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sábado, 16 de novembro de 2019

27ª dia no Golfo da Guiné numa piroga - Assei o tubarão com álcool... Deitei-lhe um bocado de álcool e realmente o processo resultou em pleno. Foi pena não me ter lembrado há mais tempo..

 Algures no Golfo da Guiné, 16 de Novembro de 1975 - Há 44 anos 

27º Dia - No mar nunca se podem fazer cálculos seguros!....Quem manda é o mar! ...É o vento!...São as correntes!...Essas forças é que determinam... Nada se pode fazer contra elas... A menos que se disponha de uma boa embarcação. .Caso contrário, é-se o que as correntes e os ventos quiserem e determinarem


A minha cozinha

Diário de Bordo - Assei o tubarão com álcool...Foi com um bocado de álcool. Deitei-lhe um bocado de álcool e realmente o processo resultou em pleno. Foi pena não me ter lembrado há mais tempo..


-É já manhã do 27º dia. Passei uma noite muito chuvosa! Quase sempre acordado!..para tirar água...Estou molhado, todo alagado!....Esta manhã está serena. O mar calmo. O céu praticamente descoberto. ...Já tive aqui a visita do perigoso tubarão que investiu logo contra a minha canoa! Dei-lhe uma machinada! e foi-se embora!...

Os ataques de perigosos tubarões gigantes, era uma constante  - O registo de um deles.




Diário de Bordo - Entretanto, já chegaram os martelos...Vejo aqui dois tubarões martelo e fiquei mais descansado. Para dar uma ideia do que o tubarão martelo, para já eu não tenho muito que dizer deles...Mas parecem autênticos jacarés! O aspeto deles é de autênticos jacarés pré-históricos!...Com um cabo de martelo na cabeça. No entanto, não parecem ser os mais perigosos! Pelo menos não têm investido....Andam aqui às voltas da canoa, nunca investiram contra a canoa. Os escuros é que realmente são mais perigosos!...


Vi,  a sudeste, contornos, muito ao longe!...Bastante afastados, a largas milhas daqui...Aliás, estou a ver novamente contornos de terra!...Mas eu penso que não devo estar muito longe. Porque, efetivamente, têm havido uma série de trovoadas e ventos dominantes a arrastarem-me para norte e nordeste....Tenho aqui água doce (das chuvas), Já não tenho é comida....Vou tentar pescar para comer qualquer coisa.

Devem ser aí umas 8 horas da manhã do 27º dia. Há uma calmaria absoluta!...Não há vento. O mar mantém-se sereno!...Praticamente sem ondulação nenhuma. O céu descoberto...Entretanto,  começa a sentir-se calor...Não sei até quando durará isto....
Diário de Bordo 3-Hoje apenas vi dois tubarões martelo...Realmente, tenho dificuldades em pescar. Há aqui uma espécie de peixes, a que eu chamo parasitas!...Estão aqui debaixo da canoa....Sempre à coca das conchazitas que nascem (no bojo e nos costados da canoa) e de qualquer coisa que ali nasça... Mal deito o anzol, vão logo comer a isca e não há maneira  de lá ficarem no anzol... Claro que o anzol é grande demais para eles. E comem-me a isca de uma maneira incrível
 
A LEMBRANÇA DOS ALIMENTOS (DAS CONSERVAS) QUE ATIREI BORDA FORA NAQUELA NOITE  TEMPESTUOSA (A PRIMEIRA) EM QUE FUI ATINGIDO POR UM VIOLENTO TORNADO, ERA AGORA A OBSESSIVA –  LEMBRANÇA DOS ALIMENTOS (DAS CONSERVAS) QUE ATIREI BORDO FORA

A 1ª noite do imenso pesadeo
Com a canoa alagada, devido a uma vaga que  a galgara, e, receando que se voltasse ou fosse ao fundo, alijei-me de muitas das minhas coisas – Umas por precipitação, outras arrastadas pela fúria da onda. Sim, estava agora à deriva sobre  um imenso lago. Pesava sobre mim e por toda a superfície do mar, que se estendia a perder vista, uma grande calmaria – Por algumas horas o mar era um imenso tapete sem uma ruga  Todavia, sem nada no estômago, a minha mente fervilhava de pensamentos...Se bem que, tal como mar, sob uma  grande serenidade.

