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terça-feira, 16 de abril de 2019

Tomaz Medeiros – Poeta e Médico Cego - Ó São Tomé! Vem ajudar um dos teus filhinhos! Que ele quer contemplar a tua Divina Luz - Ele já não volta a S. Tomé – E tão perto do coração! Mas longe dos seus olhos: - O Drama de um poeta e antigo combatente: -“Ir a São Tomé!... Sentir o cheiro da terra, sem poder palpá-la, sem poder vê-la!... Para mim, é muito triste!... Preferia morrer!..

Tomaz Medeiros - Um extraordinário exemplo de  amor, de generosidade, de coragem  e de entrega ao próximo, em prol da liberdade e da justiça,  - Um valoroso combatente e um  grande vulto dos poetas de expressão portuguesa  

Por - Jorge Trabulo Marques - Jornalista, repórter fotográfico e investigador 





A  impossibilidade de contemplar a luz do dia, é um drama terrível para qualquer ser humano – sobretudo para quem a perdeu na curva na vida -  Mas especialmente para um  poeta, e também antigo combatente, quando andou  pelas  densas florestas do Norte de  Angola – É o caso de, Tomás Medeiros, agora com 85 anos, nascido em S. Tomé, que, além de um extraordinário escritor e poeta, é também uma das mais importantes figuras histórias, na luta de Libertação de Angola




Na breve entrevista que nos concedeu, em Maio do ano passado, na Casa Internacional de S. Tomé e Príncipe, (uma parte editada, naquela altura, com a reportagem, acerca do  debate-homenagem  ao papel de Cuba nas independências e consolidação de África,  ele conta-nos  alguns dos passos da odisseia da sua  vida, intensa, de grande generosidade, dedicação  e risco –  Sim, de forma muito sumária, já que a sua vida, daria muitos livros – Além dos que ele já escreveu, desde a poesia, ao romance e aos textos de intervenção



Clike para ouvir a entrevista, depois de alguns sons da música santomense

Tomaz Medeiros – O poeta Cego - “Ó São Tomé vem ajudar os teus filhinhos” que eles querem contemplar com o teu carinho" a tua luz - - O Drama de um poeta e antigo combatente: -“Ir a São Tomé!... Sentir o cheiro da terra, sem poder palpá-la, sem poder vê-la!... É muito triste!... Preferia morrer!...  "Por isso, vai ter que viver o resto da sua vida das recordações que guarda na memória – Ouça os primeiros sons musicais e depois a voz do poeta, que, tendo perdido a vista, não visitará mais a maravilhosa ilha onde nasceu

ELE FOI GENERAL EM CABINDA  - PRIVOU COM COM OS LÍDERES HISTÓRICOS DE TODOS OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO


Tomaz Medeiros, que a PIDE  chegara a classificar como o estudante comunista mais perigoso, quando desempenhou  a coordenação de estudantes africanos, uma corrente anticolonial à frente da Casa de Estudantes do Império, tendo sido obrigado a exilar-se nem Moscovo, pôde,  desde esses recuados tempos, privar com as mais importantes figuras históricas dos movimentos de libertação, entre as quais as duas figuras mais emblemáticas da Guiné e de Angola,  Agostinho Neto e Amílcar Cabral – Com este, nomeadamente, em diversas conferências internacionais – Oportunidade aproveitada para um diálogo, amistoso e aprofundado,  entres dois grandes marxistas convictos. Medeiros, porque vinha com sólidas formação  de vários cursos de marxismo na Cremeira, e, Cabral, porque era a linha que pretendia impor para uma verdadeira libertação da Guiné e Cabo Verde, sob o jugo colonial.

"Eu sou um combatente” É assim como ainda hoje se classifica Tomaz Medeiros, autor de várias obras contra o colonialismo, de poesia e prosa em prospetos, autor do romance “O Pseudo-socialismo em Angola e uma novela, dedicada ao mesmo tema a S. Tomé e Príncipe. A sua última obra, foi publicada em 1012, com o título A Verdadeira Morte de Amílcar Cabral 



De seu nome, António Alves Tomaz Ribeiro,  filho de José Tomaz Alves de  Medeiros e de Polónia Tomaz de Almeida, nasceu em S. Tomé no dia 5 de Novembro, de 1931. Terminada a instrução primária, aos 13 anos, e, tal como a generalidade dos santomenses, como os  seus pais, não tinham possibilidades económicas, começou a trabalhar numa barbearia, como vendedor de jornais e vendedor de carvão, depois numa loja comercial. 

Porém, nada disso lhe interessava, a sua vocação era outra: destinos ousados o aguardavam. Então os seus pais mandaram-no para Nova Lisboa, Huambo, onde fez o primeiro ciclo liceal, após o que, três anos mais tarde,  parte para a capital do Império  para concluir os dois anos que lhe faltavam e inscreve-se na Faculdade de Medicina - De nada lhe valeu: como estava ligado à atividade politica, foi denunciado pela PIDE e por uma organização da extrema direita, como sendo um dos estudantes comunistas mais perigosos em Portugal, o que lhe valeu um mandato de captura – Para não ser preso, fugiu para Moscovo, onde cursa medicina, trabalha como locutor na Rádio de Moscovo, é Secretário-geral dos Estudantes Africanos na Europa,   Secretário-Geral dos Estudantes Africanos na União Soviética, colaborador da Academia das Ciências e investigador numa biblioteca.

Três anos depois parte para Crimeia onde conclui o curso de medicina . Não sendo obrigatório o exercício da profissão para os estrangeiros, paralelamente faz a cadeira de latim e vários cursos de formação política:  o  Curso de Academia política,  o de História do Partido, de Marxismo Leninismo e o Curso de Medicina Militar  - Volta ao continente africano, a Brazzaville, onde o MPLA tinha a sua sede. Dali parte para Cabinda onde é médico militar e dos refugiados, professor de instrução revolucionária, tendo chegado à patente de General – Oportunidade de alto combatente que lhe deu a possibilidade de privar  com todos os líderes históricos dos movimentos de libertação: desde Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Ângelo Cabral,  Francisco Tenreiro, Fernando de Sousa, Marcelino dos Santos, Eduardo Mondlane  - Reconhece que a sua relação, com S. Tomé e Príncipe, era muito estreita, porque, naquela altura, os elementos envolvidos na guerrilha, não tinham possibilidade de viajar, tendo ido lá apenas duas vezes mas em viagens muito curtas. 


MEU CANTO EUROPA

Agora,
agora que todos os contactos estão feitos
as linhas dos telefones sintonizadas,
os espaços dos morses ensurdecidos,
os mares dos barcos violados,
os lábios dos risos esfrangalhados,
os filhos incógnitos germinados,
os frutos do solo encarcerados,
os músculos definhados
e o símbolo da escravidão determinado.
Agora,
agora que todos os contactos estão feitos,
com a coreografia do meu sangue coagulada,
o ritmo do meu tambor silenciado,
os fios do meu cabelo embranquecidos,
meu coito denunciado e o esperma esterilizado,
meus filhos de fome engravidados,
minha ânsia e meu querer amordaçados,
minhas estátuas de heróis dinamitadas,
meu grito de paz com os chicotes abafado,
meus passos guiados como passos de besta,
e o raciocínio embotado e manietado,
Agora,
agora que me estampaste no rosto
os primores da tua civilização,
eu te pergunto, Europa,
eu te pergunto: AGORA?

Tomaz Medeiros


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