Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Nos tempos conturbados da era do vazio em que o mundo parece resvalar, em que o egoísmo e o interesse individual se sobrepõe num afunilar, crescente e impiedoso, da chamada aldeia global, de que o liberalismo selvagem se apoderou e perverteu, transformando países em meras quintas ou empresas de sociedade anónimas, fazendo do espaço de milhões a sua única coutada, em detrimento do bem-estar e progresso social coletivo, sim, é saudável que os bons exemplos, prossigam e nunca sejam esquecidos - Sobretudo por parte daqueles que deram abnegadamente o seu esforço, pondo em causa em risco a sua própria vida, adiando até os seus estudos académicos, tal foi o caso dos membros da Associação Cívica Pró-MLSTP sim, que, o pioneirismo e o trabalho desenvolvimento por esse punhado de jovens, jamais seja triturado pelo penacho da vaidade e do individualismo, tão em moda nos dias de hoje –
- Isto, porque, embora pequeno no momento da génese da sua formação, rapidamente haveria de se tornar galvanizante e mobilizador, junto da população de S.
Tomé e Príncipe.
UM BRAVO À ASSOCIAÇÃO CÍVICA PRÓ-MLSTP

– Bom, mas não é disso que eu agora venho falar mas da importância e do significado da Proclamação da Liga dos Combatentes da Liberdade da Pátria a 12 de Julho de 20015, que, tanto quanto depreendo, de algum modo, vem recuperar a memória - não só da Associação Cívica Pró-MLSTP, como a de todos aqueles que se baterem pela libertação e independência de S. Tomé e Príncipe
AS BOAS SEMENTES DÃO
SEMPRE BONS FRUTOS – O IMPORTANTE É QUE NÃO SEJAM PIZADAS OU MERGULHADAS PELO
ALASTRAR DAS ERVAS DANINHAS


Do seu programa, aprovado
na mesma data, de largo alcance mas sintetizado em cinco pontos fundamentais:
Independência
imediata e completa
Regime democrático,
anticolonialista e anti-imperialista
Reconstrução
económica
Política independente
e pacífica
5. Unidade Africana.

Os estatutos da
Associação Cívica foram aprovados na Assembleia desta organização, no dia 15 de
Agaoto de 1974, compostos por 34 artigos que Não tivemos o prazer e a hora de
assistir ao ato formal da assinatura da nova associação, de 25 pontos que definiam
a criação
Proclamação da Liga
dos Combatentes da Liberdade da Pátria a 12 de Julho de 20015.
Conquanto não tendo
tido o prazer e a honra, participar em tão significativa cerimónia, não quero porém
deixar de aqui deixar o registo, neste meu site, particularmente dedicado às odisseias
nos mares do sul – E a fundação da Liga
dos Combatentes da Liberdade da Pátria congrega as mais valorosas e belas
páginas das odisseias da Nação Santomense
Passo, pois, de
seguida a tomar a liberdade de aqui transcrever alguns passos da reportagem publicada
no Téla Nón
INTERVENÇÃO DE CARLOS
TINY NO ACTO DE PROCLAMAÇÃO DA LIGA DOS COMBATENTES DA LIBERDADE DA PÁTRIA A 12
JULHO 2015-07-08
O PAPEL DA ASSOCIAÇÃO CÍVICA PRO-MLSTP
NA LUTA PELA INDEPENDÊNCIA

Durante
esta semana e graças a um interessantíssimo trabalho passado na TVS, um
documentário/filme, pudemos ver expressas as mais diversas e por vezes
antagónicas opiniões sobre a “Cívica”. Se diversas e até mesmo contraditórias,
há um ponto comum a todas elas. É que todas, absolutamente todas reconhecem que
a Cívica existiu e jogou um papel que para a maioria foiimportante – se bem que … acrescentem muitas
vezes a sua avaliação própria a que não quero disputar legitimidade pois não me
parece importante nesta minha intervenção…
O
que fica claro é que a Cívica jogou um papel importante no processo de
libertação da pátria, em particular na sua última fase. Não há nenhum
protagonista dessa fase, nem mesmo testemunha, que ouse questionar esse facto.
Nisso estamos todos de acordo. Nessas diversas intervenções, as divergências,
quando existiram, eram quanto à natureza dessa intervenção e à sua, digamos
dimensão. Em todo o caso TODOS falaram da Cívica.
Fazendo
apelo a uma canção divulgada pelo popular cantor Godinho e pelo conjunto
Mindelo, digo citando:
“Tlaba kua bô guada kua bô antê dja cé,
Na
ligui kua ngê di mundu pê cabeça fa
Shi
bô ligui ê bô ka molê sê dja chiga…
Godinho
ê, legué inem flá
Shi a na fla ni bô fa
Sa punda bô na ska vivê fa…”
Assente
este ponto eu me questionaria nos seguintes termos:
O
que é que foi essa Instituição que para todas as pessoas que viveram essa época
(e não só) tão bem conheceram e conhecem, umas amando-a, outras desamando-as,
odiando mesmo como basta revisitar o documentário que acima mencionei?
Quero
chocar alguns de vós os presentes com a constatação que faço e justifico a
seguir:
Essa Instituição, que todos conheciam à época, é
hoje desconhecida, ignorada, incompreendida pela maioria da nossa população…
Choquei-vos?
Sim,
e repito a maioria da nossa
população desconhece essa instituição; a Cívica, que para alguns de
nós significa o ponto alto das nossas vidas, motivo de orgulho que transmitimos
aos nossos filhos e netos (pois é, já temos netos…) é hoje desconhecida
pela maioria da nossa população que lhe é completamente alheia.
Expliquemo-nos:

De acordo com o IV Recenseamento Geral da População e da Habitação de STP de 2012, a percentagem da população com menos de 40 anos representava nessa altura mais de 80% do total, mais precisamente 81,7%. Podemos portanto dizer com elevado grau de segurança, pois que não aconteceu nenhum cataclismo em STP desde essa altura e que pudesse ter modificado significativamente a estrutura demográfica da população santomense, podemos portanto estimar, dizia eu, que as crianças que nasceram no dia da independência ou melhor ainda desde a altura da independência representam mais de 80% da população
.
Se
a essa população juntarmos os 7,9 % que, segundo a mesmo fonte, era a
percentagem da população que tinha entre 40 e 49 anos, estamos a falar de gente
com menos de cinquenta anos que no total representariam cerca de 90% da
população santomense de hoje, ou se quisermos ser mais precisos, 89,6%.
Preciso
que estamos a falar dos santomenses que nasceram depois de 12 de Julho de 75 e
dos que nessa altura teriam menos de 10 anos; e junto esses últimos, os que
tinham menos de dez anos porquanto esses não tinham consciência de factos
políticos de que a Cívica era um…
Acho que seria, pois, aceitável dizer que para cerca de 90% da população a Cívica seria uma realidade muito “baça”… Sim, é que essa gente não vivenciou essa realidade, pouco ou nada leu sobre ela, até porque pouco ou muito pouco se escreveu sobre ela; a mesma não consta adequada e objectivamente dos manuais escolares e, é preciso dizê-lo, houve uma “Conspiração do silêncio”para “apagar” o nome da Cívica da história mais recente de São Tomé e Príncipe.
Vejam
os discursos oficiais, leiam ou revisitem as intervenções dos “grandes
líderes”… e contem as referências à Cívica… Das poucas vezes quando diretamente
questionados muito poucos falem dela, mas muitos dificilmente resistem esconder
as suas garras retrácteis…
Sim.
Houve sim um certa tergiversação
da realidade, uma manipulação
da história que
urge em definitivo contrariar senão mesmo denunciar.
Todavia,
meus caros, é preciso que o digamos e assumamos claramente que os principais culpados dessa falha somos
NÓS.
De
facto, o que é que nós, os que participamos
ativamente na Cívica, fizemos pela divulgação do seu ideário, das suas
atividades, composição e importância?
Muito
pouco, quase nada…
Com o nosso silêncio cúmplice chegamos até aqui…
É, pois, necessário que primeiro apontemos o dedo a
nós próprios e apenas depois a outros também.
Houve
tergiversação da realidade? Houve sim…
Houve
manipulação da história? Houve sim….
Houve
“Esquecimento”? Sim, houve….
Houve
silenciamento e apagamento? Sim, houve
Se
é verdade que houve de tudo isso, é também verdade que houve nesse período
pouco, muito pouco de NÓS…

Falar da Associação
Cívica, e antes do mais falar da longa e dura luta do povo santomense pela sua
liberdade e independência. Há pois que enquadra-la nesse contexto,
encontrar o seu lugar nessa luta, situa-la nesse contexto mais amplo da
história dessa luta histórica, no quadro da luta de Yon Gato e Amador, da ansia
dos trabalhadores contratados e forros nas roças contra os maus tratos, a
descriminação e exploração erigidas em regra de convivência social.
Não
retomarei nesta intervenção as gestas que eu chamaria de fundacionais de Yon
Gato e Amador porque de todos aqui felizmente conhecidas. Foram mencionados
aqui e no quadro dessa luta secular, reuniões e atividades de grupos
clandestinos, em particular de Alda do Espírito Santo, Guadalupe de Ceita,
Pires dos Santos – Ohnet, Gastão Torres, Quintero Aguiar, Pedro Gomes, Norberto
Costa Alegre (pai) a que nós carinhosamente chamávamos de “Velho Costa”,
Amílcar d’Alva, Pedro Rita Vaz de Alcântara, que se decidiram pela “organização”
da luta, dotando-a de uma “dimensão organizativa” mais propícia aos tempos
modernos, atividades que deram lugar à criação do CLSTP que em 12 de Julho de
1972 se transformaria no MLSTP que conduziria o processo até à independência a
12 de Julho de 1975, faz hoje precisamente 40 anos.
O
MLSTP, para além das estruturas dirigentes no exterior, tinha estruturas
internas aqui em STP animadas pelos “velhos combatentes” que mencionei acima
liderados pela Alda do Espírito Santo. – Mais pormenores em O papel da
Associação Cívica pro-MLSTP na luta pela .
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