
.“Não foi por acaso que o meu sangue veio do sul
se cruzou com o meu sangue que veio do norte
não foi por acaso que o meu sangue que veio do oriente
encontrou o meu sangue que estava no ocidente
não foi por acaso nada do que hoje sou
desde há muitos séculos se sabia
que eu havia de ser aquele onde se juntariam todos os sangues da terra
e por isso me estimaram através da História
ansiosos por este meu resultado que até hoje foi sempre futuro.
Postagens sobre Almada Negreiros, neste blogue https://canoasdomar.blogspot.com/2016/03/descobrimentos-de-s-tome-e-principe-nao.htmlhttps://canoasdomar.blogspot.com/2015/04/almada-negreiros-nasceu-na-ilha-de-s.htmlhttps://canoasdomar.blogspot.com/2014/12/sao-tome-museu-almada-negreiros-na-roca.htmlhttps://canoasdomar.blogspot.com/2013/04/almada-negreiros-comemoracoes-dos-120.htmlhttps://canoasdomar.blogspot.com/2014/11/sao-tome-39-anos-depois-roca-saudade.html
Joaquim Victor, que recolheu vários apoios em Portugal, menos oficiais “por se tratar de uma iniciativa particular”, é, com certeza, agora um homem muito feliz. Teve a gentileza de nos dar a boa nova, há dois anos, através de um telefonema

Imagens registadas no ano de sua morte - em 2009
COMO O TEMPO
PASSA...
- Sim, como o tempo passa!... Até parece que foi ontem, que
eu e o meu amigo, o pintor João Neves, tomávamos um café com ele na Calçada
do Combro, na Pastelaria Oreon, com vista a combinar a sua deslocação à
Roça Saudade - Era a terceira vez que falava com ele, depois que o conhecera
nos habituais convívios do Botequim de Natália Correia situado no Largo da Graça, em
Lisboa.

O último encontro foi casual e ocorreu na esquina da Calçada do Combro, com a Rua Marchal Saldanha, tendo-o convidado a tomar um café, sugerindo-lhe a possibilidade de o acompanhar numa visita à Ilha de São Tomé, para ali ir conhecer as instalações (já em ruinas) onde seu pai viera à luz do Equador, sugestão que ele aceitou com muito agrado, acrescentando que era um sonho que alimentava há muito tempo. Dia para a dia para nos voltarmos a encontrar e acertar essa viagem (pois deu-me um cartão com a sua morada e o contacto) agora é tarde de mais.

Artista multidisciplinar que se dedicou fundamentalmente às
artes plásticas e à escrita, ocupando uma posição central na primeira geração
de modernistas portugueses.
Quem
gostaria de também ali estar era o seu filho Arquiteto José Afonso
Almada Negreiros, que, no mesmo ano em que falecera, nos chegara a
manifestar o seu grande desejo de ir conhecer a Roça onde seu pai
nascera
José de Almada
Negreiros nasceu em São Tomé na Roça Saudade, freguesia da Trindade, às 3
hora da manhã do dia 7 de Abril de 1893.
Da terra da sua
naturalidade foi arrancado, na tenra idade de 2 anos, e transportado para
Lisboa, em 23 de Abril de 1895, passando a viver em Cascais, em casa dos avós e
tios maternos, da família Freire Sobral.


«Aos vinte e quatro dias do mez de Junho do
anno mil oitocentos e noventa e três, nesta Egreja Parochial da Santíssima
Trindade, Concelho de S. Thomé, Diocese de S. Thomé e Príncipe, baptizei
solemnemente um indivíduo do sexo masculino, a quem dei o nome de - JOSÉ- e que
nasceu nesta freguesia, na Fazenda Saudade, às três horas da manhã do dia sete
do mês d' Abril do anno de mil oitocentos e noventa e tres, filho illegítimo de
digo legitimo de António Lobo d' Almada Negreiros, casado, natural de Portugal,
proprietário, agricultor e de Dona Elvira Sobral de Almada Negreiros, casada,
natural desta freguesia, proprietária, parochianos desta freguesia, moradores
na mencionada Fazenda, neto paterno de Pedro d' Almada Pereira e de Margarida
Francisca de Almada Lobo Branco de Negreiros. Foi padrinho José António Freire
Sobral, casado, proprietário e agricultor e madrinha Dona Marianna Emília de
Souza Sobral, casada, proprietária e agricultora, os quaes todos sei serem os
próprios. E para constar lavrei em duplicado este assento que depois de ser
lido e conferido perante os padrinhos comigo o assignaram”-In Almada Negreiros Africano - António Ambrósio


Este o poema que, seu pai, lhe dedicaria, no livro
Equatoriaes, escrito no dia 7-4-1894 -
Ou seja, um ano depois do seu nascimento:
Um anno! Um beijo de luz
Na tua fáce, criança!
Suavíssima esperança
Que desabrócha e seduz!
Nunca se acábe a bonança
Que a tua frônte tradúz,
Como um beijo de Jesus
Da Mãe na virginea trança
António Lobo de Almada Negreiros

Os meus olhos não são meus, são os olhos do nosso
século", palavras recordadas na exposição dedicada a um dos artistas mais
ativos e completos do modernismo português, que "tentou fixar uma
linguagem universal".