Diário de Bordo 4 -
Âncora flutuante

Ah!... Quando me lembro que atirei a comida ao mar por precipitação. cocos, comida que agora me faz tanta falta!... fico realmente ... revoltado,  contra mim!... Não há dúvida nenhuma,  que,  uma pessoa , no mar nunca se deve precipitar...Deve manter sempre a serenidade... Pode vir a trovoada que vier!...O tornado que vier!.. As dificuldades que surgirem!...Nós, as pessoas que naufragarem, que  se sentirem em tais circunstâncias,  nunca se devem descontrolar!... Nunca se devem precipitar.... Por isso mesmo eu agora  tenho fome....Porque, naquela altura, em que surgiu a tempestade, eu precipitei-me um bocado....E também não esperava  demorar tanto tempo..
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No mar nunca se podem fazer cálculos seguros!...É impossível fazer cálculos seguros!...Quem manda é o mar!... É o vento!...São as correntes!...Essas forças é que determinam... Nada se pode fazer contra elas... A menos que se disponha de uma boa embarcação.... e um perfeito domínio da mesma. Caso contrário... é-se o que as correntes quiserem e os ventos quiserem e determinarem...



 O que mais me aborrece neste  momento....não é o isolamento!....Não é a solidão!...Não é este silêncio  absoluto.... que se respira em torno de mim... É pensar que, apesar de tudo, apesar de todas as contrariedades, eu podia fazer uma viagem mais agradável....se não me tivesse despojado de certas coisas que trazia...Inexplicavelmente!... Essa é a maior contrariedade...Digamos, o  maior aborrecimento que sinto neste momento...Não é a solidão!...Não, não é o isolamento que sinto em volta de mim... Nem as trovoadas que de noite me sacudiram!... Os relâmpagos que me cegavam ou o troar do ribombar do trovão, que me parecia fazer cair o negro e pesado tecto sobre mim!... Nem as chuvadas fortes! Nem o estar molhado!...Completamente num pingão!...Isso apesar de tudo não me impressionou tanto!... O que mais me desola neste momento ...é pensar  que apesar de tudo,  eu podia agora viver mais agradavelmente!...Um pouco melhor....Se  não me tivesse precipitado!...

 PARECE-LHE UM GRANDE  VELEIRO, NÃO É? - MAS É A MESMA AO LADO




Diário de Bordo 5 - Até agora o mar tem estado calmo...Começa a estar ligeiramente agitado!...Começa a sentir-se uma ligeira brisa também....Vou aproveitar para pôr  a vela, visto também já ter a impressão de ver lá longe, a nordeste, contornos de terra...Se assim for não estarei muito longe! E sou capaz de lá chegar hoje...Vou portanto fazer tudo por tudo para que isso aconteça.


Diário de Bordo 6 -Estou velejando com bastante dificuldade....Devem ser aí 3 de tarde...Há pouco tive a impressão de ter visto terra....Afinal de contas não vejo nada... e continuo a navegar com bastante dificuldade, devido haver bastante calema....Estou cheio de fome...Está um calor de matar!...É mesmo um calor bastante forte!...Sinto-me muito cansado.

Diário de Bordo 7 - Fim de tarde do 27ª dia. Pode dizer-se que já se pôs o sol. Pode dizer-se, que, em resumo, o dia esteve magnífico! Esteve uma manhã esplêndida!... E uma tarde também. De sol!... Houve calmaria. Depois o mar encrespou-se!...Agora não corre muito vento mas o mar está com bastante calema, o que não permitiu  que eu pudesse navegar muito tempo com a vela. E também por desequilibrar muito a canoa....Que tombaleia bastante...De qualquer modo pode dizer-se que o dia esteve bonito...
Como não tenho alimentos, já me utilizei do tubarão.... Acabei agora de comer um bife de tubarão... que consegui assar com um bocadinho de álcool....Estou satisfeito!...Tenho água das chuvas,  água doce.

Não vejo qualquer contorno de terra mas tenho um pressentimento que amanhã por todo o dia, devo aproximar-me... Aliás, já não deve tardar muito..


Diário de Bordo - Assei o tubarão com álcool...Foi com um bocado de álcool. Deitei-lhe um bocado de álcool e realmente o processo resultou em pleno. Foi pena não me ter lembrado há mais tempo....É capaz de chover esta noite...Não sei... Mas como está bastante vento pode não chover....Há formações de nuvens em todo o horizonte. Mas o céu a sul está limpo...De qualquer maneira, cá estaremos para o que der e vier.

Diário de Bordo 8 - Um pormenor curioso nesta tarde: li um bocado... Estive a ouvir música, deitado sobre o fundo da canoa, já que é a posição que melhor se pode ter,  que a  de pé...Eu estou muitas vezes  de pé mas é necessário um equilíbrio muito grande para não se cair ao mar...Pois a canoa balanceia  bastante...Está sempre a balancear... E é preciso cuidado.

Todas as noites vêm aqui a dormir à popa e à proa da canoa, duas aves, às vezes três, mas parece-me que são as mesmas...Uma branca e outra é preta.


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