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sábado, 20 de abril de 2019

EVOCAÇÃO DO PADRE HORÁCIO SACRAMENTO NETO, DOMINGO DE PÁSCOA, NA IGREJA DOS JERÓNIMOS, EM LISBOA - MISSA DO 7ª DIA,, ÀS 12.00 HORAS - Coadjutor da Paróquia de Santa Maria de Belém durante quase 30 anos - Devoto Sacerdote e Excelente Escritor Santomense – Uma vida devotada à fé Cristã e à decifração dos pergaminhos históricos menos falados do passado do seu Povo - O Bispo da Diocese de STP, Dom Manuel dos Santos, também recordou a sua partida para eternidade, no passado dia 15



 Jorge Trabulo Marques - Jornalista  - - Um homem humilde  e de uma elevada cultura  e grandeza espiritual - Autor de uma vasta obra  - Tive  o prazer de o conhecer  em S. Tomé, na década de 60, e, mais tarde, em Lisboa, por duas ocasiões - Uma das quais, há seis anos, na 2ª Feira do Livro  de STP - Apresentada no Instituto Português de Desporto e Juventude, organizada  pela Mén Non   Associação das Mulheres de STP -  Tendo-o fotografado e lhe pedido um autógrafo num dos seus livros.
Faleceu no passado dia 15 de Abril, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, aos 86 anos, o padre Horácio Sacramento Neto que foi coadjutor da Paróquia de Santa Maria de Belém durante quase 30 anos. Será celebrada Missa do 7º dia, no próximo Domingo 21/4, às 12h00, na Igreja dos Jerónimos.

O sacerdote nasceu a 22 de junho de 1932, em São Tomé e Príncipe. Foi ordenado presbítero, naquela diocese, por D. Manuel Nunes Gabriel, Bispo de São Tomé e Príncipe, no dia 17 de agosto de 1958. Entre 1964 e 1974, foi missionário no Brasil. Depois, entre 1975 e 1980, o padre Horácio Sacramento Neto foi vigário geral da Diocese de São Tomé e Príncipe. Já em Portugal, o sacerdote foi colaborador da Paróquia da Amadora, entre 1980 e 1988, e coadjutor da Paróquia de Santa Maria de Belém, entre 1988 e 2016.

O Bispo de São Tomé e Príncipe, D. Manuel António, lamentou  a morte do padre Horário Sacramento Neto, antigo vigário-geral da Diocese de São Tomé e Príncipe tendo-lhe dedicado a “missa crismal” da semana santa  Segundo foi noticiado pela Agência STP-Press

Referindo que “O padre são-tomense, Sacramento Neto que foi vigário-geral da Diocese de São Tomé e Príncipe, faleceu segunda-feira em Portugal aos 86 anos de idade, e que o corpo foi  a enterrar depois da missa exequial na Igreja dos Jerónimos.


Além da vida sacerdotal, Padre Sacramento Neto, se destacou no campo da literatura, sobretudo, através da sua obra literária intitulada Milongo que foi transformada em novela por cadeia de televisão portuguesa e depois espalhada pelo mundo.


Em declarações a imprensa, o Bispo da Diocese de São Tomé e Príncipe, D. Manuel António lamentou a morte do padre Sacramento Neto, tendo sublinhado que “ iremos recordá-lo na missa crismal” no quadro da semana santa que termina no domingo da Pascoa.

“ Iremos recordá-lo para que ele junto de Deus continue a orar por esta Igreja e continue em comunhão com este ministério” acrescentou o Dispo da Diocese São-Tomense.

Relativamente as relações com o Padre Sacramento Neto, o Bispo D. Manuel António sublinhou que “ entrei em contacto com ele quando da minha escolha para Bispo de São Tomé e Príncipe e ele mandou-me uma carta de felicitações e esteve presente na minha ordenação”. Horácio Sacramento Neto nasceu a 22 de junho de 1932, em São Tomé e Príncipe; foi ordenado presbítero, por esta diocese, a 17 de agosto de 1958. http://www.stp-press.st/2019/04/16/bispo-lamenta-morte-do-padre-sacramento-neto-e-vai-recorda-lo-na-missa-crismal/

Autor de várias obras – Entre outras  Emma /  Sipaio chefe Vovó Marquinha   Remissão /  A rainha João menino  A diva O mediatário A noiva  A passionária  Camarada Paulino   Alma gémea – Vale Carmo

Uma das quais serviu de argumento a uma série de quatro episódios, de 50 minutos cada um, rodada em São Tomé e Príncipe e baseada no romance do padre e escritor daquele país africano Sacramento Netto.

