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terça-feira, 28 de julho de 2015

Em S. Tomé – É hoje: no Centro Cultural Português - A minha exposição: SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS – 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA. Venha juntar-se ao júbilo da concretização de um maravilhoso desejo: viajar comigo pelos mares do Golfo da Guiné - “Um mapa de Sonho à Flor do mar.





(imagem obtida algures no Golfo da Guiné - Nov. de 1975

Finalmente, chegou o dia, de poder  mostrar  a exposição das minhas aventuras marítimas no Golfo da Guiné – Se puder, não deixe de me dar o prazer e a honra da sua presença amiga  - É logo ao fim da tarde, pouco depois do pôr-do-sol, às 18 horas, no Centro Cultural Português, ali junto à margem esquerda do Água Grande, no coração mais palpitante da capital destas maravilhosas ilhas - Sim, graças à compreensão e ao louvável acolhimento da Embaixada de Portugal em São Tomé e Príncipe vou poder concretizar um velho sonho: apresentar a exposição fotográfica e documental, que esteve patente no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, de 10 de Março a 10 de Abril de 1999, inserida no espírito da Expo98, “Os Oceanos”, subordinada ao título: SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS – 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA.

UM MAPA DE SONHOS Á FLOR DO MAR


Estas fotografias não são apenas o registo mecânico de uma aventura no meio do mar.
Elas são pontos de relevo num mapa de sonhos.

E – também – roteiro dum teimoso repúdio ao conformismo e à indiferença.
Tudo isto sem deixar de ser – em paralelo – um testemunho das situações limite
em que um homem defronta os desafios da Natureza com as hesitações da sua condição
aliadas apenas ao ânimo da sua vontade.

Imagens recuperadas dum naufrágio subitamente colocado ao contrário pela rápida transformação duma derrota em vitória, esta exposição é o lugar mágico do reencontro com a serenidade dos sonhos perfilados.Ou seja – suspensos no quotidiano mas prontos a soltarem-se ao encontro de todas as travessias...
José do Carmo Francisco
22.06.94.


O objetivo desta exposição é associar-me ao espírito das comemorações do 40.º aniversário da Independência de São Tomé e Príncipe; mostrar à população destas encantadoras ilhas, às generosas e pacíficas gentes deste jovem país, das quais tenho as mais gratas recordações, um conjunto de várias fotografias, artigos, excertos do meu diário de bordo, entre outros documentos, das minhas aventuras marítimas e da escalada do Pico Cão Grande, com a colaboração de uma corajosa equipa de santomenses. Espólio que, no termo da exposição, gostaria de doar ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe.

A minha singela Homenagem aos bravos pescadores de S. Tomé – A quem devo, em grande parte, estas minhas aventuras;

A Vós bravos homens do mar! - A vós heroicos
pescadores, testemunhos mártires de um povo antigo,
raízes sofridas em pavorosos naufrágios, sangue derramado e vertido,
na opressiva ocupação e domínio da vossa maravilhosa terra,
a vós, meus irmãos dos mares! - A vós meus amigos!
Eu me dirijo e vos saúdo, lídimos filhos das águas,
pioneiros de um longínquo e histórico passado,
legítimos herdeiros de uma ancestral memória...
Viajantes hábeis,  mestre e corajosos marinheiros
vindos da Mãe-África, de lá embarcados,  de lá idos,
sulcando estranhas águas, enfrentando violentos tornados
ou prolongadas e podres calmarias e sol abrasivo,
velejando e remando, noites e dias inteiros
navegando em mar aberto e desconhecido!

Aqui vos evoco: mares das epopeias anónimas
e das muitas tragédias sem glória e sem história!
De muito sofrimento, angústias, dores!
- Vós, mares do antanho e do presente,
sabeis, como ninguém, quantas vidas já destroçastes
a esses humildes  mas arrojados  pescadores!...

 

MARES DA MINHA VIDA...

A vós, lendários mares do sul, eu vos saúdo
com todo amor e bondade do meu coração!
Eu vos bendigo em exaltação ao génio Criador!
Eu vos evoco pelos momentos de rara beleza e de imensa alegria,
e também de outros de não menor tristeza e dor, por mim vividos,
durante dias e dias a fio, no meio da vossa vastidão!
- Obrigado por haverdes compreendido a minha temeridade.
a minha intenção!... Fui um homem de sorte!... - Obrigado, também,
por, antes de mim, haverdes poupado outras vidas às garras da morte!

Recordo e choro, às vezes, ainda o pesadelo,
a angústia sentida desses cruciais instantes!...
Relembro-os e perscruto-os de olhar triste e magoado,
como se estivesse ainda a ver as cristas brancas
a ondularem ao largo, a levantarem-se do fundo das sombras,
tão altas que até quase tocavam as difusas estrelas,
e, subitamente, a estrondearem e a desfazerem-se ao meu lado!
- E eu, pobre de mim, vagueando, nesse horror alucinante!...
Rolando, rolando, pela noite adiante, só e desamparado!
Errando, errando, na pequena piroga, sem rumo e sem destino,
no meio do tumulto avassalador, no centro rodopiante,
do turbilhão fervente e ameaçador! - Transido
pela humidade! Ensopado como um trapo. Mortificado
pela sede e esfomeado!… Um verdadeiro farrapo!
Todavia, lutando, resistindo,
não resignado, não vencido!

