Jorge Trabulo Marques - Jornalista
A
Plataforma Cafulka, tem desenvolvido
variadíssimas acções criativas,
sendo justamente considerada como que um autêntico laboratório para as suas
pesquisas socio-artisticas, com vista a gerar um
movimento artístico capaz de influenciar transversalmente todas as disciplinas
criativas santomenses e do universo lusófono em Portugal.
Começou a pintar desde muito novo, tendo participado numa
exposição comemorativa do aniversário da independência do país, com 13 anos
apenas Em 1982 conheceu Protásio Pina e Cesaltino da Fonseca, expoentes máximos
das artes plásticas em São Tomé e Príncipe na época, que dirigiam o sector de produção
de cerâmica na olaria de Almerim, onde aprendeu a trabalhar barro e cerâmica.
Influenciado por Protásio, começou a pintar a óleo. Mais tarde, trabalhou com
mestres coreanos em pintura de cenários e montagem de quadros humanos para
espectáculos e jogos de ar livre.
Vive em Portugal, há mais de uma década, para onde se deslocou graças a uma bolsa de
estudos para estudar Pintura— Aqui se formou Estudou Artes Plásticas e
Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. E aqui também
casou e constituiu família, regressando a S. Tomé, sempre que lhe é possível mas o seu grande sonho é voltar
a viver na sua linda ilha. “Por isso,
não perdi contacto com ela e com as pessoas e sistematicamente vou criando
iniciativas e pretextos de colaboração profissional para lá ir- Declarou numa
entrevista, em Nov de 2016, ao STPDigital, da qual tomámos a liberdade de
transcrever alguns excertos.
“Quando penso em São Tomé e Príncipe o que penso, primeiramente, é na sua exuberante beleza natural com enormes potencialidades a serem exploradas e de tornar-se um território de esperança de boa qualidade de vida para a sua população residente. Penso a seguir na miséria espiritual da classe dominante, num país desorganizado e na pobreza do povo insular que sonha com uma nação digna".
“Quando penso em São Tomé e Príncipe o que penso, primeiramente, é na sua exuberante beleza natural com enormes potencialidades a serem exploradas e de tornar-se um território de esperança de boa qualidade de vida para a sua população residente. Penso a seguir na miséria espiritual da classe dominante, num país desorganizado e na pobreza do povo insular que sonha com uma nação digna".
ISMAEL
SEQUEIRA - CERAMISTA E PINTOR - PREDOMINÂNCIA DOS AMARELOS E RUBROS
SOLARES NOS SEUS QUADROS - TALVEZ PELO FACTO DA SUA ILHA SER
DEMASIADO MARCADA PELOS VERDES? - LÁ O CREPÚSCULO É RÁPIDO MAS DEIXA TONALIDADES QUE INCENDEIAM E PACIFICAM A ALMA - SERÁ ESTA A SUA INFLUÊNCIA?
"Cores, cores e
mais cores"
(...) Ismael
utiliza cores muito vivas nas suas obras. Perguntamos-lhe o motivo: “É verdade
que utilizo muito nas minhas pinturas cores vivas, mas gosto sobretudo de fazer
altos contrastes. Mesmo quando utilizo cores frias. Através das cores manifesto
o meu estado de espírito e a psicologia das cores aponta caminhos para bem
interpretá-las.” Observar a natureza ou o meio social no universo urbano em que
vive, influenciam muito a sua escolha de cores da ideia que pretende comunicar.
Nas suas obras, muitas vezes, as cores sobrepõem-se às formas. A utilização de
cores vivas servem para comunicar com maior realce a intencionalidade das suas
ideias.
(...) Quando
pensa em São Tomé e Príncipe o que lhe vem a cabeça?

O
artista disse ao STPDigital que não pode ficar indiferente a falta de
sensibilidade do Estado Sãotomense em apoiar a nossa cultura como um pilar
estrutural para o desenvolvimento humano, económico e social do país. “Há
pessoas interessantes preocupadas com as questões culturais, mas sem influência
política não podem fazer nada numa terra onde tudo só funciona na auto-estrada
política”. Ismael criticou, igualmente, todos os outros agentes socioculturais
que nada fazem para alterarem este ciclo e falou na necessidade de uma
revolução cultural. “A Revolução Cultural faz-se sem dinheiro. Faz-se com a
consciência da necessidade de mudar tudo o que está mal apelando aos bons
valores sociais vitais para o bem colectivo”. Ismael acredita que através da
arte e da cultura, os agentes desta especialidade podem exercer influências
positivas capazes de transformar o país. “As artes plásticas deram este sinal e
que vem crescendo há quase trinta anos. E podemos ir mais longe se tivermos
visão e maior ambição. Temos mais artistas no activo desde a Independência
Nacional, temos uma Bienal de Arte e Cultura, que ajuda a projectar a qualidade
das nossas artes, temos um pequeno movimento artístico-cultural fora do país
que dimensiona o melhor que São Tomé e Príncipe tem neste domínio”, acrescentou
o artista.