Milongo quer dizer "feitiço". Um milongueiro é um curandeiro. A história é a de Paulo, um português branco, recém-casado, que vai trabalhar para uma roça, em busca de fortuna fácil e de um regresso rápido e próspero ao Alentejo e à sua ambiciosa mas frágil esposa, Belinha. Só que ali ele encontra a mulata Nencha, que, ajudada pelo curandeiro Caúma, o conquista e dele tem um filho, e só muito mais tarde descobre que ele é casado. A linha central da história é a de um amor entre um branco e uma mulata, mas abrange várias áreas do quotidiano da vida em S. Tomé nos anos cinquenta, focando nomeadamente problemas de relacionamento de trabalhadores com os administradores das roças de cacau. 

Um dos autores desta ideia, uma produção conjunta da RTP/RTPInternacioanl e TVS (Televisão de São Tomé e Príncipe) é Eduardo Gomes (RTPi), um dos coordenadores, com Filipe Gomes(TVS). A adaptação televisiva é de Jaime Camargo.
Milongo obteve uma Menção Honrosa na X Mostra Atlântica dos Açores, em 1994.
http://www.rtp.pt/programa/tv/p7457

PENETA  - Livro de Ficção Africana de autoria de Sacramento Neto

DEDICATÓRIA



Dedico este meu trabalho literário à memória do nosso saudoso pai Alberto Neto, tendo em coma a tua acertada sugestão: '" .. Se me permites, sugiro que dediques o teu próximo livro à memória do pai. Embora em vida tivesse defeitos, as virtudes superaram. Deixou, este mundo sendo amigo de toda a gente; nunca fora acusado de caloteiro, beberrão, fraudulento ou trapaceiro. Conheci-o homem humilde, trabalhador honesto, amigo até dos próprios inimigos ... »



A floresta movia-se em convulsão, açoitada pelo vento rijo que soprava vindo das bandas da vila da Trindade. Suspenso no topo de uma palmeira, sun Telvino trabalhava como vinhateiro, Elegera a profissão e preferia-a a qualquer outra. O sol que ainda brilhava no entardecer tropical, tingia-lhe a epiderme em doirado de âmbar. O negro desbotado da sua pele e os olhos mongólicos, conjugados com os lábios cafres, acusavam cruzamento de raças de remotos ancestrais. Não tivesse sido a ilha de S. Tomé, nos primórdios da colonização portuguesa, interposto comercia] e mercado de escravos ...



A palmeira oscilava ao impulso do vento forte, como cavalo que tentasse derrubar o cavaleiro, mas sun Telvino firmemente encavalitado no seu tronco, preso por cordas consistentes, não temia cair; persistia em perfurar a substância vulnerável a fim de  extrair ali o efervescente e gostoso vinho de palma. Pelo orifício que abrira no topo do tronco, escorreria  durante a noite a seiva generosa, o chamado vinho de palma. Escorreria até encher a cabaça bojuda que lhe pendia da cintura.



Afixou bem no lugar próprio a cabaça, o bico encostado ao orifício, antes de iniciar a descida. Era no alto das palmeiras que ele se sentia bem, dominando a Floresta, o mundo encantado, ora em convulsão quando o vento soprava rijo, ora misteriosa· mente silencioso, nas horas de calmaria. Já no chão, recolheu as cordas com que fazia a escalada das palmeiras, e depois de as ter enrolado em arco, colocou-as a tiracolo. Atravessou o mato sem se apressar, sentindo com agrado o cheiro intenso da erva fresca misturado com o pólen das flores silvestres espelhado no ar pelo vento impetuoso.



Alcançou finalmente o carreiro que tinha de um lado uma vedação de pau-amargoso que protegia a fazenda que fora do seu pai e que passara, por trapaça,  pura propriedade de colono. Pouco depois aproximava-se da casa do vizinho e ouvia a voz aguda orla afilhada  que se tinha criado em sua casa. Ao ouvi-la, lamentou consigo, mais uma vez, o conflito causado por ela que dera em corte de relações entre as duas famílias, a qual durava até àquela data.

