expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

terça-feira, 30 de abril de 2019

Alda Graça do Espírito Santo – S. Tomé - 30 de Abril de 1926 – Angola 9 de Março de 2010 - Deixou-nos há 9 anos - Nesta data do seu nascimento, evocando o seu nome e a sua obra, conjuntamente com duas das suas mais notáveis discípulas da poesia contemporânea santomense: Ondina Beja e Conceição Lima -Em homenagem à poesia das Ilhas Verdes do Equador -

 Jorge Trabulo Marques

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE – ILHAS MARAVILHA QUE GERAM POETAS E CONVIDAM À CONTEMPLAÇÃO E À POESIA  - MESMO QUANDO AS REPRIMEM -   - Por Jorge Trabulo Marques - jornalista e investigador 

A beleza natural de São Tomé e Príncipe é meio caminho andado para ser-se poeta – e estas ilhas têm grandes poetas: desde um  Costa Alegre, a Francisco José Tenreiro, passando por Francisco Stockler, Alda do Espírito Santo, Conceição Lima, a Olinda Beja, entre outros, são nomes de elevada craveira, que atestam uma extraordinária literatura poética

Homenagem de Cícero Alves
Em véspera do dia do Trabalhador, e justamente na data do nascimento de Alda da Graça Espírito Santo, aproveito para aqui recordar um dos maiores nomes do nacionalismo poético e literário santomense, com versos de sua autoria e duas  grandes poetizas, ainda vivas, suas discípulas, cujas vidas e obras poéticas, foram particularmente influenciadas pela coragem e verve inspiradora da sua poesia -  Olinda Beja e Conceição de Deus Lima.

A ambas, já me referi, detalhadamente,  neste meu site, contudo. penso ser oportuna esta minha evocação, citando algumas das passagens,  que aqui  dediquei a duas grandes figuras femininas das letras santomenses, como acréscimo da minha singela homenagem a um nome incontornável da literatura das encantadoras Ilhas Verdes do Equador

Porém, antes de aqui citar os seus poemas, recordo  também a homenagem, que, há um ano, nesta mesma data, lhe foi prestada no 2º jantar convívio de São-Tomenses, na Diáspora, organizado pela Associação das Mulheres de S. T. P. em Portugal, Mén Nón, que decorreu,  na sede da ACOSP, na cidade de Lisboa, em  ambiente de muita alegria e de entusiasmo, muito acolhedor e fraterno,  como é timbre das gentes  das maravilhosas Ilhas Verdes do Equador fraternidade – Com a sala completamente cheia, na qual puderam ser apreciados alguns dos mais saborosos pratos típicos da gastronomia, ao  som da música da terra e alguns momentos de poesia, com a leitura de belos poemas de Alda do Espírito Santo  (1926-2010), figura emblemática da literatura e da cultura santomense, com versos  lidos pela voz da moçambicana, Elsa de Noronha





Elsa de Noronha, natural de Moçambique, (22 de Agosto de 1934), filha do poeta moçambicano Rui de Noronha, declamadora e também ela autora de poesia, tem sido uma verdadeira paladina para a divulgação da poesia africana em língua portuguesa


Alda  Graça do Espírito Santo,  nasceu a 30 de abril de 1926, em S. Tomé, deixou-nos em  9 de Março de 2010 –  Mais conhecida como Alda do Espírito Santo, poetiza e escritora 


ALDA- Duas sílabas numa só palavra - Acrescida do apelido divino " do Espírito Santo - Nome da Inesquecível Musa, a Mui Amada e  Grande Mãe das Ilhas Maravilha - A Grande Inspiradora Poetiza da liberdade e da Beleza! A Grande Irmã da Dor e do Amor e do sentimento amargo e mui dolorido sofrimento ancestral de um Povo - Quem esquecerá o seu rosto? 

Não partiu para o exilio mas, mesmo sob a vigilância da antiga policia politica (PIDE) nem por isso deixou de usar a palavra, os seus versos, como a voz mais ativa e interveniente pelo seu Povo  - Considerada, por isso, como expoente máximo do nacionalismo são-tomense, pós independência. Alda Graça, morreu em Angola para onde foi evacuada  por razões de saúde. Morreu na terra dos seus compatriotas de luta pela independência nacional, como Mário Pinto de Andrade. Um dos nomes de Angola que Alda Graça muitas vezes citou nas suas intervenções públicas. – Excerto deAlda Graça do Espírito Santo

Lá no «Água Grande»

Lá no «Água Grande» a caminho da roça
negritas batem que batem co’a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.

Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta,
brincam na água felizes…
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam miúdos lá na hora do regresso…
Jazem quedos no regresso para a roça.

 (Poesia negra de expressão portuguesa, 1953)

 Fevereiro

Silêncio na rua, silêncio nas almas
Um minuto de silêncio angustiado
Repicar de sinos na aurora dos tempos
Um silêncio reverente
Para a página do futuro.

 (É nosso o solo sagrado da terra, 1978)

Às mulheres da minha terra

Irmãs, do meu torrão pequeno
Que passais pela estrada do meu país de África
É para vós, irmãs, a minha alma toda inteira
— Há em mim uma lacuna amarga —
Eu queria falar convosco no nosso crioulo cantante
Queria levar até vós, a mensagem das nossas vidas
Na língua maternal, bebida com o leite dos nossos primeiros dias
Mas irmãs, vou buscar um idioma emprestado
Para mostrar-vos a nossa terra
Excerto - Continua em 


NATAL NA ILHA

Ao cair da tarde, pelas estradas da Ilha
Cabaninhas de andala
Tecidas por dedinhos de garotos,
É a nota tocante do Natal.
Uma tocha de mamão
É o luzeiro no caminho
Alumiar o “passo”.

Mas o exotismo dos trópicos
Descendo pelo calendário dos festejos
Faz do “Dá chinja” a festa da família.
Quarta-feira de cinzas
É cara ao coração da nossa gente,
Onde se sente a ausência dos finados.
Na hora do “angu”,
Do clássico calulú de Peixe
Todos se juntam,
Nas roças, nas grutas, nos ermos mais perdidos,
Em redor da mãe velhinha,
Da avó da carapinha branqueada
Na tradição festiva do “Bocado”.
P’las mãos dessa velhinha solene
todos, todos, recebem p’la mesma colher
Numa união feliz e africana
A primeira colherada
Do menú familiar.
E só então, a refeição começa.
A toda a hora pelo dia  fora.
Vem chegando gente
Pró sagrado “Bocado”
Do avô extinto do ano que passou
E da filha arrancada à vida
em plena mocidade.

Cinzas…. Natal…
Exotismo dos trópicos?
- Uma pergunta e uma resposta que pairam nos ares
 Alda Graça do Espírito Santo

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - ONDE A POESIA ANDA À SOLTA - MAS NÃO A  REPRIMAM QUEM A INSPIRA

Em São Tomé e Príncipe é uma terra onde a poesia está na sua paisagem, no azul do mar que a envolve e no rosto das suas gentes: os verdes multicolores são próprios das ilhas tropicais mas nestas ilhas as suas tonalidades assumem uma magia especial  - O nosso planeta é vasto mas , além de não haver duas terras com as mesmas singularidades, estas ilhas têm  o condão de se situarem no meio do Mundo – Nomeadamente, S. Tomé. A Ilha do Príncipe, fica a 150 Km mais a Norte e é tida como a princesa do Golfo da Guiné. No entanto, quer uma quer outra, para quem as demande, é amor à primeira vista - Não é por acaso que a poesia ali floresce, até das raízes das árvores que mais tempo se agarram ao solo, mesmo quando o mar as deixa nuas e quase  agarradas às rochas.

Conhecia  a existência da sua obra e também do prestígio que o seu nome goza nas letras e no jornalismo mas ainda não tinha tido o prazer de estar olhos  nos olhos e frente a frente, e, ainda para mais,  logo em direto num dos mais apreciados e mediáticos programas de informação e debate de ideias  da televisão de S. Tomé e Príncipe – Naturalmente que não me posso esquecer desse amável rosto

