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quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Odisseias no Golfo da Guiné . 18º Dia numa piroga - ILHA DO “DIABO” À VISTA - DO REINO DO TERROR DE FRANCISCO MACIAS NGUEMA – QUE ME ESFORCEI POR EVITAR, MAS NA QUAL APORTARIA 20 DIAS DEPOIS PARA PERDURAR O MEU CALVÁRIO NUMA SINISTRA CADEIA : "Durante a noite?... Estive praticamente sempre vigilante!.. Normalmente, nunca se dorme… Quer dizer, é como os gatos!."

Jorge Trabulo Marques  - Há 44 anos  -  7 de Novembro de 1975 - há 47 anos  - Algures perdido no imenso Golfo da Guiné 

"Não tenho água já.. Tenho ali um restinho  de água das chuvas, que é choca! É uma água mal saborosa!... Pus-lhe uns pós e umas coisas que me tinham dado  para fazer água doce... Demasiado doce!... Mas, pelo menos, mata a sede!... Que é o que me interessa, fundamentalmente, neste momento.

Um objeto curioso, que trago aqui comigo ao pescoço, é um apito: vou dar umas apitadelas ( e apito algumas vezes) – Quer dizer, que, se chegar junto de terra, se houver por ali gente, pode ser que me ouçam com estas apitadelaszitas!"


1 "Hoje perfaz 18 dias que ando na canoa São Tomé. Estou próximo da Ilha de Fernando Pó. Não tenho a menor dúvida. Encontro-me a Oeste. Vejo perfeitamente o perfil da Ilha. Estou a tentar tudo por tudo para não ir dar lá. Aliás, se pusesse a vela, o vento arrasta-me para lá , inevitavelmente. Arrasta-me para Este. As correntes puxam-me para lá. Prefiro ir dar à Nigéria ou a Duala, nos Camarões, de que ali na Ilha de Fernando Pó. Vejo lá um barco próximo: estou aí a quinze milhas, possivelmente

2- Esta noite passeia-a normalmente! Quer dizer, o mar muito agitado. Não choveu  mas bastante agitado!... Estive atento, inúmeras vezes!... Aliás, isso é rotineiro… para me aperceber da aproximação de algum barco ou para ver se estou próximo de terra: isso são trabalhos que eu tenho de fazer todas as noites!... 

Esta manhã pesquei mais um tubarão: é o terceiro que pesco! E, por acaso, é dos mais pesados!... Outros vieram e comeram a isca… Enfim!... Mas este foi pescado: é o terceiro que apanho com a maior das facilidades. Outros tubarões continuam aqui às voltas, às voltas!.... Logo de manhã cedo, apareceu aqui um gigantesco!.. Ainda tentei até afastá-lo com um pau mas, pouco depois ele desapareceu daqui!...


Portanto, estou próximo de terra. A ilha está, ali, perfeitamente à minha  frente. Punha a vela e depressa ia dar lá.  Sei que a distância desta ilha ao continente africano não é muita. Portanto, prefiro dar lá a terra, à costa africana!

Largado em Ano Bom
Pois, mas esta minha hesitação, haveria de me custar os piores momentos. E não me custou a própria vida por um sortilégio dos bafejados da sorte ou protegidos por graça divina.  Porque, a partir daqui, começaria a entrar na fase mais dura e aflitiva de um náufrago. O meu estado físico, que já era mau, haveria de ser bem pior. 

Num dos próximos dias, faltar-me-ia a comida, já que, quanto à água potável, essa já se me tinha esgotado, tendo passado a beber a água das chuvas.Pois, só 20 dias depois, já em plena noite, vendo um enorme vulto de perto, decidi pegar no tosco remo improvisado (sim, porque o remo que o pescador me deixou, esse foi arrastado por uma vaga, na noite em que fui surpreendido por um violento tornado), pelo que, recorrendo às  forças que me restavam, e,  sem saber que me dirigia para a Ilha do Terror,  para lá apontei a proa da canoa, tendo ali ficado fundeada até ao meio da manhã do dia seguinte, ou seja do 38ª dia.  

Finalmente, a  minha boa estrelinha haveria de me  conduzir  a um tranquilo recanto, longe, todavia, de imaginar os tormentos que me haveriam de esperar nos dias em que estive preso numa das celas da tenebrosa prisão, onde, geralmente, quem entrava vivo, saía de lá cadáver, herança da colonização espanhola - Sim, nesses dias, mas sobretudo á noite, pude testemunhar os gritos lancinantes das torturas e execuções. 