Mais à frente abanavam as largas folhas as bananeiras que circundavam a sua própria moradia. Idé demorara-se na vila ou teria já regressado a casa? - interrogou-se. Idé era a sua mulher, a que lhe satisfazia por completo a alma apesar da sua esterilidade, desde a venturosa noite de socopé em que se conheceram, já distante no tempo.

Ao entrar pela cancela de paus desmantelados que dava acesso ao quintal da sua moradia, pequena matilha de cães famélicos acorreu a saudá-lo açoitando-lhe as pernas com as caudas, numa incontida  alegria muda. Bastou um relancear de olhos para se aperceber que a companheira já tinha regressado a casa. Notou seus movimentos na pequena cozinha, o anexo térreo de paredes de ondula. A casa em que morava o casal era de madeira de pau-caixão, e coberta com folhas de ferro zincado. Assente sobre estacas como a generalidade das habitações rústicas da ilha, possuía na fachada um varandim, que descia para o largo quintal por uma curta escada. Passava rente à casinha quando ouviu a voz bem timbrada de ldé:

-Telvino ê! - chamou. - Mana manda você cumprimento

- Que mana? -  quis o homem saber

- Mãe de Angelina – Idé apontou Angelina   - sua sobrinha, mocinha u desabrochar, enquanto fitava Telvino com rosto rnclia111e, iluminado por uma excelente noticia que trazia da vila. Deu a notícia: - Encontrei mana na feira. ,\Jana vai baptizar filho dela t' escolheu nós para padrinhos!

Depois de ter dado a inesperada notícia, ldé riu de pura satisfação.

- Nós, padrinhos?! - reagiu sun Telvino, forte· mente sensibilizado. - Nós não temos dinheiro para ser padrinhos de filho de gente.

-Não faz mal! - acudiu Angelina a encorajar. Angelina morava com o casal ocupando o lugar ela afilhada filha do vizinho que tinha voltado para a casa dos pais depois da demanda havida. -Tenho muito gosto - concluiu sun Telvino já de acordo com a escolha. - E você? - perguntou i1 amiga.



- Eu também. Gente faz o que pode. Mana foi boa quando nos deu Angelina ..

Angelina baixou os olhos doces, lisonjeada com as palavras da tia.

- Eu não tenho dinheiro para fazer festa, hem!

- preveniu o vinhateiro.

-Não é preciso fazer festa - tranquilizou a sobrinha.

- Não fazemos festa mas temos que comprar  uma roupinha linda para oferecer ao nosso novo afilhado - propôs a tia.

-E para mim? Eu não tenho roupa ... -queixou-se Angelina.

O vinhateiro entrou na acanhada cozinha de pavimento de terra batida e instalou-se num mocho de pernas desiguais que o fez balançar. As duas mulheres  sentavam-se num tosco banco colocado ao longo da parede construída com nervuras de andala. Assim instalados. continuaram a conversar sobre o baptismo de mais um filho ele san: Má Plentá, mais um da sua numerosa prole.

- Você não tem roupa, pequena? - averiguou Telvino

- Eu não - confirmou Angelina. 


- 'É verdade. Angelina tem pouca roupa - concordou ldé. - Compramos roupa nova para o nosso afilhado e também para Angelina.

ldé trabalhava tanto, ou mais ainda que Telvino.

Era ela quem vendia diariamente o vinho que ele extraía em casa, na vila e às vezes na cidade, quando tinha compras extraordinárias a fazer ali, Fazia então de palaiê no movimentado mercado da capital. Por esta razão, Telvino raramente se opunha aos gastos da companheira reco11l1ecendo nela o seu braço direito.

- Está bem - aquiesceu. - Angelina é nossa sobriinha e nós ainda não lhe demos nada.

A menina mostrou a sua imensa alegria fitando com vivacidade ora a tia ora o tio enquanto sorria tomo criança. Houve uma pausa em que observaram em silêncio a panela de alumínio que fervendo no fogão rudimentar levantava a tampa leve e vertia em cachão a água que cozia peixe seco. Idé quebrou n silêncio:

- Amanhã vou vender vinho na cidade. Compro lá as roupas.

- Eu também quero ir - pediu Angelina.

- Você também vai - concedeu Idé.

- Vocês vão. Na vila, roupa é mais cara e às vezes não há a que gente quer - advertiu Telvino.

Enquanto conversavam, lufadas de vento forte entravam pela poria e escoavam-se pelo postigo do recinto pobre. Lá fora, o sol já morria aos poucos. •\ feliz família ignorava naquela altura as perturbações que abalariam o seu pacato viver a partir daquele inesperado baptismo ...