Atravessa-se
a exposição com uma sensação de familiaridade – Almada Negreiros faz parte de
um certo imaginário colectivo quando se fala da arte do século XX em Portugal –
e de descoberta. Os inéditos são muitos e surpreendentes: uns, como o retrato
de Tareca, uma das meninas da alta burguesia lisboeta com quem o artista cria
os seus bailados, não parecem sequer feitos por ele; outros, como o que terá
pertencido a Gonçalo de Mello Breyner, tio de Sophia e amigo de Almada, mostram
corpos de género indefinido cobertos por linhas finas e são como um mistério. https://www.publico.pt/2017/02/03/culturaipsilon/noticia/o-homem-que-quis-comer-todas-as-artes-1760305


– A Fundação Gulbenkian, há dois anos,
dedicou-lhe uma exposição especial,
"José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno",
constituída pelo roteiro artístico
de 400 obras do trabalhos, acompanhada pela edição de um livro,
"cujos olhos mostraram o século XX". O próprio Almada Negreiros
(1893-1970) admitia que os seus olhos eram grandes, "e que se tornaram uma
metáfora para a condição do artista que tem de olhar para o mundo",
recordou, no ato inaugural, Mariana Pinto dos Santos, a organizadora da
historiadora de arte e investigadora.
São 400 obras distribuídas por duas grandes galerias, muitas delas
inéditas. Pintura, desenho, vitral, cerâmica, cinema, novela gráfica, teatro,
dança... Almada Negreiros, “o omnívoro”, numa exposição que quer mostrar que o
modernismo pode ter várias caras, é plural


A ROÇA SAUDADE: UM SONHO E UM BERÇO
"A casa onde Almada
nasceu, na sede da Roça Saudade – diz ainda António Ambrósio – “estava suspensa
sobre uma profunda grota, e aberta a nascente, por uma varanda corrida, ao
estilo tropical, para um mar de verdura, que, depois da primeira quebra, se
espraiava, numa ondulação aparentemente suave, por vários quilómetros de
extensão, em forma de leque rendilhado, até ao mar-oceano.
"Almada, todas as peças da mesma
coisa"
"Olhar para Almada Negreiros, O
menino d'olhos de gigante, é ver muitos: o Almada das Belas-Artes, o Almada das
Letras, o Almada da Geometria, o Almada dos palcos e das performances ... E,
dentro destes, tantos outros. Tantos que se torna fácil imaginá-lo dentro do
tudo com que ele próprio assinou o Manifesto Anti-Dantas e por extenso (1916):
«José de Almada-Negreiros Poeta d'Orpheu Futurista e Tudo». - Por Sílvia
Laureano Costa"
(...) "Pela sua obra plástica, que o classifica entre os primeiros valores da pintura
moderna; pela sua obra literária, que vibra de uma igual e poderosa
originalidade; pela sua ação pessoal através de artigos e conferências -
Almada-Negreiros, pintor, desenhador, vitralista, poeta, romancista, ensaísta,
crítico de arte, conferencista, dramaturgo, foi, pode dizer-se que desde 1910,
uma das mais notáveis figuras da cultura portuguesa e uma das que mais
decisivamente contribuíram para a criação, prestígio e triunfo de uma
mentalidade moderna entre nós". Assim apresenta Jorge de Sena, no primeiro
volume das Líricas Portuguesas, o homem que, com Fernando Pessoa e Mário
de Sá-Carneiro, mais marcou plástica e literáriamente a evolução da cultura
contemporânea portuguesa
Órfão desde tenra idade, viajou para Lisboa com sete anos para casa de uma tia materna. Frequentou os estudos primários e liceais em Lisboa, no Colégio Jesuítico de Campolide, Liceu de Coimbra e Escola Nacional de Lisboa. Entre 1919 e 1920, seguiu estudos de pintura em Paris, aí trabalhando como bailarino de cabaré e empregado numa fábrica de velas, redigindo na capital francesa muitos dos textos e grafismos que viriam a ser célebres, como o "autorretrato". Viveu entre 1927 e 1932 em Espanha, onde realizou várias encomendas para particulares e públicos – Excerto de Almada-Negreiros -
Voltaste enfim ao regaço das palmeiras
onde serpentes volteiam
e navegam na claridade. Voltaste
porque os teus olhos mitigavam
palavras entontecidas cheias de água fresca
da Cascata. Voltaste trazendo cânticos
de outras terras
cânticos de trovadores desconhecidos
teceste roupas diferentes mas sempre
com as cores das buganvílias da Saudade
apagaste pegadas antigas no luchan
da tua meninice. Mas voltaste!
esperaste que o ranger da porta
da casa onde nasceste se prolongasse
no júbilo do teu regresso
hoje
sentado no presídio da marginal
onde ninguém nota o teu vulto altivo e belo
só eu sei que voltaste
e por que voltaste
Olinda BEJA in "Água Crioula" Pé-de-Página
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