Esta zona do Golfo da Guiné, por onde fui balanceado para todos os quadrantes,  conhecida pela Baía ou Golfo do Biafra, que a Nigéria batizou de como "bight of Bonny", ou "golfo de Bonny, depois da guerra do Biafra, é uma área, bastante turbulenta e pluviosa, onde desagua o Rio  Níger, o terceiro rio mais longo da África (depois do Nilo e do Congo, com cerca de 4 180 quilómetros de comprimento e uma bacia hidrográfica de aproximadamente 2 200 000 quilómetros quadrados. Atravessa seis países: Guiné, Mali, Níger, Benim e Nigéria, cujo leito contribui para moldar o clima, quer por onde passa, quer no vasto estuário onde vai desaguar. 



3 – A força da corrente é realmente curiosa: devem ser aí umas 10 horas da manhã do dia do 18ª dia. Elas estão a descrever trajetórias muito curiosas. A principio, tudo levava a crer que ia parar à Nigéria. Agora, está a aproximar-se para Leste: que tanto me pode levar a Fernando Pó, como aos Camarões, ou, então como há outra corrente de Sul para Norte, me levar para a Nigéria. É realmente interessante constatar  as curvaturas, as linhas que as correntes descrevem!.... Uma força invisível mas que se sente e que ninguém a pode contrariar!


Às vezes, as vagas, parecem vir de um lado, mas não! A corrente é outra! A corrente é uma força  quase invisível!.. Na maior parte das vezes, nota-se pelas ondas; outras vezes não… Como agora: as ondas têm um sentido e a corrente tem outro!... As ondas têm o sentido do vento, mas o vento não está, realmente, no sentido das correntes!...

E  em  que haveria eu de me entreter? senão olhar atentamente para os efeitos curiosos das correntes, a tal ponto, que, às tantas, até ficava sem saber para onde, de facto, me levariam.
Uma coisa, porém, era absolutamente certa: desprezava a extraordinária oportunidade , que, inesperadamente, se me havia deparado para alcançar terra firme e me livrar deste tormentoso refrigero, de luta pela sobrevivência e de uma vida contemplativa, para que descambara, que só me entretinha mas não me levava a parte alguma!...

 Bom, mas que poderia também eu fazer, se nem sempre o vento me possibilitava navegar?! … Embora, muitas vezes o fizesse, mas sabe Deus a que custo, por falta de remo adequado ou excesso de ventania ou de podres calmarias. .

É verdade que nem sempre me apetecia quebrar o mutismo do meu silêncio e pegar no gravador, que guardava, religiosamente, com a máquina fotográfica, no meu modesto baú: um simples contentor do lixo, de plástico: mas era única forma de registar a minha vida a bordo: era jornalista e tinha a noção da importância de um registo gravado: até foi o meu amigo alemão, Dr. Kraun, que me sugeriu este recurso, dizendo-me. que, quando chegasse ao Brasil, tinha o livro escrito.  - Sim, porque era este o objetivo da minha aventura, fazer a travessia  do Oceano Atlântico, através da corrente equatorial, evocando a rota da escravatura, perseguindo a experiência de  Alain Bombard  

E, naturalmente, além de questões do foro espiritual, reforçando a minha teoria de que as primitivas canoas, podiam  fazer longas travessias, tal como fizeram no povoamento das ilhas do Pacifico, e. portanto,  terem sido os povos das costas marítimas do continente africano, os primeiros seres humanos a  povoarem as ilhas de Ano Bom, São Tomé e Príncipe, já que, quanto ao povoamento de Fernando Pó, atual Ilha de Bioko, nunca a colonização pôs em causa que não fosse habitada, antes dos portugueses, ali terem aportado, até pela sua relativa proximidade do continente africano - 


Alguma vez teriam forças para nadar até à costa?
Nas outras ilhas, haveria menos gente, e, com certeza que não estariam dispostos a mostrarem-se ou a receberem de braços abertos,  os invasores, ainda para mais, vindos em embarcações, muito diferentes das suas modestas pirogas, com outras roupagens e  que nem sequer eram da mesma cor.