Sem dúvida, uma presença simpática e respeitável, possuidora de um currículo jornalístico de alto gabarito  - Conceição Lima esteve 15 anos a viver em Londres, onde  se licenciou em Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros pelo King"s College, obtendo o grau de mestre em Ciências Políticas e Estudos Africanos pela School of Oriental and African Studies, tendo exercido a atividade de jornalista e  produtora dos serviços em Língua Portuguesa da BBC Porém, lá como cá  (sim, mas não só, a democracia, dita pluralista, tem destas leituras ou heresias) quando mudam os governos, surge a irresistível tentação  dos “saneamentos”. e não se olha ao mérito. E, pelos vistos, foi a marginalização de que foi alvo, Conceição Lima,  com o saneamento do seu programa na TVS, Cartas na Mesa, considerado o programa mais visto da televisão de São Tomé e Príncipe – Isto porque,   Em São Tomé e Príncipe há um grave défice de liderança



Raízes (do secular)  Micondó de Conceição Lima espalham-se pelo Brasil

Conceição Lima, que,  nas maravilhosas ilhas do equador é mais conhecida por São de Deus Lima,  creio que em resultado da  admiração, do carinho e da popularidade, que goza no seu país, é o nome mais traduzido da literatura são-tomense, nomeadamente nas línguas alemã, árabe, francesa, italiana,  galega, espanhola, inglesa, servo-croata, turca e shona. 

Autora de três livros de poesia, publicados pela Editorial Caminho, um dos quais, “A Dolorosa Raiz do Micondó’ acaba de ser lançado pelo Ministério da Educação do Brasil com uma tiragem de 32 mil exemplares.


A referida obra poética,  publicada em 2011 no Brasil pela editora Geração Editorial, de São Paulo  e, que, por ocasião da 2ª Bienal da  Feira do Livro de Brasília, que decorreu de 12 a 16 de Abril,   já havia sido selecionada pelo Programa Nacional de Bibliotecas Escolares do Brasil, num conjunto de mais de 400 títulos»,  vê  agora confirmado seu lançamento, e, consequentemente, o reforço da visibilidade dos seus livros no maior país de expressão de língua portuguesa.

Em recentes declarações ao Téla Nón, Conceição Lima disse estar muito feliz pelo reconhecimento da sua obra e pela projeção que isso representa da literatura são-tomense. «Saber que contribuo para elevar o nome e a cultura de São Tomé e Príncipe é muito gratificante e deixa-me realmente muito feliz», 11 Dez 2014 Livro de poesia de Conceição Lima com tiragem de 32 mil exemplares no Brasil

Trata-se, com efeito, de “uma obra poética que tem sido  objeto de vários estudos de Mestrado e de doutoramento em universidades portuguesas e sobretudo brasileiras.” Referência do Téla Nón quando  “A Dolorosa Raiz do Mincondó, começava a dar nas vistas - Já se dizia: "Nesta coletânea de 27 poemas da poetisa são-tomense Conceição Lima, o micondó, árvore considerada sagrada em diversas regiões da África, simboliza origem, casa, morada ancestral. A evocação de tais raízes é dolorosa devido a acontecimentos históricos, como a escravidão e a colonização, que imprimiram profundas feridas e rupturas na identidade nacional, e na própria poetisa, cujos antepassados foram trazidos à força para o arquipélago africano e mais tarde enviados para outras terras como escravos. Íntima, pessoal e sofrida, a poesia de Conceição Lima é também dotada de um lirismo e esteticismo sublimes, presenteados aqui pela primeira vez ao público brasileiro. Embora a dor seja uma constante em seus versos, o sentimento que os perpassa é o da sutil esperança de que a mesma memória que resgata os fatos traumáticos ajude a fazer germinar algo novo dos escombros, como o micondó que, com suas profundas raízes e frondosa copa, fez florescer o alfabeto poético de Conceição Lima. 03/04/2014. Raízes de Micondó de Conceição Lima espalham-se pelo Brasil...3 livros para celebrar o Dia da Consciência Negra




SÃO ASSIM OS POETAS ...