DE  SEGUIDA OUTRO PASSO DO MESMO LIVRO – Extraído do capitulo 13  



A opressão da população negra, iniciada nos meados  do século anterior com a introdução da cultura do café e do cacau, não deixara de crescer  ao longo de dois anos . As terras  de cultivo foram paulatinamente e por processos  ardilosos  expropriadas aos naturais que as possuíam Consolidou-se, assim,  a marginalização dos antigos senhores da ilha, descendentes de cruzamentos entre branco  e suas escravas negras .. Houve empenho cm serem reduzidos  a servos das  poderosas empresas agrícola' sob posse de colonos brancos,  não obstante a resistência de elemento como Telvino que se esforçavam por recuperar a todo o custo a fidalguia perdida. Deu-se então o grande conflito entre o governador da colónia e a população autoctone, o qual coincidiu com a estadia de Celestino  no seminário de Luanda, para onde tinha vide encaminhado pelos Padres da Missão.



O Governador da colónia apostara em afirmar a supremacia da população branca sobre a crioula, que, segundo o projecto, seria posta ao nível dos contratados vindos de Angola formando com eles uma única classe, a dos servos ou serviçais. Com tal fim, decretou leis restritivas  de toda a ordem, entre as quais  contava-se  que proibia, sob cominação de penas severas   a extracção do vinho de palma. Eram considerados por lei vadios, indivíduos que teimavam  em viver por conta própria e não como empregado ou servo de colono branco, e como tal, arriscavam-se a ser presos e enviados a trabalhos forçados. Empregos comuns como o de caixeiro de casa comercia, passavam  a ser procurados por europeus desempregado- que fugiam à vida rude das fazendas .Usavam as artimanhas várias para os ocupar.

Vitilo foi uma das vitimas dessas  artimanhas, de  seguinte maneira: Ele e o colega branco eram bons amigos. Pararam, naquela tarde, a observar com cobiça incontida as malas de peixe seco acabadas de desembarcar  e amontoadas no armazém em rumas.

- Vieram de Angola, de Moçâmedes - informou  co colega branco, meio sumido na penumbra  do armazém, onde se respirava um ar pesado e desagradável.



Se queres levar algum saco…. – propôs em voz segredada

- Fazia-me muito jeito... - reagiu Vítilo com sorriso matreiro, entendendo a oferta desonesta. -t aproveitar. O patrão não estará ... – avançou  o diabo tentador.

- 0 patrão não estará?- inquiriu Vítilo interessado no assunto.

- Não. Irá inspeccíonar a sua roça. Tem aqui peixe seco para todo o ano. Um ou dois sacos a menos não lhe fará diferença.

Vítilo rasgou de novo o sorriso matreiro inclinado a morder o anzol como o tinham feito os peixes dissecados que ali estavam. Na época, peixe seco era produto de primeiríssima necessidade, o acompanhante indispensável dum prato de banana ou de fruta-pão

-Tenho medo - encolheu-se Vílilo.

-0 patrão não chegará a saber. Eu também vou levar um saco - encorajou o ladino colega. -Agora?

- Agora não. Ainda hã muita gente na rua ...

Deixo a porta do fundo sem trancar e volto mais tarde.

- Eu também volto.

E voltou, ló. pelas dez da noite. Não resistira à tentação avassaladora. Veio na calada da noite em passos de lã, pelas ruas desertas. Os lampiões eléctricos, colocados a longos intervalos, iluminavam debilmente com luz mortiça as artérias estreitas da pequena cidade. Enquanto caminhava solitário, ainda pensou: Devia ter combinado com o colega amigo a hora do furto, que assim seria em comum, de modo mais seguro. Antes de entrar no armazém, por cautela de última hora, contemplou com vagar o corpo do edifício. Havia em todo ele quietação total, nenhum sinal de viva alma, a indicar que o sr. Amaral tinha ido efectivamente inspeccionar a sua roça.

Respirou com dificuldade o ar característico de interior de armazém, a mistura do cheiro dos produtos armazenados. As malas de peixe seco, em farta importação, amontoavam-se ordenadamente ao longo

da parede. Quando estendeu os braços para se apoderar de uma das malas, um intenso foco de lanterna

de pilha incidiu com força sobre o seu rosto. O sr. Amaral em pessoa empunhava a lanterna






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