Arte para todos vs “Arte Elitista”
Como artista que é, Ismael admitiu que, infelizmente,
a arte é elitista. “Mas é verdade que no nosso quotidiano somos confrontados
com diversos objectos de arte e vivemos paralelamente com soluções criativas
interessantes. A arte pode ser para todos. A arte pública é uma solução para
oferecer ao público a fruição da criação artística através da escultura,
instalação, arte urbana, performance, espectáculos de música e dança na rua,
fotografia vitrinismo, videomaping, arquitectura, etc.” O artista frisou o
papel das galerias e museus, que podem oferecer entrada gratuita uma vez por
semana para que o público se interesse mais pela arte. “Para que a arte chegue
mais facilmente a maioria das pessoas há que se investir mais nela. Há que se
investir muito mais na cultura não só como entretenimento mas como veículo de
comunicação e formação do sujeito humano.”
Dá-nos como exemplo, o Projecto URB da Plataforma
CAFUKA, que desenvolve projectos efémeros de arte pública com o objectivo de
levar a arte ao público comum com mais facilidade. Em 2011, o projecto foi
experimentado em São Tomé. Ismael cita também a CACAU como outro exemplo de
investimento cultural que merece toda a atenção nacional por oferecer uma
produção de bens artísticos e culturais grátis à população em geral, incluindo
a formação em algumas áreas artísticas. “Tem aparecido igualmente alguns apoios
isolados de individualidades e mecenas do país que o devem continuar a fazer”.
O artista sãotomense disse ainda que o apoio do Centro Cultural Português, da
Aliance Française de São Tomé e Príncipe e, mais recentemente, do Cento
Cultural Brasileiro tem sido um contributo importante na melhoria da produção e
difusão dos valores culturais nacionais para que a arte chegue com maior
regularidade às pessoas. “E penso que elas devem estar atentas a todas estas
ofertas”.
A Cultura Nacional
Para Ismael, o estado investiu mais e melhor na arte e
na cultura nos anos 80. “A arte em si continua a cumprir o seu papel de
condicionar no observador a reflexão das principais temáticas propostas de que
a sociedade vive. O estímulo a produção artística e cultural é feito também dos
contextos em que a própria sociedade vive. O ambiente fértil para a crítica,
para reflexão e produção artística é o de crise, sistemas fechados e grandes
acontecimentos. Estes estimulam a criatividade. Abre espaço para a encenação
teatral, em que a literatura, a pintura, a escultura e a música também procuram
protagonismo para se afirmar como veículo de comunicação”. O artista disse que
a cultura sãotomense fora do país tem alcançado espaço, principalmente em
Portugal, enquanto no próprio país tem se mantido estável. “Em Lisboa, a
vivência de algumas tradições religiosas e festas regionais cresceram, a
afirmação da identidade através dos trajes femininos e hábitos alimentares melhoraram,
as artes plásticas e a literatura tem ganho maior protagonismo, surgiram três
bandas musicais de matiz musical sãotomense. Isto tem um significado e merece a
nossa maior atenção.”
Mas, segundo Ismael, apesar de estável, o estado da
cultura não está bem. “Necessita de urgente investimento. Investimento nos
quadros humanos especializados, em infraestruturas, na conservação e
preservação do património cultural tangível e intangível, na criação de
organismos especializados na gestão de bens culturais, criação de equipa e
projectos de investigação de bens culturais, paisagísticos e geológicos, etc.”
Ismael destacou também a necessidade urgente de cuidados que as roças
necessitam para se reerguerem como organização económica e cultural.
Para o artista, a cultura nacional necessita de uma
dinâmica que trace novas orientações para que os valores da nossa memória
colectiva resistam no tempo e que as futuras gerações deles se beneficiem. Entrevistado
por Katya Aragão – Todos os pormenores em https://stpdigital.net/2016/11/09/ismael-sequeira-a-revolucao-cultural-faz-se-sem-dinheiro/
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