
Faleceu no
passado dia 15 de Abril, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, aos 86 anos, o
padre Horácio Sacramento Neto que foi coadjutor da Paróquia de Santa Maria de
Belém durante quase 30 anos. Será celebrada Missa do 7º dia, no próximo
Domingo 21/4, às 12h00, na Igreja dos Jerónimos.
O sacerdote nasceu
a 22 de junho de 1932, em São Tomé e Príncipe. Foi ordenado presbítero, naquela
diocese, por D. Manuel Nunes Gabriel, Bispo de São Tomé e Príncipe, no dia 17
de agosto de 1958. Entre 1964 e 1974, foi missionário no Brasil. Depois, entre
1975 e 1980, o padre Horácio Sacramento Neto foi vigário geral da Diocese de
São Tomé e Príncipe. Já em Portugal, o sacerdote foi colaborador da Paróquia da
Amadora, entre 1980 e 1988, e coadjutor da Paróquia de Santa Maria de Belém,
entre 1988 e 2016.
O Bispo de São Tomé e Príncipe, D. Manuel
António, lamentou a morte do padre
Horário Sacramento Neto, antigo vigário-geral da Diocese de
São Tomé e Príncipe tendo-lhe dedicado a “missa crismal” da semana santa Segundo foi noticiado pela Agência STP-Press
Além da
vida sacerdotal, Padre Sacramento Neto, se destacou no campo da literatura,
sobretudo, através da sua obra literária intitulada Milongo que foi
transformada em novela por cadeia de televisão portuguesa e depois espalhada
pelo mundo.
“
Iremos recordá-lo para que ele junto de Deus continue a orar por esta Igreja e
continue em comunhão com este ministério” acrescentou o Dispo da Diocese
São-Tomense.
Relativamente
as relações com o Padre Sacramento Neto, o Bispo D. Manuel António sublinhou
que “ entrei em contacto com ele quando da minha escolha para Bispo de São Tomé
e Príncipe e ele mandou-me uma carta de felicitações e esteve presente na minha
ordenação”. Horácio Sacramento Neto nasceu a 22 de junho de 1932, em São Tomé e
Príncipe; foi ordenado presbítero, por esta diocese, a 17 de agosto de 1958. http://www.stp-press.st/2019/04/16/bispo-lamenta-morte-do-padre-sacramento-neto-e-vai-recorda-lo-na-missa-crismal/

Uma das quais serviu de argumento a uma
série de quatro episódios, de 50 minutos cada um, rodada em São Tomé e Príncipe
e baseada no romance do padre e escritor daquele país africano Sacramento
Netto.
Um dos autores desta ideia, uma produção
conjunta da RTP/RTPInternacioanl e TVS (Televisão de São Tomé e Príncipe) é
Eduardo Gomes (RTPi), um dos coordenadores, com Filipe Gomes(TVS). A adaptação
televisiva é de Jaime Camargo.
Milongo obteve uma Menção Honrosa na X Mostra Atlântica dos Açores, em 1994. http://www.rtp.pt/programa/tv/p7457
Milongo obteve uma Menção Honrosa na X Mostra Atlântica dos Açores, em 1994. http://www.rtp.pt/programa/tv/p7457
PENETA
- Livro de Ficção Africana de autoria de Sacramento Neto
DEDICATÓRIA

A floresta movia-se em convulsão, açoitada
pelo vento rijo que soprava vindo das bandas da vila da Trindade. Suspenso no
topo de uma palmeira, sun Telvino trabalhava como vinhateiro, Elegera a
profissão e preferia-a a qualquer outra. O sol que ainda brilhava no entardecer
tropical, tingia-lhe a epiderme em doirado de âmbar. O negro desbotado da sua
pele e os olhos mongólicos, conjugados com os lábios cafres, acusavam
cruzamento de raças de remotos ancestrais. Não tivesse sido a ilha de S. Tomé,
nos primórdios da colonização portuguesa, interposto comercia] e mercado de
escravos ...
Mais à frente abanavam as largas folhas as
bananeiras que circundavam a sua própria moradia. Idé demorara-se na vila ou
teria já regressado a casa? - interrogou-se. Idé era a sua mulher, a que lhe
satisfazia por completo a alma apesar da sua esterilidade, desde a venturosa
noite de socopé em que se conheceram, já distante no tempo.

