesanato, o projeto capoeira, seguem todos, não vai nada sofrer solução
de continuidade porque esteja saindo, de maneira nenhuma: eles estão
consolidados e estão em curso
EMBAIXADOR
JOSÉ CARLOS LEITÃO, FINALMENTE O PORTADOR DA "MENSAGEM DO POVO DA REPÚBLICA
DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE AO POVO BRASILEIRO" - QUE NÃO CHEGOU AO DESTINO
Com muita pena minha, não pude atravessar o oceano e a mensagem que me acompanhava, tomou também comigo outro rumo. No entanto, já me dei por feliz ao poder fazê-lo 40 anos mais tarde: não em terra brasileira mas num espaço que é como se fosse o de uma casa brasileira, sim, fazendo a honrosa entrega da mesma mensagem, a uma mui distinta figura, digno portador, na sua qualidade do mais alto representante da Nação Brasileira em S. Tomé e Príncipe - Pude entregá-la ao Sr. Embaixador . José Carlos de Araújo Leitão, que me recebeu no salão nobre da embaixada do Brasil em S. Tomé
Em
meados de Outubro, pouco tempo depois da Independência e após
a escalada do Pico Cão Grande, deixaria São Tomé a bordo do pesqueiro Hornet para ser largado numa piroga na Ilha de Ano Bom, 180
Km a sul da linha do Equador, a fim de tentar a travessia atlântica -
com uma mensagem redigida por José Fret Lau Chong que então desempenhava as funções de ministro da
Informação, Justiça e Trabalho – cargo que ocupou entre 1975 e 1976 – a
qual dizia, entre outras palavras, o seguinte:
"Salientamos
o espírito aventureiro que preside à iniciativa do Camarada Jorge
Marques, que, depois de uma viagem experimental , e bem sucedida de S. Tomé à
Nigéria, também de canoa, propõem-se avançar, desta feita, mais
significativamente, programando o percurso S. Tomé- Brasil."
"A recente
independência nacional de S. Tomé e Príncipe, e a consequente libertação
do nosso povo do domínio colonial português, reforça a afinidade dum passado
histórico comum com o Povo Brasileiro, e daí, a razão de ser de uma irmandade
que importa reviver, sempre que possível, para se reforçar.
Assim, aproveitando a travessia atlântica do camarada Jorge Trabulo Marques, que servindo-se de uma simples canoa, vai percorrer o mar, de S. Tomé ao Brasil, evocando a rota por que, na era retrógrada, os escravos eram conduzidos para as plantações da cana do açúcar, o povo de S. Tomé e Príncipe, representado pela sua vanguarda revolucionária, o MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE (MLSTP), saúda fraternal e calorosamente, o povo irmão do Brasil" - Excerto
Em
Novembro de 2014 - Junto à residência de José Fret Lau Chong para lhe oferecer a
cópia da mensagem que, de algum modo, me salvou de ser enforcado na famigerada
cadeia black Beack, a mando do então ditador Francisco Macías Nguema , por suspeita de espionagem
Nas
ondas caprichosas e precipitadas do oceano, aos olhos vagabundos de solitários navegantes em
noites errantes, impetuosas, trágicas e sombrias ou sob o pálido e
longínquo brilho das estrelas, na densa ou desmaiada treva, em redor
de quem voga, tudo assume a imagem tumultuosa e deformada
do indecifrável, a intrínseca afetação do desconhecido e do
imprevisível!... E, foram 38 as longas e eternas noites e mais
o período do dia em que a luz ora se abria em esplendor ora se ofuscava
sob um teto tumultuoso de cinza ou de chumbo: - Sim, os meus olhos
erráticos e vagabundos, assistiram `aos mais inconcebíveis e imprevistos
momentos de assombração ou deslumbramento.
E não eram apenas os meus olhos o testemunho dessa constante e horrível errância mas o que perpassava de dentro para fora ou de fora para dentro do meu coração..
Não vou aqui descrever o que vivi em duas linhas, senão recordar que, imponderáveis e vicissitudes, de ordem vária, me fizeram rumar a Norte e não navegar a Oeste, ao longo da grande corrente equatorial: este era realmente o rumo que pretendia tomar, ou seja, ligar continente a continente, mas tive que me fazer a Norte: largando da ilha meridional, à que fica quase coladinha à margem setentrional do Golfo da Guiné
Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!..
A
canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados
de Outubro, de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente
equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha
de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro
envolvido por enorme agitação noturna, varrido de proa à popa, pelas já
habituais tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas
anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para
desistir do meu propósito e coloca-me num dilema: ou fico a trabalhar
a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também o aviso e a vontade expressa da tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar
um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.