Desde os anos 80  que Maria da Conceição Costa de Deus Lima, descobriu os caminhos da poesia, contudo, e, como geralmente acontece aos maiores poetas, a poesia é como voo de ave: voa ou  voga, simplesmente,  através dos grandes espaços ou  mares da sensibilidade e da imaginação, sem, todavia, ter pouso seguro. Vão-se fixando instantes, na sebenta do dia a dia, sem contudo haver a preocupação de os transformar em livro ou de lograr um porto de arribação – Em suma, vai-se viajando: 
“Os barcos regressam
carregados de cidades e distância

Adormecem os grilos
Uma criança escuta a concavidade de um búzio.
Talvez seja o momento de outra viagem
Na proa, decerto, a decisão da viragem”

( Com Sofia de Melo Breyner) 


 Em Fernando Pessoa, quis o acaso que alguém se lembrasse de vasculhar o seu baú e descobrir a herança do seu legado. Outros, porém, às tantas, lá se dão de conta que o  que é belo deve ser partilhado. Creio ter sido o caso de Conceição Lima, quando lançou “O útero da Casa”, em 2004” – Veja-se bem o significado da palavra de útero: tão só, o mais íntimo de si, as emoções mais marcantes da sua vida. Pelo menos, algumas das muitas vividas: mesmo “quando eu não sabia que era quem sou/ Quando eu ainda que era já eu” -  Mesmo assim, vai-se ao fundo da memória – Mas impossível é transformar todos os sentimentos,  em versos – Seria também matar a poesia, pois, o pensar, ou racionalizar demais, como dizia o poeta da Mensagem,   torna as pessoas infelizes: é preciso “Sentir como quem olha/ Pensar como quem anda” – No fundo, é o que nos transmite a bela poesia de Conceição Lima

Três Verdades Contemporâneas
Creio no invisível
Creio na levitação das bruxas
Creio em vampiros
Porque os há.

In O Útero da Casa,  primeiro livro de Maria da Conceição de Deus Lima, lançado quando ainda residia em Londres e trabalhava para a  BBC - Confirmando-se,  desde então,  entre as mais interessantes vozes do pós-independência - e do pós-colonial - num universo onde muitas vozes anunciadas não se afirmaram no sistema literário nacional."

"Constituído por 28 poemas, O Útero da Casa demonstra desde o início a força poética de uma autora comprometida com si mesmo e seu país de origem. Através de “lugares metonímicos”, no dizer da crítica literária portuguesa Inocência Mata (prefaciadora da obra), Conceição Lima deslumbra o seu leitor ao construir e reconstruir os seus lugares de afetividade; o seu país, rico em simbolismos e lutas, a partir de um “eu feminino”, em que a casa ganha uma dimensão de amargura e rememoração -Excerto de Conceição Lima e a linguagem-morada

"No livro A dolorosa raiz do micondó, Conceição Lima, poetisa de São Tomé, reconstitui espaços, paisagens da intimidade e histórico-sociais por meio da representação lírica de sua memória. O quintal da infância, a árvore do micondó, dentre outros elementos espaciais e paisagísticos, ganham contornos simbólicos nessas rememorações, que se espraiam ainda na lembrança de tempos dolorosos vivenciados em seu país"

SÓYA
Há-de nascer de novo o micondó —
belo, imperfeito, no centro do quintal.
À meia-noite, quando as bruxas
povoarem okás milenários
e o kukuku piar pela última vez
na junção dos caminhos.

Sobre as cinzas, contra o vento
bailarão ao amanhecer
ervas e fetos e uma flor de sangue.

Rebentos de milho hão-de nutrir
as gengivas dos velhos
e não mais sonharão as crianças
com gatos pretos e águas turvas
porque a força do marapião
terá voltado para confrontar o mal.

Lianas abraçarão na curva do rio
a insónia dos mortos
quando a primeira mulher
lavar as tranças no leito ressuscitado.

Reabitaremos a casa, nossa intacta morada.