(…)
Ó ondas lívidas e soluçantes! Ondas lúgubres
e agrestes dos trágicos naufrágios! - Ainda hoje
aos meus ouvidos, vão ecoando, vão soando, repercutindo,
os ecos de todos os estrondos, sílvios e ruídos
da vossa portentosa orquestra! Ainda agora ouço o ressoar
de todos esses sons! - No marulhar de vós, distingo - ó impiedosa
negridão! -, por entre o rebentar e o estertor dos vossos rugidos,
o imenso clamor dos gritos, os rumores dos milhentos gemidos,
choros e súplicas, os ecos das imensas vozes aflitas,
perdidas, já agonizantes, moribundas, das pobres almas
que foram tragadas! - Sim, dos inumeráveis desgraçados
que se perderam, que foram esquecidos, abandonados,
no louco torvelinho das águas!

Ai de vós, ó pobres náufragos!
Ai de vós, desventurados! - Foi horrível
o vosso sofrimento - eu sei! Também experimentei
no corpo e no espírito o mesmo drama!
Porém, se estais em paz no outro mundo, continuai em paz
no mesmo limbo! Esquecei o infortúnio que cedo vos levou!
Não o choreis!... Ninguém mereceria as vossas lágrimas!
- Naqueles momentos fatídicos, tudo permaneceu impassível!
Ninguém se compadeceu com a vossa aflição e vos estendeu a mão!
Lá do alto, um silêncio de morte, e em redor,
o mundo a desabafar sobre vós, a sepultar-vos!
Tudo vos abandonou e vos esqueceu!...

Jorge Trabulo Marques

O longo tormento de 38 dias


A canoa havia sido carregada, ao largo da Cidade São Tomé no pesqueiro americano Hornet, que ali deixara um tripulante hospitalizado. Como os ventos e as correntes, são dominantes do Sul para Norte, eu precisava de ser largado na corrente equatorial, um pouco a Sul da Ilha de Ano Bom, que é onde a Corrente de Benguela se divide: uma parte vem perder-se a Norte do Golfo e a outra deriva em direção ao Equador para o coração do Atlântico, até voltar para sul, junto à costa brasileira, num périplo que desce até quase ao Oceano Antártico, confluindo depois para a costa africana.


O comandante, desse pesqueiro, comprometeu-se a largar-me naquela corrente, mas faltou à palavra. Ou antes, fez tudo para que eu ficasse a bordo a trabalhar e não me metesse nessa aventura - na travessia oceânica - visto achar demasiado arriscada a minha ousadia, até porque, os dias de viagem até à ilha de Ano Bom, haviam sido marcados por constantes tempestades tropicais. Especialmente ao fim da tarde e à noite. Em que ninguém podia parar no convés: as vagas varriam-no de proa à popa. E muitos tripulantes, tentavam dissuadir-me: "Fique connosco!... Você vai morrer!... Fique connosco! A sua canoa não vai resistir"

E, de facto, ninguém se atrevia a expor-se ao vento e à chuva. À fúria do mar. Eu olhava a escuridão, por detrás das escotilhas e fixava os olhos bem abertos na borbulhante e pálida espuma, ouvia o marulho das vagas a desfazerem-se contra o casco e galgarem-no!... Olhava e escutava pasmado a sua inaudita violência com alguma apreensão, mas estava determinado...


Nada deste mundo podia demover-me!... Sentia-me ao mesmo atraído por uma espécie de resistível desafio e tenebroso fascínio...Sentia que o palpitar do meu coração precisava de vibrar ou se aquietar com a palpitação do mar. Os meus olhos só queriam espraiar-se e deleitar-se com o imenso azul clarinho dos dos céus e o azul profundo da vasta superfície oceânica.

VALE A PENA SACRIFICAR A VIDA POR UM IDEAL QUANDO SE TEM A CONVICÇÃO DE QUE O ESFORÇO É PLENAMENTE MERECIDO E JUSTIFICADO.


                     “Contar-te longamente as perigosas
                      Cousas do mar, que os homens não entendem,
                       Súbitas trovoadas temerosas,
                       Relâmpagos que o ar em fogo acedem,
                       Negros chuveiros, noites tenebrosas,
                       Bramidos de trovões que o mundo fendem,
                       Não menos é trabalhos que grande erro,
                        Ainda que tivesse a voz de ferro.”

                                      Camões




CONVITE (A)MAR O MAR

Ó poetas!
Sonhadores de ilusões e mistérios
Vinde pelo mar em frente!
Solitários ou com outra gente!
Vinde ver o mar!
Aqui há sombras de pasmar
Silêncios infinitos
Vozes a falar de abismos
Chamamentos ocultos
Gargalhadas, risos,
Delírios! Loucuras e gritos!
Marulhos a ressoar
Explosões, estrondos de atordoar
Espaços puros, abertos!
Fumos, nevoeiros etéreos!
Vastos desertos de embriagar os sentidos.
- Poetas! Vós que amais o mar
Vinde, vinde ao mar!

Jorge Trabulo Marques

Vinde ver a frondosa fronte do mar
A sua violência verde, os seus turbilhões brancos.
Vinde ver os deuses que ainda não morreram,
com a sua nudez de vagas harmoniosas,
De sinfonias ondulantes, de lamentos tumultuosos.
Vinde ver o que ainda está vivo com as suas artérias,
As suas extensas planuras com vagarosas luas.
Vinde ver a escultura monótona e brilhante
Das suas águas primitivas com seus peixes luxuriantes.
Esta é a plenitude da lava, da limpidez do sémen
Do mundo, a vivacidade das aéreas áreas
Que se inscrevem nas águas com a vibração primeira
Dos primeiros pés virgens que sulcaram as ondas.
Quem poderá esquecer essas panteras fugidias
Que ondulam, como luas nas faixas da água?
Só no mar o sol é sorriso do ocidente
E nele mergulha o azul com a lentidão de um astro.
Vinde, vinde ver o reino que ainda existe
Que se respira a luminosa esteira dos deuses.

António Ramos Rosa - 30.01.95

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