Face
à impossibilidade de tomar a rota
para oeste, tento o regresso a S. Tomé - Depois de um dia de navegação
rumo a Norte, perfeitamente normal, à noite um violento tornado faz-me perder a maior parte
dos
apetrechos, incluindo o remo e os mantimentos.
DEPOIS DE 38 DIAS DE NAUFRÁGIO, NOS CORREDORES DA MORTE
Ao cabo de 38 penosos dias, ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado,
acabo por acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por
espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já
que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.
Felizmente,
é a mensagem,
autenticada pelo MLSTP, que havia sido escrita para saudar o Povo
Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia até ao Brasil -
que me vai salvar a vida. Mesmo assim, dada a persistente
desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de enviar o seu
barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da
veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos, quem acaba
por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das
Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida
TRÊS DIAS DE
EXPOSIÇÃO MUITO INTENSOS
(Com o Embaixador do Brasil, em S. Tomé. José Carlos de
Araújo Leitão )
O mais importante
numa exposição, não é propriamente o tempo em que a mesma é exposta mas o seu
impacto, simbolismo e adesão – E creio que foi tudo muito expressivo; pois
foram três dias muito concorridos e intensos - Além da divulgação que
mereceu através dos órgãos de comunicação social - televisões, rádios,
imprensa escrita e Internet, a quem também muito fico agradecer a
compreensão.
Não foi possível
prolongar, por mais tempo a exposição, pois havia outros eventos, há muito
agendados – Sim, porque, numa instituição com as responsabilidades e a
envergadura do Centro Cultural Português, a sua programação é atempada e
criteriosamente organizada pela sua diretora, Margarida Mendes. Nada é deixado ao
sabor dos acasos. Mesmo assim, com tão expressivo gesto de boa vontade, foi
possível concretizar um velho sonho, que há muitos anos, vinha prosseguindo: o
de apresentar na capital destas maravilhosas ilhas, a
exposição fotográfica e documental, que esteve patente no Padrão dos
Descobrimentos, em Lisboa, de 10 de Março a 10 de Abril de 1999, inserida no
espírito da Expo98, “Os Oceanos”, subordinada ao título: SOBREVIVER NO MAR DOS
TORNADOS – 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA.
Tal
como já tornei público, terminada a referida exposição, é meu desejo que o
espólio em causa seja doado ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe – E, se
possível, muito gostaria que a próxima inauguração, nesse histórico local,
pudesse coincidir com a véspera do 3 de Fevereiro de 2016, uma data com
particular significado para a memória do Povo de S, Tomé e Príncipe, pelo
que, desde já, aqui expresso esse meu pedido.
Jornal
Novo – 25.9.76 “Ele correu perigos que assustariam o mais corajoso,
incorreu em temeridades que não visavam o lucro mas uma meta mais longínqua. Um
insatisfeito desejo de se afirmar e de demonstrar que moram no homem, e com ele
vivem , recursos insuspeitados e adormecidos.Não se pense que se referimos a um
aventureiro gratuito, que apenas pretende chamar sobre si as atenções, sem
objectivos louváveis. Nada disso.(...) "
"As gravações a que procedeu no mar são empolgantes e transmitem o
estado de espírito do homem que se encontra só e não conta senão com ele e com
Deus. A resistência do homem á fome, à sede e ao desespero, constituem uma
constante do seu relato. É comovente a transcrição do feito de Jorge Marques, o
qual justificava a publicação de um livro, contendo, em pormenor, o que a
escassez do espaço de um jornal não comporta."
A descrição que passou á deriva numa piroga no Golfo da Guiné, se levada ao
cinema, daria um filme memorável, principalmente se o realizador extrair da
odisseia a espantosa variedade de facetas que ela oferece.” Excertos do Jornal
Novo
A canoa "Yon Gato" foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em meados de Outubro, de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves para ser largada na corrente equatorial - Porém, contrariamente ao prometido, ao fundear junto à Ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial) com o pesqueiro envolvido por enorme agitação noturna, varrido de proa à popa, pelas já habituais tempestades da época das chuvas, que o assolaram nas anteriores noites, o comandante chama-me à câmara de comando para desistir do meu propósito e coloca-me num dilema: ou fico a trabalhar a bordo ou tenho que ser largado com a canoa. De resto, este era também o aviso e a vontade expressa da tripulação: "Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." Não tendo aceite a sua proposta, obriga-me assinar um termo de responsabilidade, antes de arrear a canoa ao mar.