In . A Dolorosa Raíz do Mincondó - 2006

ONDINA BEJA, HÁ DOIS ANOS, NO DIA 1º DE MAIO DE 2015 -

Olinda Beja é, sem dúvida alguma,  uma das mais espantosas musas do firmamento poético de São Tomé e Príncipe, nascida lá nas bandas do meio do mundo, onde se avista o cruzeiro do Sul – Toda a sua poesia é como que a  expressão genuína das raízes da maravilhosa e luxuriante Ilha  que a viu nascer. Do mar, da  terra e dos seus frutos e flores - sabores e perfumes. Ela é tudo isso! A expressão poética  das Ilhas e das suas gentes. Com a genial e rara inspiração de dizer os seus poemas, com a mesma musicalidade calorosa da voz do seu povo e, simultaneamente, nos revelar  a beleza envolvente de um verdadeiro paraíso terreal  -  Naturalmente, com os seus espantos, cores, alegrias, ansiedades  e sofrimentos – E, estes, muitos foram ao longo de séculos. Por isso mesmo, é das raras poetas que tem o condão de dizer o que escreve, tal como o sentiu no instante da sua criação: não só recita, declama mas canta! – Não sei se haverá, entre os poetas da língua portuguesa, pessoa capaz de nos proporcionar momentos de tão  rara  e intensa beleza poética e deslumbrante sensibilidade interpretativa, como são os oferecidos por Olinda Beja.  




É o que se pode dizer um espetáculo musical e poético, ao vivo, que não cansa, não enfada, contrariamente a muitas destas sessões.  Pois é das tais récitas poéticas, que prende  e emudece de encanto a assistência,  arrebata e   faz levantar em apoteóticos aplausos, quem a ouve. – Sim, porque, a par dos seus extraordinários dotes poéticos e artísticos,  também costuma fazer-se  acompanhar de um outro talento musical – De  Filipe Santo, que, dedilhando, artisticamente, os melhores sons do africanismo sãotomense, lhe empresta ainda mais redobrado sentimento e  fulgor. 



Olinda Beja, autora de 16 livros  de poesia e ficção, distinguida pelo Prémio Literário Francisco José Tenreiro, atribuído a obra " A Sombra do Ocá, tem sido  uma autêntica embaixatriz da divulgação  da lusofonia, da cultura das Ilhas de s. Tomé e Príncipe e de Portugal, deslocando-se, frequentemente, a estabelecimentos de ensino do universo lusófono, dando  a conhecer as ilhas do cacau e fazendo  aproximação  dos dois povos através da riqueza cultural que une os dois povos. 

Alda Graça do Espírito Santo - "Um marco indelével na sua vida de escritora, que teve uma influencia enorme na sua poesia: tanto poético, humano, social - "Foi uma mulher extraordinária na minha vida" - Reconhece Olinda Beja 



r

Numa amável entrevista que me concedeu, em Julho de 2013, por o ocasião da Feira dos livros do Instituto Português do Desporto e Juventude, em Lisboa, referiu que gostaria  que o seu  país não precisasse  de estender a mão às organizações internacionais, porque, se for  bem gerido, bem estruturado, tem tudo!  "Além de um Povo Maravilhoso, que é a riqueza do pais, é o Povo: não é o petróleo: é um Povo Pacifico, que quando se conhece,   dá tudo por tudo por si. É um Povo que nunca fecha a porta a ninguém"


Se é verdade que ser-se poeta é um dom, dado por divinas inspirações, não menos verdade é que são as vidas , os acasos, os lugares onde se nasce ou por onde se passa que determinam a condição de um poeta. Se, Luís de Camões, não tivesse andado embarcado pelos mares do Atlântico ao Índico, não tinha escrito os Lusíadas, mesmo que escrevesse uns versos, dificilmente o consagrariam para a posteridade. O mesmo teria sucedido a Fernando Pessoa, senão tivesse percorrido o atlântico de Lisboa a Pretória e depois regressado. Jamais a sua alma teria sido iluminada por tanta força poética e por tanto mar. 

Olinda Beja, à semelhança de Almada Negreiros, nasceu em S. Tomé,  na Vila de  Guadalupe em 1946, filha de mãe santomense  e pai natural da Beira Ata, tendo partido  para Portugal, com apenas dois anos de idade.

Se não se tivesse dado esse curioso ou profético acaso, talvez não fosse a poeta que é hoje, sim, se lá tivesse ficado - Por um lado, porque, as imagens de criança, são marcantes para toda a vida, por outro, porque, ao sentir que perdia o elo à sua terra de origem,  houve como que o apelo intrínseco, instintivo,  a essas mesmas raízes, aparentemente perdidas.  Que, de resto, Olinda, ao longo da sua vida, tem procurado  reforçar, através de várias viagens a essas suas ilhas amadas. Lendo poetas e escritores da sua terra natal, convivendo com as suas gentes, com a sua cultura e a sua luxuriante paisagem.  Não foi o caso de José Almada Negreiros, que nunca lá regressou. Mesmo assim, que influência!...  Mas, olhando para aquele rosto, sorridente, expressivo, onde os traços da mestiçagem, da miscigenação africana,   não escondem a sua origem, vê-se, logo num primeiro contato, nas primeiras palavras, que o seu coração fala a linguagem dos trópicos. Das pátrias irmãs, unidas  pela mesma língua e história, pertencendo ambas à mesma comunidade   da CPLP. - E, de que, Olinda se orgulha, e tem sido a militante apaixonada. 