Claro que, só mais tarde, lhe haveriam de mover ferozes perseguições, tal como é relatado, na historiografia colonial  mas a pretexto de que eram escravos de um hipotético naufrágio 

Sim, seria mesmo possível que, uns pobres desgraçados, magros e mal alimentados, porventura acorrentados, como animais em fétidos e sufocantes porões, ainda tivessem resistência  para se livrarem das algemas e depois fazerem-se ao mar a nado?!...  Num mar infestado de perigosos tubarões?!... - Balelas ficcionistas de se impor a colonização, como direito consumado, legitimado  e terra de ninguém. 


 E, tal como registei no pequeno gravador, lá estava eu com as minhas cogitações: 

4 -“As conjeturas, que eu posso fazer, neste momento, são praticamente nenhumas!.. Quer dizer: tanto posso ir dar a Fernando Pó, que tenho ali ao meu lado esquerdo (bombordo)  a esta ilha, como ultrapassá-la pela parte Norte e convergir para Leste para os Camarões…. Ou então seguir uma linha para Norte e ir dar à Nigéria.

Neste momento, enfim, limito-me  a acomodar-me… Apenas o que tenho que fazer, já não consigo… Ontem, por acaso, consegui navegar um bocado  com auxilio de um remo que improvisei, mas, efetivamente, não adiantei nada.

Exibindo um dos troféus
Esta manhã, pesquei já um tubarão, como disse, e já fui outra vez investido por outro: já houve um que deu aqui umas rabanadas no lado da canoa. Um tubarão realmente gigantesco!...Enfim, preciso de ter muita atenção!... Eles andam aqui de um lado para o outro!... Tubarões azuis! Tubarões martelo!... Tubarões de toda a espécie!... Peixes de todas as variedades!... Enfim, vamos lá a ver!... Já que a canoa tem aguentado até agora, pode ser que aguente mais algum tempo!... Espero que sim. Porque ela é resistente! Está é mal feita. Não está bem equilibrada: tombaleia mais para um lado de que para o outro!...


Enfim… Durante a noite?... Estive praticamente sempre vigilante!.. Normalmente, nunca se dorme… Quer dizer, é como os gatos!... A gente, â mínima coisa acorda: para reparar isto ou para tapar aquilo, sempre atento!... Portanto, são praticamente 18 dias de vigília!... Neste momento, enfim, eu estou próximo de terra! Mas, efetivamente, ainda estou à mercê das correntes


AS PODRES CALMARIAS, CHEGAVAM A SER MAIS DESESPERANTES DO QUE OS TORNADOS – ESTES AINDA ARRASTAVAM A CANOA PARA QUALQUER PONTO - NAS CALMARIAS, COM O SOL DO EQUADOR A PINO E O MAR TRANSFORMADO NUM IMENSO AÇUDE, SEM  A MENOR BRISA E SEM ÁGUA POTÁVEL, ERA MESMO DE ENLOUQUECER.




E, como não há vento nenhum, como não posso navegar  neste momento, o que é que eu vou fazer?!...Oh!... Vou-me deitar  no fundo da canoa, ouvir rádio, mais nada!...

Não tenho água já.. Tenho ali um restinho  de água das chuvas, que é choca! É uma água mal saborosa!... Pus-lhe uns pós e umas coisas que me tinham dado  para fazer água doce... Demasiado doce!... Mas, pelo menos, mata a sede!... Que é o que me interessa, fundamentalmente, neste momento.

Um objeto curioso, que trago aqui comigo ao pescoço, é um apito: vou dar umas apitadelas ( e apito algumas vezes) – Quer dizer, que, se chegar junto de terra, se houver por ali gente, pode ser que me ouçam com estas apitadelaszitas!

 VIOLENTO TORNADO AFASTA-ME PARA LONGE DA ILHA DE FERNANDO PÓ
Entretanto,  ainda no decorrer deste mesmo dia, haveria de ser surpreendido por um forte tornado , que me balancearia  para muito longe dali, pelo que, as possibilidade de poder, agora, alcançar Fernando Pó, pareciam-me já remotas: o vento e o mar, estas forças da natureza,  levar-me-iam para umas tantas milhas daquela zona, talvez para se divertirem um pouco da minha teimosia, em não querer dirigir-me para aquela ilha: porventura para me fazerem avaliar melhor a gravidade da situação.