-Telvino ê! - chamou. - Mana manda você cumprimento
- Que mana? - quis o homem saber
- Mãe de Angelina – Idé apontou Angelina - sua sobrinha, mocinha u desabrochar,
enquanto fitava Telvino com rosto rnclia111e, iluminado por uma excelente
noticia que trazia da vila. Deu a notícia: - Encontrei mana na feira. ,\Jana
vai baptizar filho dela t' escolheu nós para padrinhos!
Depois de ter dado a inesperada notícia,
ldé riu de pura satisfação.
- Nós, padrinhos?! - reagiu sun Telvino,
forte· mente sensibilizado. - Nós não temos dinheiro para ser padrinhos de
filho de gente.
-Não faz mal! - acudiu Angelina a
encorajar. Angelina morava com o casal ocupando o lugar ela afilhada filha do
vizinho que tinha voltado para a casa dos pais depois da demanda havida. -Tenho
muito gosto - concluiu sun Telvino já de acordo com a escolha. - E você? -
perguntou i1 amiga.
Angelina baixou os olhos doces, lisonjeada
com as palavras da tia.
- Eu não tenho dinheiro para fazer festa,
hem!
- preveniu o vinhateiro.
-Não é preciso fazer festa - tranquilizou
a sobrinha.
- Não fazemos festa mas temos que comprar uma roupinha linda para oferecer ao nosso novo
afilhado - propôs a tia.
-E para mim? Eu não tenho roupa ... -queixou-se
Angelina.
O vinhateiro entrou na acanhada cozinha de
pavimento de terra batida e instalou-se num mocho de pernas desiguais que o fez
balançar. As duas mulheres sentavam-se
num tosco banco colocado ao longo da parede construída com nervuras de andala.
Assim instalados. continuaram a conversar sobre o baptismo de mais um filho ele
san: Má Plentá, mais um da sua numerosa prole.
- Você não tem roupa, pequena? - averiguou
Telvino
- Eu não - confirmou Angelina.
ldé trabalhava tanto, ou mais ainda que
Telvino.
Era ela quem vendia diariamente o vinho
que ele extraía em casa, na vila e às vezes na cidade, quando tinha compras extraordinárias
a fazer ali, Fazia então de palaiê no movimentado mercado da capital. Por esta
razão, Telvino raramente se opunha aos gastos da companheira reco11l1ecendo
nela o seu braço direito.
- Está bem - aquiesceu. - Angelina é nossa
sobriinha e nós ainda não lhe demos nada.
A menina mostrou a sua imensa alegria
fitando com vivacidade ora a tia ora o tio enquanto sorria tomo criança. Houve
uma pausa em que observaram em silêncio a panela de alumínio que fervendo no
fogão rudimentar levantava a tampa leve e vertia em cachão a água que cozia
peixe seco. Idé quebrou n silêncio:
- Amanhã vou vender vinho na cidade.
Compro lá as roupas.
- Eu também quero ir - pediu Angelina.
- Você também vai - concedeu Idé.
- Vocês vão. Na vila, roupa é mais cara e
às vezes não há a que gente quer - advertiu Telvino.
Enquanto conversavam, lufadas de vento
forte entravam pela poria e escoavam-se pelo postigo do recinto pobre. Lá fora,
o sol já morria aos poucos. •\ feliz família ignorava naquela altura as
perturbações que abalariam o seu pacato viver a partir daquele inesperado
baptismo ...
DE SEGUIDA OUTRO PASSO DO MESMO LIVRO – Extraído do
capitulo 13
A opressão da população
negra, iniciada nos meados do século
anterior com a introdução da cultura do café e do cacau, não deixara de
crescer ao longo de dois anos . As
terras de cultivo foram paulatinamente e
por processos ardilosos expropriadas aos naturais que as possuíam
Consolidou-se, assim, a marginalização
dos antigos senhores da ilha, descendentes de cruzamentos entre branco e suas escravas negras .. Houve empenho cm
serem reduzidos a servos das poderosas empresas agrícola' sob posse de
colonos brancos, não obstante a
resistência de elemento como Telvino que se esforçavam por recuperar a todo o
custo a fidalguia perdida. Deu-se então o grande conflito entre o governador da
colónia e a população autoctone, o qual coincidiu com a estadia de
Celestino no seminário de Luanda, para
onde tinha vide encaminhado pelos Padres da Missão.

Vitilo foi uma das vitimas dessas artimanhas, de seguinte maneira: Ele e o colega branco eram
bons amigos. Pararam, naquela tarde, a observar com cobiça incontida as malas de
peixe seco acabadas de desembarcar e amontoadas
no armazém em rumas.
- Vieram de Angola, de Moçâmedes -
informou co colega branco, meio sumido
na penumbra do armazém, onde se
respirava um ar pesado e desagradável.
- Fazia-me muito jeito...
- reagiu Vítilo com sorriso matreiro, entendendo a oferta desonesta. -t
aproveitar. O patrão não estará ... – avançou o diabo tentador.
- 0 patrão não estará?-
inquiriu Vítilo interessado no assunto.
- Não. Irá inspeccíonar a
sua roça. Tem aqui peixe seco para todo o ano. Um ou dois sacos a menos não lhe
fará diferença.
Vítilo rasgou de novo o
sorriso matreiro inclinado a morder o anzol como o tinham feito os peixes dissecados
que ali estavam. Na época, peixe seco era produto de primeiríssima necessidade,
o acompanhante indispensável dum prato de banana ou de fruta-pão
-Tenho medo - encolheu-se
Vílilo.
-0 patrão não chegará a
saber. Eu também vou levar um saco - encorajou o ladino colega. -Agora?
- Agora não. Ainda hã
muita gente na rua ...
Deixo a porta do fundo
sem trancar e volto mais tarde.
- Eu também volto.
Respirou com dificuldade
o ar característico de interior de armazém, a mistura do cheiro dos produtos
armazenados. As malas de peixe seco, em farta importação, amontoavam-se
ordenadamente ao longo
da parede. Quando
estendeu os braços para se apoderar de uma das malas, um intenso foco de
lanterna
de pilha incidiu com
força sobre o seu rosto. O sr. Amaral em pessoa empunhava a lanterna
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