Sim, Olinda Beja, embora, bem cedo deixasse o clima quente e húmido do equador, passando a viver nas terras frias da Beira Alta (em cujos horizontes e espaços rurais, já se inspirou para escrever alguns dos seus mais belos poemas e livros de ficção, como seja " A Casa do Pastor") não tardou a que, um dia, respondesse ao  mágico canto do Ossobó. Aqueles sons que teria ouvido em menina. Quando o seu pai e a sua mãe negra, viviam lá pelo interior da roça - Sons inconfundíveis das lindas aves do paraíso que povoam  as florestas que ensombravam e cobriam  as plantações dos cacaueiros.  

"Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Português/Francês) pela Universidade do Porto, Olinda Beja é docente do Ensino Secundário desde 1976. Ensina também Língua e Cultura Portuguesa na Suíça, é assessora cultural da Embaixada de São Tomé e Príncipe e dinamizadora cultural. Publicou os livros de poemas 'Bô Tendê?', 'Leve, Leve', 'No País do Tchiloli', 'Quebra-Mar' e 'Água Crioula', os romances 'A Pedra de Villa Nova', '!5 Dias de Regresso' e 'A Ilha de Izunari' e ainda livros de contos.

QUEM SOMOS?

O mar chama por nós, somos ilhéus!
Trazemos nas mãos sal e espuma
cantamos nas canoas
dançamos na bruma

somos pescadores-marinheiros
de marés vivas onde se escondeu
a nossa alma ignota
o nosso povo ilhéu

a nossa ilha balouça ao sabor das vagas
e traz a espraiar-se no areal da História
a voz do gandu
na nossa memória...

Somos a mestiçagem de um deus que quis mostrar
ao universo a nossa cor tisnada
resistimos à voragem do tempo
aos apelos do nada

continuaremos a plantar café cacau
e a comer por gosto fruta-pão
filhos do sol e do mato
arrancados à dor da escravidão

Olinda Beja

Alda Graça do Espírito Santo

Poeta santomense: 1926 – Faleceu em 9 de Maraço de 2010
Nasceu a 30  de abril  de 1936 , na cidade de São Tomé, capital do Arquipélago de São Tomé e Príncipe, Alda Neves da Graça do Espírito Santo. Filha de uma professora primária e de um funcionário dos Correios, ainda nova faz seus primeiros estudos em São Tomé. 1940: Em meados de 1940, muda-se com a família para o norte de Portugal, anos depois a família muda-se para Lisboa onde Alda inicia seus estudos universitários. 1950: No início dessa década, morando em Lisboa com a família, Alda Espírito Santo faz contato com alguns dos importantes escritores e intelectuais que viriam a ser os futuros dirigentes dos movimentos de independência das colônias portuguesas de África, como Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, Francisco José Tenreiro, entre outros. A casa de sua família, no número 37 da Rua Actor Vale, funciona como local de encontros do CEA (Centro de Estudos Africanos). Os encontros regulares na casa de Alda promoviam palestras sobre temas diversos como Linguística, História e também sobre a consciência cultural e política acerca do colonialismo, do assimilacionismo e da defesa do colonizado.  Excerto de Vidas Lusófonas - Alda Espirito Santo

Combatente da luta pela independência nacional, poetisa, considerada expoente máximo do nacionalismo são-tomense, pós independência. Alda Graça, morreu em Angola para onde foi evacuada desde a última semana por razões de saúde. Morreu na terra dos seus compatriotas de luta pela independência nacional, como Mário Pinto de Andrade. Um dos nomes de Angola que Alda Graça muitas vezes citou nas suas intervenções públicas. – Excerto deAlda Graça do Espírito Santo

Nenhum comentário :