Contudo, as hipóteses, de mais tarde ali vir acostar, ainda continuavam a existir, como viria a confirmar ao 38ºdia. Pois, conforme me levavam para mais longe, voltar-me-iam arrastar de novo para mais perto: porem, isso ainda  era completamente desconhecido para mim. Por agora, era o maldito tornado, que, além de me ter arrastado para bem mais longe, me pregara alguns sustos e despertado novas reflexões:

Dizia eu para o gravador: 

5- É extremamente  difícil fazer  previsões no mar!... Principalmente, quando se anda à deriva!.... Há bocado, encontrava-me relativamente próximo da Ilha de Fernando Pó!... Pois, de um momento para o outro, fui atirado  por um violento temporal e já me encontro  noutra posição: portanto, fora de qualquer possibilidade, penso eu, de chegar lá!... A menos que surja outro tornado!... Este tornado aproximou-me mais para Norte, noroeste… Julgo, por conseguinte, que neste momento, já esteja mais próximo da costa africana.
Foi um tornado violentíssimo!... Ainda se continuam a sentir os efeitos: ondas alterosas! O mar muito cavado e ameaçador!... De um instante +ara o outro eu fui atirado de uma posição para outro ponto: numa distância de 20 a 30 milhas, pelo menos!
É realmente curioso este aspeto! Mas ao mesmo tempo tenho tido muita sorte! Algo está comigo que me leva a bom destino, quando não, eu já tinha desaparecido!

MAIS UM BARCO QUE SEGUIU O SEU RUMO – A CANOA ERA UM MADEIRO COMO OUTRO QUALQUER  - IGUAL A TANTAS TORAS QUE ANDAVAM À DERIVA E NÃO PRODUZIAM QUALQUER SINAL NO RADAR OU ENTÃO NÃO LIGAVAM – Para justificar a deceção, que me cavava a alma, eu arranjava sempre uma explicação, que mais não fosse para que o sentimento de abandono, não fosse maior.
Vi um barco!... O barco viu-me perfeitamente!... Mas, o barco, também devia ter as suas dificuldades…. Não sei se me viram as pessoas, que lá iam dentro!.. Eu viu-o, nitidamente. Devia estar aí a umas duas ou três milhas:  de qualquer maneira, mais uma vez, um barco passou indiferente a mim!..".

Há umas horas atrás estive prestes a desaparecer; agora novamente me encontro a falar para o meu gravador. Fico com a sensação de que é realmente bem frágil a minha existência!... De um segundo para o outro, vejo que posso ser envolvido de uma vez para sempre, no remoinho vertiginoso de uma vaga!... Eis porque, até quase sinto, perdido o instinto de conservação!... Já pouco me importo que o mar me arrebanhe na sua voragem ou não. Apodera-se de mim uma grande indiferença, como nunca. A passagem do próprio barco, veio-me reforçar esse espírito: o barco viu-me e não veio à fala comigo!


Aquele corpo gigante, não era uma simples estrutura de metal; ele sim, pareceu-me, de facto, ter muita vida!... Eu, em relação a ele, era para ali  um ponto balouçando, desordenadamente,  sem importância!... No entanto, mesmo assim, reparei que eu ia tendo talvez menos dificuldades  que ele: as ondas pulverizavam-no completamente! Quebravam-se em fúria sobre a sua quilha  e galvanizavam-no em montes de espuma pelo convés!...

Dir-se-ia que já não era um corpo escuro mas uma mancha branca que tentava caminhar ofegante e atabalhoadamente  pela superfície do oceano: o vento assobiava por todos os lados, produzindo um murmúrio  persistente e endemoninhado, confundindo-se com o ruído da chuva  e o rugido da água: um verdadeiro pandemónio!... O horizonte, limitadíssimo!... Sobre o mar, pairava  um espesso véu de neblina, tal a quantidade da chuva sobre aquela vasta área –


A atmosfera, toda ela se desfazia em humidade e água. A única coisa que descobria à minha volta e distintamente, eram as vagas ameaçadoras, que se se precipitavam  em alturas descomunais: uma vinham mesmo rebentar furiosamente  à popa, à proa ou ao meio  do costado da canoa, atingindo-a e vergastando-a, mais das vezes, em cheio e colocando em risco a minha vida. Nunca sabia, quando a despedaçariam por completo.