Face à impossibilidade de tomar a rota para oeste, tento o regresso a S. Tomé - Depois de um dia de navegação rumo a Norte, perfeitamente normal, à noite um violento tornado faz-me perder a maior parte dos apetrechos, incluindo o remo e os mantimentos.
DEPOIS DE 38 DIAS DE NAUFRÁGIO, NOS CORREDORES DA MORTE
Ao cabo de 38 penosos dias, ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado, acabo por acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver.
Felizmente, é a mensagem, autenticada pelo MLSTP, que havia sido escrita para saudar o Povo Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia até ao Brasil - que me vai salvar a vida. Mesmo assim, dada a persistente desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de enviar o seu barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos, quem acaba por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida
O mais importante numa exposição, não é propriamente o tempo em que a mesma é exposta mas o seu impacto, simbolismo e adesão – E creio que foi tudo muito expressivo; pois foram três dias muito concorridos e intensos - Além da divulgação que mereceu através dos órgãos de comunicação social - televisões, rádios, imprensa escrita e Internet, a quem também muito fico agradecer a compreensão.
NÃO CHEGUEI ATRAVESSAR O OCEANO ATLÂNTICO,
TAL COMO ESPERAVA MAS CONTINUO ACREDITAR QUE SÃO POSSÍVEIS LONGAS TRAVESSIAS
Comprovei que as canoas vão ao cabo do mundo: naveguei e fui arrastado por centenas de milhas: - Liguei as ilhas e estabeleci ligações de uma delas ao continente
Sozinho e ao longo de sucessivos dias é
extremamente arriscado e muito difícil navegar a bordo dessas frágeis
embarcações - E, se eu não fiquei no mar, talvez o deva a um feliz acaso
- mas não estou arrependido, pois safei-me por três vezes.
Os pescadores (nas Ilhas) aos quais se
inculcou o fantasma de que só gente de feitiço é que o tornado leva a canoa ou
que o "gandú" não engole "perna de gente" , poderão estar
descansados:
Se a tempestade alguma vez os surpreender e os arrastar para fora do alcance ou do horizonte da sua querida Ilha, não se importem; deixem-se levar pelo seu ímpeto
Mas não cruzem os braços e se deem por
vencidos: remem ou velejem, sempre que puderem ou então deixem que a canoa
vogue à flor das ondas, que o mar não quer nada que lhe seja estranho e a algum
ponto da costa, hão de ir parar
Basta que não percam a calma e se
alimentem com a pesca: a carne do peixe mata a fome e o sangue, que não é
salgado, a sede - E a água das chuvas, com um pouco de água do mar, é ainda
melhor
A CANOA SÓ VAI AO FUNDO SE ESTIVER MUITO
CHEIA DE PESCADO OU NÃO FOR DE ACÁCIA OU DE ÓCÁ - O MAR BRINCA COM O SEU CASCO E O SEU CASCO
DESLIZA E BRINCA COM O MAR.
A
vida só tem sentido em prol da ciência, do sagrado e da arte ou da
comunidade - vivida, sobretudo, sob o signo da espiritualidade.
Se não for pautada por um ideal é um completo vazio. Vale sempre a pena
correrem-se os riscos. Mesmo que a morte seja o maior preço a pagar."Valeu
a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena."
Por minha parte, dei o meu contributo. Não
procurei remar contra a história mas ir ao sabor dos ventos que a formaram, ao
encontro da sua verdadeira raiz: e, pelos vistos, o que parecia estar esquecido
nos bolorentos arquivos históricos, veio dar-me razão - através da demonstração
das várias viagens que empreendi em pirogas primitivas.
Claro que me deparei com imensas
dificuldades: - duas das três canoas que usei (embora não tendo mais de 60cm de
altura por um metro de largura) eram compridas e precisavam de mais dois
braços. E, os antigos povoadores, dificilmente teriam partido
sozinhos ao seu encontro. Muitas das pirogas que ainda hoje se constroem nos
países que bordejam o Golfo, são enormes e podem ser remadas por muitos
braços de mulheres e homens
Obrigado
por ter viajado comigo ao
fundo das minhas mais gratas e intensas memórias, e, eventualmente,
também,
pela reconfortante sensação de – através
do exemplo destas minhas aventuras marítimas, em frágeis pirogas, o ter
ajudado a viajar aos mais recuados tempos históricos destas
maravilhosas
ilhas do Golfo da Guiné - Que eu julgo,
há muito abordadas e habitadas por povos da costa africana – Até porque, é a própria história colonial a dar-nos algumas
pistas e, ao desvendarem-se os escaninhos de alguns dos mais prestigiados arquivos genoveses, a poder ir-se ao encontro de cartas antigas, muito esclarecedoras.
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