No entanto, eu, embora completamente encharcado até aos ossos, mal tinha tempo de medir o seu perigo!... De vez em quando, ainda lhe deitava uma olhadela de soslaio, como que para me certificar de quando  poderiam, finalmente, se aquietarem. Mas continuava a chover torrencialmente.  não se via um palmo à minha frente!  O fundo da canoa enchia-se de água, por mais que me dobrasse com o vertedouro. Até que, por fim,  como que por inesperada magia, tudo se abria em meu redor numa espécie de murmúrio lamuriento. Sim, e me sobra tempo para fazer o ponto da situação

6 – Estou a vislumbrar contornos da Ilha de Fernando Pó. Agora ficou completamente descoberta. Tem lá uns picos curiosos, altos!... Talvez mais atos dos que os de S. Tomé!... Mas já estou noutra posição, noutro ponto!....Neste ponto é difícil as correntes encaminharem-me para lá. Creio que não. A menos que surja um tornado que me arraste para lá!... Agora, estou em crer que vou para os Camarões ou para a Nigéria!… Esperemos…
Mais tarde, e à medida que a tarde avançava, notava, porém, que uma corrente qualquer me ia puxando diretamente em direção à Ilha de Fernando Pó: seria, talvez, um braço da fortíssima corrente, vinda do Oeste do Atlântico,  que vai convergir e diluir-se  com o  braço da corrente vinda do Hemisfério Sul.  Estava, pois, na convergência dessas duas poderosas correntes, razão pela qual iria enfrentar as maiores dificuldades e sofrimentos  de toda a inha permanências nestas turbulentas águas 


A costa de África ainda continua misteriosa. Ainda não se descortina nada!... Não deve estar longe, mas só amanhã é que a poderei visitar, se entretanto a viagem decorrer normalmente... Não está a chover mas o mar continua bastante agitado e a dificultar-me!... Quer dizer... favorece, favorece o andamento da canoa. Imprime-lhe outra velocidade, tem essa vantagem.... Mas, francamente, é penoso! é penoso viajar assim!... Porque é necessária uma vigilância constante a cada vaga, para controlar os movimentos da canoa. Às vezes há vagas que chegam a galgá-la e molhar-me completamente.
 

ESTE DIÁRIO SÓ FOI POSSÍVEL GRAÇAS À TRANSCRIÇÃO DO REGISTO NUM PEQUENO GRAVADOR - QUE PUDE RESGUARDAR DO MAR NO CAIXOTE DE PLÁSTICO, QUE SE SE VÊ NA IMAGEM - IGUAL AOS DO LIXO

 Diário de Bordo  7 – Esta tarde, tive umas lutas com uns tubarões, que andavam aqui em volta!... A um gigante, que andava aqui a ameaçar-me, consegui dar-lhe umas machinadelas e já acabou por fugir.... Realmente, só visto!... A figura que eu fazia aqui, sozinho, neste vasto oceano, lutando, enfim, pela minha sobrevivência...

Se me perguntassem, ao ver assim o mar  e eu estivesse em terra, se eu iria?... Não!!... Não me sentia com coragem!... Mas, estando eu no mar, sim, sinto coragem para o enfrentar! O mesmo aconteceria se estivesse  num paquete, como aquele, que há bocado vi!... Também se me dissessem  se queria ir numa canoa, em tais condições de mar, não aceitaria. Mas eu acabei por me resignar e tenho enfrentado a fúria do mar e do vento!...

Diário de Bordo  8 – As aves continuam aqui  sempre à minha frente, não sei porquê.... É curioso este aspeto!... Sempre aves, desde há quatro dias que vejo as aves aqui à minha frente....Os peixes, há momentos em que eles desaparecem. Se calhar são os tubarões que os afugentam. Mas normalmente andam  sempre aqui em volta... Até há uma qualidade de peixes que acabou por me tirar todas as conchazinhas que já tinham nascido no costado da própria canoa. Fizeram uma limpeza radical. Ainda bem - (eram as rêmoras, peixes parasitas, com a sua ventosa na cabeça, que se colam aos tubarões ou no costado das embarcações e que acabariam também por me devorar todos os anzóis e iscas e nunca lá ficavam, pois os seus dentes são talvez mais afiados de que os dos ratos ou dos coelhos)

Diário de Bordo  9 – A noite está-se aproximar. Vai ser uma noite mais escura, com certeza. Não obstante, já estarmos com a lua em quarto crescente.





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